Ossos e carcaças: o preço do golpe de Estado de 2016

Uma mulher come um rato em uma cidade no Interior de Pernambuco. A imagem ficou famosa durante os anos 90, quando sociólogos e pesquisadores se debruçaram sobre um problema terrível que assola a sociedade brasileira: “A Fome”. Foto: Iconografia da História

 

 

Duas fotografias da miséria. A primeira foto, de uma mulher comendo um rato em uma cidade no interior de Pernambuco os anos 1990. A segunda, desta semana, é o registro de uma mulher que comprou osso e pele num açougue de Brasília. Ambas revivem os anos 1990 dos governos neoliberais. Entre as duas fotos, no tempo, um governo democrático e popular que tirou o Brasil do Mapa da Fome, eliminou a miséria e fez o País experimentar o pleno emprego.

 

Na véspera do Dia Mundial da Alimentação de 2021, comemorado em 16 de outubro, mais de 20 milhões de brasileiros passam fome e outros milhões abandonaram o consumo de vários de alimentos essenciais, como carnes, por causa do alto preço dos produtos. Enquanto isso, além de remessas imensas de dinheiro enviadas a paraísos fiscais, ministros e parlamentares ostentam, com o dinheiro público, o gasto de R$ 1.461.316,10, registrados até o dia 30/9, com o consumo do que há de melhor no mercado nacional: ostras, tambaqui com farofa, picanha especial, camarão ao molho de trufas, risoto com camarão rosa e rapadura, profiteroles ou petit gateau.

 

Desde o ano passado, quando começaram os registros do aumento da fome no País por causa da política econômica neoliberal, a população abandonou a compra da carne e outros produtos da cesta básica por causa dos preços elevados, dolarizados e da falta de dinheiro no bolso. Na Internet, passou a circular imagens de filas imensas de pessoas nas portas de açougues para adquirir ossos, peles e carcaças. Essa miséria chegou ao Distrito Federal de forma ainda mais cruel.

 

Procon lamenta a situação e lembra o Código de Defesa: “Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor”. Foto: Divulgação/R7

 

Em vez de doar os ossos, como tem ocorrido em outras regiões do País, no DF e em São Paulo, donos de açougues passaram a vendê-los a quem passa fome. Nessa quarta-feira (13/10), uma consumidora relatou ao jornal R7 a venda de ossos bovinos a R$ 5 o quilo, em Taguatinga. O item é classificado como “subproduto alimentício”. Precisou de o Procon intervir. Mesmo assim não resolveu.

 

Segundo o relato do R7, a compra de 2,6 quilos de ossos bovinos saiu por R$ 13 para uma consumidora da capital do País. “‘É muito caro, um absurdo. Muito morador de rua vai pedir um osso para fazer um caldo e não tem dinheiro para comprar. Não tem um pedaço de carne e ele vale R$ 13′, desabafou. A indignação não se restringe aos consumidores’”, escreveu o jornal.

 

Esse é o preço do apoio ao golpe de Estado de 2016, aplicado pelo vice-presidente Michel Temer, do MDB. Não só chegou ao bolso, mas se instalou na mesa de jantar dos brasileiros: ossos e carcaças revivem a fome e a miséria que o Brasil passou nas décadas de 1980 e 1990, quando governo estava nas mãos dos neoliberais.

 

A situação piorou ainda mais quando a população decidiu alimentar o discurso do ódio e acreditar em fake news (falsas notícias) apregoadas pela mídia liberal para eleger, em 2018, os mesmos fundamentalistas neoliberais dos anos 1990 para (des)governarem o Brasil e legislarem em causa própria no Congresso Nacional.

 

As consequências é a volta da miséria, da inflação, do desemprego, da corrupção, das privatizações dos serviços públicos e outras mazelas, como sonegação descarada de impostos, com envios de remessas de dinheiro para paraísos fiscais, invasões de terras públicas, grilagens de terras indígenas, venda para estrangeiros de bens públicos, territórios nacionais e riquezas naturais, a dilapidação de tudo o que é garantia do desenvolvimento do Brasil.

 

Em 5 anos de golpe de Estado, o Brasil já alcança os números da fome de 1998, quando era governado por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, que deixou mais de 25 milhões de brasileiros na extrema miséria. E 25 milhões de miseráveis nem sequer era o total de famintos. Os dados são do Instituto Datafolha. Divulgados em 26 de setembro de 1998, o resultado da pesquisa mostra que, naquele ano, havia 25 milhões de miseráveis com 16 anos de idade ou mais. “Eles representam 24% da população nessa faixa etária. Essa é a principal conclusão da consolidação de quatro pesquisas nacionais feitas pelo Datafolha segundo grupos sociais”, escreveu o jornal.

 

Na época, o jornal liberal Folha de S. Paulo explicou que “o fator mais determinante da péssima condição de vida dos miseráveis é sua renda. Na média, suas famílias sobrevivem com apenas R$ 234,00 por mês. No total da população brasileira, essa média é de R$ 907,00. Individualmente, seus rendimentos são ainda menores: R$ 131,00, praticamente um salário mínimo. Um brasileiro típico da elite, que integra os 7% que estão no topo da pirâmide, ganha 12 vezes mais do que isso, em média”.

 

Os dados acima parecem de 2021. Mas são de 1998 mesmo. Uma pesquisa divulgada nesta semana, no dia 13 de outubro de 2021, também pela Folha de S. Paulo, revela que, em dezembro de 2020, “quase 20 milhões de brasileiros, um Chile [inteiro], declaram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias. Mais 24,5 milhões não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e já reduziram quantidade e qualidade do que comem. Outros 74 milhões vivem inseguros sobre se vão acabar passando por isso”.

 

No total, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mais da metade (55%) dos brasileiros sofriam, em dezembro de 2020, de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve).

 

Esse levantamento foi conduzido pelas pesquisadoras que validaram, no Brasil, a Escala Brasileira de Segurança Alimentar, usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), buscou dar sequência a levantamentos do órgão estatal, feitos a cada 4 anos, como anexo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

 

A própria Folha de S. Paulo, jornal que ajudou a construir o golpe de Estado de 2016, afirma que, “realizada em 1.662 domicílios urbanos e 518 rurais, a pesquisa trouxe esses números antes do repique inflacionário dos últimos meses —que deve ter agravado o quadro”. Em 2001, o Jornal Nacional da TV Globo, outro veículo que ajudou a construir o golpe de 2016, fez uma série de reportagens sobre a fome e a divulgou entre 18 a 22 de junho de 2001.

 

O Jornal Nacional ganhou prêmio com a série intitulada Fome no Brasil, na qual mostrou que, no governo do PSDB, que contava com irrestrito apoio do DEM, do MDB e dos partidos que formam o centrão, 290 crianças morriam de fome por dia.  Na época, a FAO revelou que a cada 5 minutos uma criança morria no Brasil por doenças relacionadas à fome.

 

Em abril de 2021, 59,3% dos brasileiros —125,6 milhões — que não comeram em quantidade e qualidade ideais desde a chegada do novo coronavírus. Os dados são da pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, coordenada pelo do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, com sede na Universidade Livre de Berlim.

 

Há exatamente 7 anos, em 16 de setembro de 2014, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciava ao mundo que o Brasil havia saído do Mapa Mundial da Fome em 2014. O anúncio foi feito durante a divulgação do relatório global, divulgado em Roma.

 

Na ocasião, a FAO considerou dois períodos distintos para analisar a subalimentação no mundo: de 2002 a 2013 e de 1990 a 2014. Segundo os dados analisados, entre 2002 e 2013, caiu em 82% a população de brasileiros em situação de subalimentação. A organização apontou também para o fato de que, entre 1990 e 2014, o percentual de queda foi de 84,7%.

 

O Sinpro-DF é contra as políticas neoliberais e essa forma de governar. Por isso, integra as campanhas contra este modelo econômico em curso no País, que, comprovadamente, é um modelo fracassado em todo o mundo, responsável por milhões de mortes, miséria e corrupção.

 

É um modelo que privatiza o patrimônio e as riquezas nacionais, solapando a soberania e o desenvolvimento e que beneficia políticos que legislam em causa própria impondo reformas constitucionais inadequadas à nação. É por isso também que o sindicato participa e está engajado na campanha “Fora Bolsonaro: a culpa é dele!”, que também fala sobre a fome.

 
 

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