“O Museu é o mundo”
Um evento quase nos moldes da paulistana Bienal do Ibirapuera, inspirado por Hélio Oiticica. A professora de contrato temporário Leôni Santos Dias, a Leônix, elaborou junto com Tati Romeo e Elisa Mariana uma experiência inesquecível para as crianças da Escola Parque 210/211 sul, nos dias 24 e 25 de novembro, a partir da ideia de que “A arte não é só o que está no museu, e você não pode tocar. Ela está no mundo, e está em nós, que produzimos e damos sentido a ela!”.
A partir da ideia de Oiticica de que “o museu é o mundo”, Leônix se juntou a uma equipe de artistas-educadores e levou para dentro da Escola Parque uma série de obras-instalações, para interação do público com a arte, tal qual vislumbrado pelo artista plástico carioca.
Assim como nas instalações da Bienal do Ibirapuera, as crianças foram instadas a fazer um percurso onde eram sensorialmente estimuladas. Foram montadas várias estações sensoriais que compunham um “percurso poético”.
Na estação “Penetrável Meada” (idealizada por Elisa Mariana), foi montado um espaço com fios (o “fio da meada”), por onde as crianças passeavam e exploravam o labirinto construído. A seguir, a estação de parangolés, redes e malhas. “O parangolé é uma obra que ganha vida e movimento no corpo da pessoa. As crianças ‘vestiram’ os parangolés e dançaram ao som de ritmos e tambores”, conta a professora.
Na estação Bolhas e Aviões, a cargo do arte-educador Cirilo Quartim, as crianças fizeram bolhas de sabão em vários formatos, brincando com o elemento ar.
Na estação da água, os professores de música e educação física Márcio Leite e Jairo Gontijo entraram em cena para ensinarem as crianças a tirar som da água com o uso de macarrões (boias de piscina) como instrumentos de percussão. “O som está em todos os locais, a música é o mundo!”
Na estação montada dentro do auditório da escola, para estimular o sentido da visão, houve projeções de imagens da obra de Oiticica, com uma escultura luminosa. Ideia de Tati Romeo e Elisa Mariana.
No espaço “Cama de gato”, ideia da professora de teatro Beth Cunha, uma série de fios cruzavam os ares, e as crianças deviam fazer o percurso no local sem tocá-los.
E quem entrasse na estação Cabanas deveria montar um corpo cênico. Ideia de Leônix e Edimilson Braga.
Do lúdico pro crítico, outra instalação trazia um ambiente com baldes e uma bandeja amarela e o prato azul da cantina da escola (que sofre com a falta de distribuição de alimentos) com a pergunta: Você tem fome de quê? O prato da escola fez as crianças refletirem sobre a própria realidade da escola.
Os baldes trouxeram a reflexão sobre os problemas de água e de saneamento básico. “Dados de março deste ano informam que quase 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e cerca de 100 milhões não têm serviço de coleta de esgotos no país. Desses, 5 milhões e meio estão nas 100 maiores cidades brasileiras, o equivalente à população da Noruega”, segundo informa a agência Brasil.
As crianças carregaram os baldes na cabeça e cantaram a música Lata d’água, marchinha de carnaval da década de 1950, composta por Luís Antônio e Jota Júnior, e nesse processo refletiam sobre a carência de metade da população enquanto exercitavam o equilíbrio.
Quem também curtiu muito a exposição foram os tios da limpeza e o vigia da escola, que disse nunca ter visto um trabalho desses ocupando espaços tão diferentes da escola. Um dos rapazes da limpeza gravou um vídeo em que fazia o percurso da cama de gato, para mostrar para sua filha.
Leônix conta também que uma das crianças disse que não queria sair mais do percurso poético, pois estava muito feliz.
“Trouxemos esse evento pra dentro da escola para mostrar para a criança, não só como arte-educação, mas também para fazer as crianças amarem e interagirem com a arte, e compreenderem que a arte tá no mundo”, conta Leônix. “E eles se divertiram muito!”, completa.
Se você quiser entrar que esse evento vá até sua escola, entre em contato pelo Instagram da professora Leônix: @euleonix.