Novo Ensino Médio não tem nada de novo!

“Para a Pedagogia Histórico-Crítica, a educação é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”, Dermeval Savian

 

Historicamente, sempre esteve em disputa duas concepções de educação. Uma voltada mais para a cidadania, com pensamento crítico, com aprofundamento e apropriação do conhecimento desenvolvido pela humanidade, e outra que propõe uma escola com formação mais reduzida destinada a grande maioria da população. Nessa disputa fica claro que para alguns a educação é um direito universal e de todos, e para outros a educação é vista como privilégio, algo destinado apenas para uma pequena parcela da população.

A lógica do conhecimento reduzido através da diminuição da carga horária e redução de disciplinas é voltada para a grande maioria da população, principalmente para os jovens oriundos da classe trabalhadora. A mesma lógica não é aplicada para as classes mais abastadas, pois o conhecimento é um instrumento de poder e dominação.

A onda em que a maioria dos governos está surfando é do conhecimento mínimo, vide a proposta do Novo Ensino Médio apresentada pelo Governo do Distrito Federal, que está na contramão da escola que produz o conhecimento, democratiza o saber e forma o estudante com uma visão crítica da realidade onde ele está inserido.

A redução do tempo de permanência no ambiente escolar e do número de disciplinas faz com que o estudante tenha menos oportunidades para a construção do conhecimento. Esse modelo de escola, com ênfase a uma formação tecnicista em oposição a uma formação crítica, prepara os estudantes de forma aligeirada para o mercado de trabalho e não para o mundo do trabalho. A formação para o mercado de trabalho é fragmentada, parcelar, não permitindo ao indivíduo a compreensão de todo o processo produtivo.

A escola de formação integral defende que o indivíduo tenha formação para o mundo do trabalho, onde ele será inserido no mercado de trabalho compreendendo toda dinâmica na sua totalidade.  A redução de conteúdos significa negar o acesso ao conhecimento e limitar as oportunidades principalmente àqueles jovens pertencentes às classes de menor poder econômico.

Esse modelo de escola cria um fosso entre aqueles que podem ter acesso aos conhecimentos e aqueles que terão negado esse acesso. Precisamos reformular nossas escolas para garantir não só a permanência, como também ampliar as oportunidades para a formação do estudante. Construir uma escola crítica, plural, capaz de compreender as contradições da nossa sociedade, possibilitando a permanência do estudante nos seus espaços.

Os Itinerários Formativos, com carga horária de 1.200 horas, como está sendo proposto, fortalece o projeto de terceirização do ensino e diminui a participação do estado na garantia da educação pública. O conhecimento passa a ser tratado como mercadoria, fortalecendo a “indústria da educação”.

Somado a isso está a retirada de disciplinas responsáveis para a formação do pensamento crítico. A escola não está obrigada a ofertar todos os itinerários previstos e a desqualificação da atividade docente com a adoção do profissional com notório saber.

Os governantes precisam compreender que o Novo Ensino Médio não pode ser fruto de ideias tecnicistas elaboradas em gabinetes, desconectadas da realidade do ambiente escolar.

Precisamos praticar a Gestão Democrática assegurando a aplicação da LDB, PNE e PDE, e que a construção de uma nova escola seja fruto de uma discussão coletiva envolvendo todos os atores que estão diretamente inseridos nessa realidade.

Não queremos uma escola excludente e muito menos que limite o acesso ao saber. Precisamos garantir o amplo acesso às mais diversas áreas do conhecimento, possibilitando assim oportunidades a uma parcela significativa da nossa juventude.

Precisamos, também, garantir investimentos nas escolas para que nos seus espaços sejam assegurados laboratórios, biblioteca, quadras poliesportivas e o ambiente se torne agradável, contribuindo para a formação do estudante, reduzindo assim a evasão escolar.

Nós, que acreditamos que é possível construir um mundo mais justo, fraterno e com oportunidades para todos, compreendemos que a escola tem um papel fundamental para que se assegure esse projeto de sociedade.

Fortalecer o debate em torno de uma escola crítica e emancipadora é indispensável para que possamos trilhar no caminho de uma sociedade livre, soberana e humanista.

 

Berenice Darc, diretora do Sinpro-DF