Pais e mães de estudantes só enviam filhos às escolas após a pandemia

A maior parte dos pais, mães e responsáveis por estudantes da rede pública de ensino não vão enviar seus filhos(as) às aulas presenciais enquanto a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, estiver em crescimento no Distrito Federal. A pesquisa do Sinpro-DF sobre a volta às aulas na pandemia mediu esse grau de preocupação e revelou que 86,73% dos entrevistados disseram que não enviariam seus filhos para as atividades presenciais antes da contaminação reduzir.

Nesta quinta matéria da série “Exclusão educacional no DF”, a pesquisa de opinião do Sinpro-DF, feita por livre adesão, entre os dias 21 e 31 de maio, com pais, mães e responsáveis por estudantes da escola pública do Distrito Federal mostram dados sobre a volta às aulas presenciais. O questionário com 14 perguntas foi disponibilizado no site da entidade e contou com dez mil respostas espontâneas completas. O posicionamento dos(as) entrevistados(as) que não enviariam seus filhos(as) à escola é justificada pela característica das famílias.

Quando perguntados se o(a) filho(a) ou alguém da casa faz parte do grupo de risco, 68,30% responderam que sim.  Quando perguntados se enviariam os(as) filhos(as) para aulas presenciais a partir do dia 15 de junho, 87,90% disseram que não. Essa foi a data colocada na pesquisa para representar a ideia de retorno imediato, antes do pico da pandemia no DF.

Quando perguntados qual seria o melhor momento de início de retorno dos estudantes à escola, 69,53% respondeu que seria quando o contágio estivesse controlado, sem uma data determinada. Outros 17,60% acredita que é possível retornar em agosto. O conjunto dos dados revelam que pais, mães e responsáveis estão decididos a não ter a escola como um vetor de contaminação.

“Portanto, podemos concluir que a tentativa do GDF de um retorno das atividades escolares presenciais antes da contaminação começar a diminuir poderia motivar nas famílias dos estudantes um boicote ao retorno sem segurança. O que pode ser confirmado nos espaços de comentários de nossas redes sociais, nas publicações da campanha “Meu filho não é cobaia”, quando pais expressavam que ‘os filhos perderiam o ano, se fosse preciso, mas não perderiam a vida’”, afirma Cláudio Antunes, coordenador de Imprensa do Sinpro-DF.

A pesquisa constatou o que os(as) trabalhadores(as) do magistério já vêm alertando, sistematicamente, toda vez que o Governo do Distrito Federal (GDF) se manifesta em favor da volta às aulas presenciais: toda a família dos estudantes está preocupada com o retorno das atividades presenciais nas escolas e querem que ele seja feito de forma segura.

Quando o governador anunciou que iria reabrir as escolas, começando pelas militarizadas, ainda no mês de abril, a reação dos pais foi a de interagir com a campanha publicitária do Sinpro-DF intitulada “Meu filho não é cobaia”. A campanha conjunta de pais e professores derrubaram os planos do governo Ibaneis/Bolsonaro. Atualmente, Ibaneis tem dito que o retorno presencial irá acontecer em meados de agosto.

“É claro que o ano letivo não será perdido. Ele pode, até mesmo, ser cumprido de forma presencial e com segurança, da forma que os pais desejam.  Basta aguardar que a contaminação comece a diminuir. Ela diminuiu em todos os países atingidos bem antes do Brasil. A contaminação também irá diminuir aqui, permitindo o retorno seguro dos(as) estudantes a suas escolas. As aulas presenciais garantem uma educação sem exclusão”, assegura o diretor.

Professores e orientadores: 62,9% moram com pessoas do grupo de risco
A pesquisa realizada com a categoria constatou que professores(as) e orientadores(as) educacionais têm as mesmas preocupações dos pais e mães.

O questionário disponibilizado no site para os(as) trabalhadores(as) do magistério, entre os dias 21 e 31 de maio, obteve 4.020 respostas espontâneas e por livre adesão e revelou que, para 81,82% dos(as) professores(as) e orientadores(as), o retorno presencial ao trabalho deve ocorrer quando a contaminação já estiver controlada.

Apenas para 6,20% da categoria se sentiria seguro em retornar ao trabalho presencial no momento em que o GDF determinasse. A pesquisa também revelou que 39,70% da categoria está no grupo de risco e que 62,9% mora com alguém que é do grupo de risco.

Teletrabalho
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) instituiu, nesta semana, o teletrabalho para quem estava com atividades suspensas. A Portaria nº 133/2020 apresenta as etapas de retomada do trabalho, porém, de forma não presencial. A diretoria colegiada do Sinpro-DF ressalta que nenhum(a) professor(a) ou orientador(a) educacional está sendo convocado(a) a comparecer ao trabalho de forma presencial.

“Recomendamos que nem de forma voluntária, professores(as) e orientadores(as) que estavam com suas atividades suspensas compareçam à escola para quaisquer que sejam os motivos: arrumar o armário, buscar material, distribuir livros e impressos. O vírus está lá fora, no ar e em todas as superfícies. Ele demora dias para morrer e você pode trabalhar de casa”.

Atividades impressas
O sindicato não parou de atuar em nenhum momento e está cobrando do GDF as condições de trabalho adequadas para o período de teletrabalho, uma vez que é o patrão que deve oferecer a ferramenta de trabalho. “Internet e um computador são hoje insumos necessários ao teletrabalho, os quais devem ser fornecidos pelo GDF. Mesmo professores e orientadores que têm acesso à rede mundial em casa, têm o direito a esses insumos”, afirma Antunes.

Ele alerta para o fato de que muitos trabalhadores(as) do magistério relataram que o computador que possuem também será usado pelos(as) filhos(as) quando as aulas a distância começarem. “Assim, como conciliarão o uso de um único computador com várias pessoas que precisam dele ao mesmo tempo?”, indaga. As lideranças sindicais do Sinpro-DF, por sua vez, recomendam que as atividades impressas sejam evitadas no período instituído pela portaria para acolhimento e planejamento EaD.

“Os(as) professores(as) estão, nesse período, planejamento atividades EaD para serem encaminhadas aos(às) estudantes, portanto, recomendamos que não sejam colocadas nesse planejamento atividades impressas para serem utilizadas e movimentadas neste período de alta contaminação. Essas atividades deverão ser utilizadas apenas quando a contaminação começar a diminuir, em meados de agosto”, orientam.

Importante lembrar que o Brasil, sem contar o número imenso de subnotificações por falta de testes, está em 3º lugar no mundo no número de mortes (34 mil mortes). “Infelizmente, nos próximos 8 dias, nosso País deverá alcançar a segunda posição mundial. É muito importante ressaltar que o vírus permanece vivo e ativo em diversos tipos de superfícies por um tempo que ainda não está, cientificamente, consensuado. Não arrisque se contaminar com essa história de que o vírus só vive por alguns dias. O trânsito de impressos neste momento entre a casa do professor e a casa dos estudantes aumentará as chances de exposição ao coronavírus”, alertam.