Parceria entre CED 08 e UnB busca ampliar presença feminina nas Engenharias

Hoje em dia, muitos mitos fomentados pela construção social de gêneros foram derrubados. A anacrônica ideia de que “menina veste rosa e menino veste azul”, que traz em si a determinação de lugares sociais que hierarquizam homens e mulheres em favor dos primeiros, faz bem pouco sentido para a realidade atual de meninos e meninas. E, gostem Bolsonaro e Damares ou não, esse processo é irreversível.

O mote “lugar de mulher é onde ela quiser” vem modificando as estruturas que buscam engessar papéis, reservando às mulheres um lugar de subordinação e determinando que cabem a elas as tarefas domésticas e de cuidados com crianças, idosos e pessoas doentes. Hoje, cada vez mais, as mulheres podem ser professoras, administradoras, enfermeiras, médicas e engenheiras. Mas ainda há muitas barreiras a serem derrubadas para que haja acesso igualitário entre homens e mulheres às diversas carreiras.

Caminhando nessa direção, o projeto “Elas na Engenharia”, promovido por uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e o CED 08 do Gama, procura apresentar as carreiras das ciências exatas, em especial, a Engenharia, como uma possibilidade aberta para as mulheres. Assim, o projeto visa a aumentar o número de mulheres nos cursos de graduação em Engenharia.

Mulheres em todos os espaços

Em 2019, das treze faculdades da UnB que ofertam habilitações dentro desta grande área, a quantidade de mulheres só era maior em cinco. A Faculdade do Gama (FGA), onde só existem cursos de Engenharia, é a que apresentava a maior disparidade: o número de homens matriculados é quase quatro vezes maior.

E essa está longe de ser uma realidade somente de Brasília. No mesmo ano, a Escola Politécnica da USP (Poli) registrou 4.044 estudantes homens e 946 mulheres. A Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, também no interior paulista, tinha 2.318 homens e 551 mulheres.

Segundo a diretora do CED 08, professora Eufrázia de Souza Rosa, uma das riquezas do projeto “Elas na Engenharia” consiste em promover a interação entre a comunidade escolar e a universidade. Outra é justamente o objetivo do projeto: aumentar a quantidade de mulheres nos cursos de Engenharia.

                                                         Participantes do projeto. Fotos: Profa. Mônica França

O projeto

Mônica França, professora de Química do CED 08 e integrante do projeto, conta que ele existe com esse nome e esse caráter desde 2015. “A pandemia ocasionou uma pausa, mas retomamos os trabalhos em abril deste ano”, diz ela. “A atual monitora, estudante de Engenharia na UnB, é nossa ex-aluna”, afirma, indicando os frutos que vêm sendo colhidos.

A universidade oferece três bolsas de iniciação científica e disponibiliza uma verba para manutenção e melhorias no laboratório da escola. Além das três bolsistas, mais oito alunas frequentam o projeto. A professora Rosiany de Vasconcelos Vieira Lopes, mestra em Engenharia Química, doutora em Química e coordenadora do projeto, ministra palestras e também são oferecidas visitas à universidade e seus laboratórios. Concomitantemente, a professora Mônica apresenta uma revisão dos conteúdos das ciências exatas no ensino médio: “Com todas essas ações, procuramos desmitificar o medo das exatas e mostrar que ali há muito espaço para as mulheres se realizarem profissionalmente e desenvolver belos trabalhos”, diz ela.

Embora a pandemia tenha causado transtornos e atrasos ao desenvolvimento do projeto, ele segue firme e a expectativa é de que esteja próxima a retomada das visitas presenciais à UnB. “Com ‘Elas na Engenharia’, o CED 08 fortalece lutas importantes da categoria”, afirma Letícia Montandon, diretora do Sinpro responsável por acompanhar a escola. “O projeto traz a universidade para dentro da escola numa região periférica, onde isso faz ainda mais diferença, e contribui para quebrar paradigmas, inserindo as mulheres num espaço do qual elas foram historicamente excluídas”, finaliza.

 
 

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