Outubro Rosa 2021: Distrito Federal registra aumento do câncer de mama

O mutirão do Outubro Rosa do Distrito Federal promete retirar o câncer de mama de 48 mulheres que estão na fila do Hospital de Base de Brasília (HBB) para essa cirurgia. A informação é da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), que também noticiou, nesta quinta-feira (21), outro mutirão, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), para reconstrução mamária de 49 mulheres mutiladas pela doença.

Contudo, até chegar a este momento da finalização do processo, da reconstituição da mama, a pessoa atravessa uma longa jornada, normalmente, repleta de dores, inseguranças, incertezas e, muitas vezes, também com dificuldades que vão muito além do problema físico. Um deles é o problema financeiro e, outro, é o medo de constatar que está com a doença. Daí não fazer ou não dar importância ao exame periódico de prevenção da doença.

Esse problema, juntamente com o temor de se contaminar com o novo coronavírus, têm feito muitas mulheres desistirem da mamografia e de outros tipos de exames preventivos que só são possíveis de realizar em clínicas. Um levantamento da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) deste ano, encomendada pela farmacêutica Pfizer, descobriu que, no Brasil,  47% das mulheres não foram a ginecologistas ou a mastologistas no ano passado e neste ano por causa da pandemia da covid-19.

“Há poucos dias o UOL noticiou que os cânceres de mama, que seriam, antes, como possíveis de cura, já estão chegando no Sistema Único de Saúde nos estágios 3 e 4. Devido à pandemia, as pessoas deixaram de fazer seus exames preventivos”, informa Luciane Kozicz, psicóloga do Sinpro-DF. Ela ressalta que, ainda em 2021, a Universidade de Stanford provou, cientificamente, que o surgimento de vários tipos de cânceres pode estar ligado à ansiedade e ao estresse.

“Já está comprovado, por meio de estudos em psicossomáticas, que os fatores emocionais geram reações fisiológicas no corpo. Se a gente passa por situações traumáticas ou estresse contínuo, o corpo passa a produzir determinados tipos de reações, podendo ocasionar a mutação de células. Por isso é tão importante ter o equilíbrio mental e físico e a necessidade constante de exames preventivos para que a doença possa ser debelada”, orienta Kozicz.

A campanha Outubro Rosa 2021 tem mostrado essas e outras dificuldades que dependem apenas da informação para serem solucionadas. A campanha reforça a necessidade de buscar o ginecologista ou o mastologista periodicamente para o exame de detecção precoce da doença a fim de que o máximo de mulheres possível não sejam afetadas pela metástase.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que o câncer de mama é o mais frequente entre as mulheres e mais fácil evitar. Também é considerado mais fácil de curar quando é detectado no início. No entanto, esse é um dos tipos de câncer que mais têm aumentado no Brasil e no DF. Só este ano, 730 novos casos foram registrados no Sistema Único de Saúde (SUS) no Distrito Federal. Esse também é o mesmo número de mulheres que se internaram para tratar da doença em 2020.

O Inca estima que há 66.280 novos casos de câncer de mama em 2021. No Hospital de Base, referência no tratamento oncológico na capital do País, 210 mulheres iniciaram o tratamento para combater o câncer de mama, em 2021, e 630 consultas de acompanhamento já foram realizadas. No entanto, em razão da pandemia, o número da procura pelo diagnóstico reduziu e o número de pessoas com a doença aumentou.

Vilmara Pereira do Carmo, coordenadora da Secretaria de Mulheres do Sinpro-DF, diz que uma das ações que imputam valor à campanha Outubro Rosa, dentre muitas outras coisas, é o incentivo ao exame preventivo e ao autoconhecimento. “O autoconhecimento é um elemento estruturante da luta feminista. Não só o autoconhecimento psíquico, mas o de nossa saúde integral. Para além de um lacinho na lapela, o Outubro Rosa enseja importantes atitudes em defesa da vida, dentre elas, o autoconhecimento por meio do toque corporal para entender o que há de diferente no corpo, dentro do seu ciclo, e na perspectiva da prevenção do câncer de mama. Isso é muito importante”, afirma.

Ela ressalta, no entanto, que, além da prevenção à doença, o sindicato alerta para as deficiências do sistema de saúde. Muitas vezes, por falta de acesso ao serviço público, a mulher deixa de fazer o exame preventivo. “Além do monitoramento do próprio corpo, toda usuária do SUS deve observar o que os governantes estão fazendo com o sistema público e defender, incondicionalmente, o investimento do Estado no SUS, um sistema cobiçado e empurrado, diariamente, para a privatização pelo grande empresariado dos ramos da medicina, farmacêutico e de planos de saúde, entre outros”, alerta.

“A nossa cobrança é por um SUS forte, por aparelhos públicos que possam concretizar os exames que detectam a doença. No DF, não se sabe a situação dos mamógrafos na rede pública, nem se as mulheres conseguem fazer o exame. Não há como afirmar se foi somente por causa da pandemia ou também por falta de equipamentos públicos que se registrou uma redução grande no diagnóstico precoce. Não há levantamento sobre se as mulheres conseguem fazer o exame nos locais onde moram ou têm de se deslocar, muitas vezes sem dinheiro, até o Centro de Saúde da Mulher, localizado na 514 Sul”, observa.

Ana Paula Soares Fernandes, psicóloga da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília, diz que a rede tem observado e acompanhado o aumento no número de casos de câncer a cada ano. “A Rede Feminina é uma instituição sem fins lucrativos que assiste pacientes em tratamento de câncer no Hospital de Base do DF de forma gratuita, com ajuda material e emocional. A cada ano, mais e mais pacientes procuram a instituição para serem cadastrados nos programas. É aí que a rede descobre o aumento da doença. Atualmente, por exemplo, há mais de 500 famílias cadastradas no programa de cesta básica porque, além de passar pelo sofrimento do tratamento de câncer, muitas mulheres ainda passam por dificuldades sociais e financeiras nesse processo”, alerta.

O diagnóstico do câncer de mama pode ser feito pela mamografia, exame de imagem que deve ocorrer a cada 2 anos pelas mulheres com idade entre 50 a 59 anos ou que tenham sintomas da doença, independentemente da faixa etária. Apesar de ser raro entre os homens, o câncer de mama também requer a atenção do público masculino. Segundo o Inca, 1% dos casos, no Brasil, ocorre em homens.

Os sintomas mais comuns são o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, mas há tumores de consistência branda, globosos e bem definidos. Outros sinais são: edema (inchaço) cutâneo (na pele), semelhante à casca de laranja; retração cutânea (pele); dor na mama ou no mamilo, vermelhidão (eritema) na pele; inversão do mamilo; descamação ou ulceração do mamilo; secreção sanguinolenta ou serosa pelos mamilos, especialmente quando é unilateral e espontânea, inchaço em toda a parte de uma mama (mesmo que não se sinta um nódulo), nódulo único endurecido, irritação ou abaulamento de uma parte da mama.

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