Pesquisa demonstra que falta de políticas públicas na pandemia prejudicou a Educação Básica

Uma pesquisa interinstitucional analisou a realidade da rede pública de ensino do Distrito Federal no ano de 2020 e constatou que a má-gestão pública da pandemia da covid-19 prejudicou a Educação Básica. Realizada pelo Observatório da Educação Básica da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (ObsEB/UnB) e com o título “Educação básica pública do Distrito Federal em tempos da pandemia da covid-19 – Experiências de 2020”, o estudo mostra que houve intensificação do trabalho dos(as) gestores(as), que desenvolveram atividades remotamente por mais de 10 horas diárias.

Os dados levantados por meio de questionários, detectaram também que as iniciativas dos(as) gestores(as) demonstram protagonismo na criação das condições materiais e tecnológicas para que o ensino remoto fosse viabilizado. Além disso, a pesquisa identificou o nível de conhecimento de tecnologias digitais e da tecnologia como linguagem, pelos participantes do estudo.

O levantamento mostra que 8,3% dos(as) entrevistados declararam que não tinham nenhum conhecimento; 39,1% tinham bom conhecimento; e, 4,2%, consideraram que tinham excelente conhecimento. As ações de formação continuada de professores(as), promovidas pela Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (EAPE/SEE-DF), foi a referência mais forte para 71,4% dos que buscaram conhecimentos para reorganizar o trabalho pedagógico no ensino remoto.

Uma das coordenadoras do estudo e professora da Faculdade de Educação da UnB (FE-UnB), Edileuza Fernandes Silva destaca que, “mesmo diante de todo o empenho e trabalho de docentes, gestores(as) e demais profissionais das escolas, o ensino remoto apresentou limites ao trabalho pedagógico: carência de equipamentos; desconhecimento das famílias para usarem as plataformas digitais; desatenção dos(as) estudantes com o ensino remoto; baixa participação dos(as) estudantes no processo pedagógico; conexão à Internet de baixa qualidade; adoecimento físico e emocional, e dificuldades familiares e financeiras”.

Ela explica que o interesse por uma pesquisa sobre o impacto da pandemia da covid-19 na Educação Básica surgiu pela constatação da ausência de estudos sobre o tema em períodos pandêmicos. “Fizemos buscas de estudos sobre o campo da educação em outros períodos pandêmicos na história brasileira, como a gripe espanhola, e não encontramos pesquisas. A educação foi e ainda é um dos campos muito afetados com a pandemia de covid-19, por isso o interesse de professores que integram o Observatório da Educação Básica da Faculdade de Educação/Universidade de Brasília em compreender a gestão e o trabalho pedagógico de escolas públicas no período pandêmico em escolas públicas do Distrito Federal”.

Participaram da pesquisa 248 profissionais da educação, entre diretores(as), vice-diretores(as), supervisores(as), professores(as) de sala de aula, professores(as) de sala de recursos e/ou equipe de apoio à aprendizagem, coordenadores(as) pedagógicos(as) atuantes em escolas, coordenadores(as) pedagógicos(as) atuantes em Coordenações Regionais de Ensino (CREs) e a sede da Secretaria de Educação e  orientadores educacionais.

Má-gestão pública

O estudo mostra que, ao seguir as orientações do governo Jair Bolsonaro (PL), o Governo do Distrito Federal (GDF) cometeu vários erros de gestão que prejudicaram a Educação pública. O estudo mostra que, apesar do Decreto Distrital nº 41.882, de 8 março 2021, em que o GDF declarou estado de calamidade pública no âmbito da saúde no Distrito Federal em decorrência do novo coronavírus SARS-COV-2 e orientou o isolamento físico, o uso de máscaras de proteção e a suspensão das aulas em escolas e universidades públicas e privadas, sem compreender a dimensão da pandemia, retomou as atividades escolares com o uso das plataformas Google Classroon, Teams, Meet e Skype em uma transposição das atividades presenciais para on-line.

Segundo Edileuza Fernandes, “num primeiro momento, as condições materiais e tecnológicas reais para dar continuidade às aulas foram comprometidas, tornando visíveis a insuficiência da internet banda larga em escolas públicas. Compete ao Estado prover escolas das condições para garantir o direito dos estudantes à educação. Essas condições poderiam ter sido mais efetivas”.

Ausência de investimento público

A “ausência” de políticas públicas apropriadas por parte do Estado afetou a educação como um todo. A pesquisa identificou que o ensino remoto pode ter aumentado o nível de sofrimento mental manifestado por professores(as), gestores(as) e estudantes e, ao mesmo tempo, foi baixa a incidência de programas de acolhimento e de saúde mental nas escolas. O adoecimento foi agravado pelo uso diário das tecnologias que desencadearam ansiedade, depressão, problemas oftalmológicos, estresse etc.

“Os resultados da pesquisa, além de evidenciarem as mazelas e dificuldades já existentes na escola pública, agravadas no período pandêmico analisado (2021), apontam para a urgência de investimentos imediatos em políticas públicas na área das tecnologias voltadas para a Educação Básica e em inclusão tecnológica e digital para as escolas públicas”, explica a professora.

A pesquisa foi coordenada por Ana Sheila Fernandes Costa, Edileuza Fernandes Silva, Maria Abádia da Silva, todas professoras da Faculdade de Educação da UnB, coordenadoras do Observatório de Educação Básica da FE-UnB.

Clique aqui e acesse o relatório técnico da pesquisa “Educação básica pública do Distrito Federal em tempos da pandemia de covid-19 – Experiências de 2020”

Ou acesse pelo site do Observatório da Educação Básica da FE-UnB.

MATÉRIA EM LIBRAS