O momento é de atenção

O Sindicato dos Professores no DF – Sinpro/DF é, historicamente, uma entidade que sempre trouxe para o seio da nossa categoria as discussões da cidadania, para além de sua dedicação à luta pelos direitos específicos dos professores e professoras, pais e alunos, por educação de qualidade, condições dignas de trabalho e salário justo.
Foi assim que seus dirigentes e militantes de base, unidos, enfrentaram a ditadura militar, participaram da luta pela anistia, pelas diretas já, por representação política para o Distrito Federal, entre tantas demandas da luta da sociedade brasileira por uma vida melhor para todos e todas, por uma nação soberana, igualitária, mais feliz.
Coerente com essa história, dirigentes e militantes do Sindicato dos Professores no DF têm acompanhado e participado, pacificamente, das manifestações no Distrito Federal, carregando, além das bandeiras da educação, as bandeiras da defesa da mulher, da demarcação imediata das terras indígenas, da democratização dos meios de comunicação para que, na condição de concessões públicas, trabalhem no sentido de prover ao povo o sagrado direito da informação, das reformas política e tributária, do Estado laico, da criminalização da homofobia, contra a redução da maioridade penal.
Na tarde do dia 25 de junho, tomamos conhecimento da possibilidade de o Congresso Nacional colocar em votação questões importantes como o aumento das verbas para a educação. A referida informação só foi confirmada no início da noite e, embora tenhamos feito a divulgação em nosso site, não houve tempo hábil para organizar uma mobilização da categoria.
Independente disso, diretores do Sinpro-DF foram ao Congresso Nacional para acompanhar as votações, quando um fato muito estranho e, em nossa opinião, emblemático, aconteceu e nos leva até nossa categoria para que, juntos, possamos fazer uma reflexão mais profunda.
Nosso ingresso no plenário a princípio foi impedido, pois só estavam franqueando a entrada de representantes do Ministério Público para acompanhar a votação da PEC 37. Após nossa insistência, conseguimos, finalmente, entrar. As galerias estavam lotadas de manifestantes. Terminada a votação da PEC 37, foi anunciada a votação dos itens referentes à educação brasileira.
Para nossos desgosto e surpresa, os antes combativos manifestantes se levantaram e deixaram, ali, o grupo que reivindicava recursos para a educação brasileira em todos os níveis. A debandada foi tão grande que os parlamentares poderiam, vendo a cena, entender que a pauta da educação não era de interesse de ninguém.
Não se espalhou aos quatro ventos que o governo estava retirando dinheiro da saúde e da educação para fazer a Copa do Mundo? Isso não ficou esquisito?
Os congressistas poderiam, mais uma vez, ter derrubado a proposta da Presidenta da República de dedicar 100% dos royalties do petróleo e 50% do dinheiro do pré-sal para a educação pública como já haviam feito antes, com projetos de conteúdo igual ou parecido. Felizmente, isso não aconteceu.
O esvaziamento das galerias, importante espaço de lutas, nos deixou um gosto amargo na boca. Por que as pessoas não se interessaram em garantir que o Brasil possa fazer uma revolução na qualidade da educação pública? Que gente é essa que não se interessa pela educação de todo um povo? Então, quais são os reais interesses que levam milhares de pessoas às ruas desse país?
Diante disso, chegamos à conclusão de que muito possivelmente, nem todos estão nas ruas pelos mesmos motivos que nós e nossos/as alunos/as.
Precisamos estar atentos para não embarcarmos numa onda que pode nos levar para o fundo das águas turvas de interesses inconfessáveis dos donos dos meios de comunicação, dos latifundiários, dos donos de bancos, dos desmatadores, dos sexistas, dos racistas, dos homofóbicos, de todos que há 513 anos insistem em fazer do Brasil um país de segunda categoria.
Vamos, sim, continuar nas lutas em que sempre estivemos, sem fazer o jogo do atraso da elite brasileira, que não quer reforma política, porque, para ela, está bem, como tudo está.
Convocamos, mais uma vez, como sempre fizemos, professoras e professores, alunas e alunos, pais e mães, trabalhadores e trabalhadoras em geral à luta pelos reais interesses do povo brasileiro. Todos/as ao grande ato chamado pela CUT Nacional, junto com as demais centrais sindicais e com o MST, a se realizar no dia 11 de julho, com o objetivo de destravar a pauta da classe trabalhadora no Congresso Nacional e nos gabinetes dos ministérios e, também, construir e impulsionar a pauta que veio das ruas nas manifestações realizadas em todo o país, nos últimos dias.