Nota de profundo Pesar: Maria Holanda Lopes Carvalho

Ela sempre entendeu que, como profissional, fazia parte de uma categoria de trabalhadores. E, enquanto categoria, era representada por um sindicato. Por isso, sempre se fez presente, na ativa ou aposentada, em todas as atividades do Sinpro.

Holanda sabia como ninguém se reconhecer em sua categoria e, sobretudo, lutar por ela. Em cima do carro de som ou na multidão, segurando cartazes e recitando versos, ela instigava quem quer que fosse a perceber criticamente o sistema que vivemos e a ter a coragem e a consciência necessárias para enfrentá-lo. Se nós, professores e professoras, orientadores e orientadoras educacionais das escolas públicas do DF, persistimos na luta hoje, devemos também à professora Holanda.

Na noite deste domingo, 11 de junho, nossa guerreira Maria Holanda Lopes Carvalho descansou. Ela tinha 84 anos, e estava bem debilitada por uma sequência de infecções que contraiu em mais de 4 meses de UTI.

O Velório da professora Holanda será a partir das 8h desta terça-feira (13/6), na Paróquia Imaculada Conceição (QNM 38/40, setor M Norte), em Taguatinga. Às 10h haverá celebração de missa de corpo presente.
O corpo segue para o Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, onde será velado das 13:30 às 15:30, quando será sepultado.

Na diretoria do Sinpro, a sensação de perda e tristeza se confunde com a sensação de que ela não sofre mais, em meio a várias recordações queridas.

“Professora Holanda é um exemplo para o movimento sindical como um todo. A imagem daquela senhorinha entrando nas escolas, fazendo piquete e falando altiva com vários professores que se recusavam a parar é inesquecível”, lembra a ex-dirigente do Sinpro Rosilene Correa, atualmente diretora da CNTE, que conclui: “A relação da professora Holanda era com o Sindicato. Ela fez do Sinpro seu segundo lar. Várias diretorias passaram, todos os e as dirigentes conheceram a altivez e a resistência da professora Holanda”.

“A gente ia pros piquetes em Taguatinga, Holanda ia junto. Ela fazia questão de ir a todas as escolas, e falar em todas as escolas. E não bastava visitar o máximo de escolas possíveis, pra Holanda isso não era suficiente: a gente deveria ir a todas as escolas da região”, lembra a ex-diretora da secretaria de aposentados do Sinpro, Silvia Canabrava.

“Holanda tinha diabetes. Teve uma vez que eu sabia que ela estava com o pé machucado. Achei por bem poupá-la do sacrifício de ir à Câmara dos Deputados para uma manifestação que iríamos fazer. Uma amiga em comum me contou que ela ficou magoada comigo, pois teve ato e ela não foi chamada. Desde esse dia, passei a avisar à filha dela, a Jaqueline, de todos os eventos que haveria, pra que ela falasse com a mãe se seria possível ir”, relembra Silvia.

“Eu iniciei minha carreira no magistério em 1994. Mesmo antes de ingressar no movimento sindical, lembro de ver a professora Holanda lá no alto do carro de som cantando a música do Peleguinho”, lembra Luciana Custódio.

Veja abaixo a professora Holanda cantando a música Peleguinho:

Altivez e segurança são, deveras, marcas registradas da querida professora: “Eu tinha acabado de chegar à diretoria do Sinpro, e estávamos organizando uma assembleia”, lembra Rodrigo Rodrigues, atual presidente da CUT-DF e ex-dirigente do Sinpro. “Recebi o aviso de que não deveria deixar nenhum estranho falar. Professora Holanda subiu no carro de som e disse: eu vou falar! Disse a ela que ninguém mais falaria, e recebi como resposta: ‘Pois eu vou falar sim, e vou falar agora’. Foi quando a companheira Isabel Portuguez viu o que estava acontecendo, tirou o microfone da minha mão e disse: ‘Professora Holanda vai falar sempre! Me dá aqui esse microfone!’”.

Rodrigo também se lembra com carinho de um presente de aniversário que ele deu à professora: “Sabia que ela participava das novenas da Isabel. Vi um anel com a imagem de Nossa Senhora, achei que fosse o presente ideal para ela. Depois desse dia, toda vez que nos encontrávamos, a professora Holanda vinha me mostrar com carinho e orgulho que estava usando o anel que ganhou de mim.”

Católica fervorosa, Holanda entendia que terço e imagem de santo não se compra, se ganha. Por isso a alegria com o anel de Rodrigo. “Ela tem uma casa em Caldas Novas, e construiu uma gruta para colocar lá imagens de Nossa Senhora. As amigas souberam, e a encheram de imagens. Ela sempre tirava fotos da gruta e mandava pra quem a havia presenteado”, conta Silvia Canabrava.

Uma mulher à frente de seu tempo. É assim que a atual coordenadora da secretaria de aposentados do sindicato se refere à professora Holanda. “Me lembro dela desde sempre, participando das Assembleias. Há vinte anos ela já pintava as unhas cada uma de uma cor. Estava sempre vestida com cores alegres e fortes”, conta Elineide Rodrigues.

O diretor da secretaria de imprensa do sindicato, Samuel Fernandes, também se emociona ao falar de Holanda: “A professora Holanda merece todas as nossas homenagens! Sempre presente nas lutas da nossa categoria! Foi uma das professoras que foi exonerada da SEE por participar da primeira greve!”

A professora Holanda marcou o ex-dirigente do Sinpro e atual membro da OIT Antônio Lisboa por sua cultura: “O ano era 1991. Eu estava em João Pessoa, e fui de carro para o congresso da CNTE em Olinda, em janeiro. Holanda estava na cidade, e me pediu carona. Fomos conversando sobre cultura, música, artes… tive a oportunidade de conhecer a Maria Holanda fora do ambiente de sindicato e de assembleia, e sua cultura era realmente admirável!”

Nascida no Ceará e criada na Paraíba, Maria Holanda chegou ao Distrito Federal em 1975, em busca de melhores condições de vida, como muitos dos seus conterrâneos. Chegou à capital desempregada, mas não recuou. Construiu a vida como professora. Não qualquer professora. Holanda é daquelas que os ex-alunos param na rua para trocar de novo os abraços e as ideias compartilhadas em sala de aula. Lecionava artes sempre no setor M Norte, em Taguatinga. Conhecida e merecidamente prestigiada pela comunidade, recebeu o título de Cidadã Honorária de Taguatinga, em 2011, e de Brasília, em 2013.

“Se eu nascesse outra vez, seria professora”, disse Holanda ao Sinpro. Ela amava a profissão; não há outro verbo que possa traduzir a relação entre Holanda e a educação. Foi o que a motivou a integrar o movimento sindical e a se consolidar, como pouquíssimos(as), como uma verdadeira líder.

A campanha salarial de 2023 foi a primeira de que Maria Holanda não participou. Porque não podia, mesmo. Sua filha Jaqueline conta que, em fevereiro deste ano, com a mãe em coma na UTI, viu a campanha do Sinpro na TV. Mais tarde, na UTI, conversando e estimulando a mãe, ela comentou: “Puxa, mãe, vai ter assembleia do Sinpro, vai ter greve, vamos lá atrás dos pelegos!”. Nesse momento, a professora mexeu os olhos.

A homenagem abaixo foi exibida no telão em uma das assembleias da greve de 2023:

Maria Holanda Lopes Carvalho teve quatro filhos. Josceline Lopes Carvalho faleceu aos 35 anos, no parto do seu único filho, e Joselito Lopes Carvalho faleceu em 2022, por complicações da Covid. Ficam Jaqueline Lopes Carvalho e Jodelmá Lopes Carvalho, e nove netos.

Mais do que nunca, com muita dor, muita tristeza, mas também muita gratidão e cheios de boas e inesquecíveis recordações, a diretoria do Sinpro diz, a plenos pulmões:

Professora Holanda, PRESENTE!

 

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