OMS inclui síndrome de Burnout na lista de fatores que influenciam a saúde

Na última segunda-feira (27), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que havia incluído a síndrome de Burnout,  também conhecida como síndrome do esgotamento profissional,  na nova Classificação Internacional de Doenças, uma lista que estabelece  linguagem que facilita a troca de informações entre os profissionais da área da saúde ao redor do planeta. Mas, na terça (28), a notícia foi corrigida por um  porta-voz  da OMS. Segundo a organização, na verdade, a síndrome foi inclusa  na lista de “Fatores que influenciam a saúde”.

A nova classificação, chamada CIP-11, publicada ano passado, foi aprovada durante a 72ª Assembleia Mundial da OMS e entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2022. Apesar de não ter sido de fato, reconhecida como doença, a medida representa uma conquista para a categoria magistério, uma vez que a enfermidade está entre os principais motivos de afastamento de professores e professoras da sala de aula.

A síndrome de Burnout ou  tem sido qualificada por pesquisadores como “a praga do século XXI”, pois é a doença de caráter psicossocial que mais cresce no mundo e tem como fator de risco a organização do trabalho.

Pesquisa divulgada pela Globonews, em novembro de 2017, revelou que o número de professores de escolas estaduais afastados por transtornos mentais ou comportamentais dobrou entre 2015 e 2016. Em 2015, eram 25.849 professores, já em 2016, esse número chegou a 50.046. Enquanto que no ano de 2017, até setembro, houve 27.082 afastamentos de docentes. Já uma pesquisa realizada em 2007,  pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite, da Universidade de Brasília (UNB),  com mais de oito mil professores da educação básica da rede pública de ensino da região Centro-Oeste, revelou que 15,7% dos entrevistados apresentam a síndrome de Burnout.

A diretora da Secretaria Assuntos de Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF, Gilza Camilo explica que a síndrome é uma consequência do estresse laboral crônico, e está relacionada a desordens emocionais, físicas e mentais. “Trata-se de uma resposta prolongada a estresses emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, o interesse e e qualquer esforço lhe parece inútil”, explica.

Gilza ressalta ainda que essa classificação da OMS significa avanços para todo o magistério pois, uma vez classificada fator que influencia a saúde, pode-se estabelecer tendências e estatísticas de saúde, quebrar o ciclo de  individualização o problema, sendo possível, inclusive, estabelecer nexos relacionados a atividade laboral desenvolvida e suas consequências de agravamentos à saúde dos trabalhadores.

Confira abaixo algumas características do desencadeamento da síndrome de Burnout:

Características Organizacionais – burocracia, excesso de normas, falta de autonomia do profissional, comunicação ineficiente, mudança organizacional frequente e rigidez nas normas institucionais, ambiente de trabalho ou profissões que predispõe o empregado a riscos físicos e até de vida, clima que impera no ambiente laboral, impossibilidade ou inexistência de ascender profissionalmente;

Características Pessoais – indivíduos com baixa autoestima, controladores, que têm dificuldade em tolerar frustração, impacientes, esforçadas, passivas, perfeccionistas, rígidas, excessivamente críticas, com idealismo elevado, excesso de dedicação, alta motivação, pessoas muito exigentes consigo mesmas e com os outros;

Características do trabalho – sentimento de injustiça, de fata de equidade nas relações laborais, sobrecarga no que diz respeito tanto à qualidade como à quantidade excessiva de demandas, baixa expectativa profissional, tipo de ocupação do indivíduo, suporte organizacional precário, relacionamento conflituoso entre colegas, trabalho por turnos ou noturno, falta de controle e participação nas decisões, alta pressão no trabalho, conflito com seus valores pessoais ao ter que atuar profissionalmente contra esses princípios, e ausência de retorno ou feedback quanto aos serviços prestados.

Características Sociais – falta de suporte familiar e social, valores e normas culturais que o indivíduo possui e a tentativa de manutenção do status social em oposição à baixa salarial.

Diante do quadro de agravamento de doenças dos docentes existe apenas uma alternativa:  utilizar os dados e estatísticas e usa-las para criar programas preventivos, preservando a saúde dos professores. Um desses direitos que podem ser destacados, por exemplo, está o direito à aposentadoria especial. “A nociva reforma da Previdência, se aprovada, prejudicará ainda mais os professores e professoras que já sofrem com o desgaste em sala de aula e terão de trabalhar por muito mais tempo. Não podemos permitir”, concluiu Gilza Camilo.