Para Sinpro, grave cenário sanitário ameaça retorno presencial às aulas

A poucos dias do início das aulas nas escolas públicas do DF, aumenta a preocupação da comunidade escolar diante do avanço exponencial de casos de Covid-19, impulsionado pela variante Ômicron. UTIs – inclusive as pediátricas – lotadas, profissionais de saúde afastados, laboratórios sem dar conta da demanda de testes. Pessoas morrendo. Tudo isso escancara que ainda não é hora de retornar presencialmente às salas de aula.

De acordo com o calendário escolar apresentado pela Secretaria de Educação do DF, o início do ano letivo de 2022 está agendado para 14 de fevereiro. Considerando que o feriado de carnaval começa no dia 28 do mesmo mês, fevereiro agrupa apenas dez dias letivos.

Com isso, o mais prudente, na avaliação do Sinpro-DF, é adiar o início das aulas presenciais para março, com nova avaliação do cenário do DF no começo desse mês. Isso não quer dizer que os dez dias letivos de fevereiro ficariam perdidos, já que a proposta inclui a realização de ensino remoto neste período.

Temos ciência de que, nem de longe, o ensino remoto é o mais apropriado para o processo de ensino aprendizado. Isso porque são várias as barreiras impostas, sobretudo, aos estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. Entretanto, o ensino remoto foi a única saída apresentada à comunidade escolar diante dos chocantes números de mortes e casos graves causados pela Covid-19 no primeiro semestre de 2021.

Durante mais de um ano, com esforços hercúleos diante da carência de políticas públicas para a educação, a categoria do magistério público, estudantes e familiares garantiram que o ensino remoto fosse aplicado, evitando que mais de 440 mil alunos da rede pública ficassem sem o acesso ao direito humano à educação. Agora, diante do novo cenário que se apresenta, urge a necessidade de retomar esse modelo.

A pauta do Sinpro não está alheia à realidade e à necessidade do momento. Somente nessa terça-feira (25/01), a Secretaria de Saúde do DF registrou 10.697 novos casos de Covid-19: o maior número desde o início da pandemia, em março de 2020. A taxa de transmissão (RT) está em 1,87, o que quer dizer que 100 pessoas com o vírus infectam outras 187. O RT acima de 1 indica alerta de descontrole da pandemia.

Ainda segundo dados da Secretaria de Saúde, os leitos públicos das UTIs – que teve lotação de 100% por dias – está com quase 92% de ocupação; e nas UTIs neonatais, a ocupação é de pelo menos 50%.

Preocupados com o cenário, cientistas também se posicionam contra o retorno presencial às aulas. É o caso do neurocientista Miguel Nicolelis, conhecido pelas previsões acertadas sobre a pandemia. “Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda, elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”, criticou em matéria publicada pelo portal Metrópoles.

Segundo estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, apontado em matéria da Folha de São Paulo, quatro em dez crianças sofrem efeitos prolongados da Covid-19 três meses após a infecção. Entre os problemas mais sérios, estão a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e a diabetes.

O que é pleiteado pelo Sinpro-DF já foi aplicado em outros lugares do Brasil. Diante do cenário gravíssimo, governadores e prefeitos já anunciaram o adiamento das aulas presenciais nas escolas de seus estados e cidades. Entre eles, os estados do Amazonas, Tocantins e Alagoas (escola Sesi), e as cidades Belo Horizonte (MG) e Belém (PA).

É fato que, diante do crescimento do número de pessoas vacinadas contra a Covid-19 e da menor letalidade da variante Ômicron, o número de óbitos é muito menor que o registrado no primeiro semestre de 2021. Entretanto, com a superlotação do sistema de saúde, casos que poderiam ser resolvidos com tranquilidade podem avançar diante da impossibilidade de atendimento médico. E não podemos nos esquecer de que, embora (e felizmente) os números dos óbitos sejam menores, ainda há pessoas morrendo por causa do vírus.

É essencial ainda lembrar que, até o dia 24 de janeiro, apenas 12,09% das crianças do Distrito Federal foram vacinadas contra a Covid-19. Na capital federal, a campanha de vacinação infantil teve início no último dia 16 de janeiro. Ao todo, o DF tem 268,2 mil crianças de 5 a 11 anos.

A exposição até aqui feita comprova que o adiamento das aulas presenciais nas escolas públicas do DF é urgente e tem potencial para frear os casos de Covid-19, evitando que pessoas se exponham ao vírus e dando tempo para que mais crianças – principal público das nossas escolas – sejam imunizadas.

O Sinpro-DF já apresentou à Secretaria de Educação a necessidade de debater sobre o assunto. Uma reunião com a secretária da pasta, Hélvia Paranaguá, chegou a ser agendada, mas foi cancelada. Ainda não foi apresentada ao Sindicato uma nova data para o encontro.

Preservar vidas deve ser uma ação inegociável. E é com essa responsabilidade que o Sinpro-DF vem atuando desde o início da pandemia da Covid-19.

Diretoria Colegiada do Sinpro-DF

MATÉRIA EM LIBRAS