Novembro Azul ainda disputa com o machismo a consciência dos homens sobre o câncer de próstata

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) informou, nesta segunda-feira (1º/11), que houve uma redução de 21,5% nas cirurgias para retirada do câncer de próstata em 2021 em comparação com os anos de 2019 e 2020. O diagnóstico da doença também caiu. Houve queda de 27% nos exames de PSA (Antígeno Prostático Específico) e, de 21%, no de biópsias de próstata. O número de consultas urológicas no Sistema Único de Saúde (SUS) também caiu 33,5%.

 

O presidente da SBU, Antonio Carlos Pompeo, considera a queda nos diagnósticos e cirurgias muito preocupante e atribui isso à pandemia da covid-19. O câncer de próstata é o primeiro mais incidente entre os homens, excluindo-se o câncer de pele não melanoma, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A SBU diz que o câncer de próstata é o segundo que mais mata, ficando atrás somente do de pulmão.

 

Até julho deste ano (2021), ocorreram 1,8 milhão de consultas contra 4,2 milhões (2019) e 2,8 milhões (2020). Nas fases iniciais, o câncer não apresenta sintomas, mas com o tempo e o crescimento do tumor, pode provocar sangramento, obstrução do jato urinário e dor pélvica. O PSA, que é medido por meio do exame de sangue, deve ser feito anualmente por homens a partir dos 50 anos. Pessoas com histórico familiar ou homens negros devem começar a partir dos 45 anos. Quem faz exames periódicos tem de 80% a 90% de chance de cura e quando a descoberta vem tarde, as chances caem para 30%.

 

Importante ressaltar que o PSA não elimina o conjunto de exames físicos, como o do toque retal. Vale destacar também que os interessados em reposição hormonal precisam de fazer o exame de PSA e o de toque retal para descartar possibilidades de câncer. A SBU lembra que a testosterona não causa o câncer, mas acelera o crescimento de quem já o tem. No entanto, apesar de todo o conhecimento que a medicina põe à disposição, ainda há homens que não fazem o exame preventivo porque tem preconceito quanto a exame físico.

 

O presidente da SBU alerta para o fato de que é muito importante os homens terem acesso à informação, às consultas de rotina e também ao diagnóstico. “Essa fuga do médico por causa da covid-19, por preconceito o por qualquer outro motivo vai causar um efeito de mais diagnósticos tardios em longo prazo”, avisa. Assim como o câncer de mama, cuja campanha contra ele é realizada no Outubro Rosa, o câncer de próstata tem chances de cura quando é diagnosticado no início.

 

No Brasil, contudo, muitas vezes a pessoa morre por causa do preconceito. Uma pesquisa do Datafolha de 2010 revelou que, apesar de 76% dos homens entrevistados terem ciência desse tipo de detecção, somente 32% havia feito o exame de toque. “O receio em fazer o exame tem raiz em concepções machistas, que procuram ‘preservar a masculinidade’ dos brasileiros. São feitas piadas e até vídeos de humor sobre o exame, estimulando a negligência com a própria saúde. É importante desconstruir esse modelo viril, pois só contribui para aumentar sofrimento”, afirma Élbia Pires, coordenadora da Secretaria para Assuntos de Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF.

 

“Isso é uma construção social que pode ser eliminada. Esse preconceito é o que causa a falta de cuidado e a morte de milhares de homens de uma doença curável na maioria dos casos. É por isso que a conscientização do Novembro Azul ganha ainda mais importância e ressalta a necessidade do exame preventivo de PSA e o de toque retal. Isso é ter cuidado com o próprio corpo”, completa Letícia Montandon, coordenadora de Imprensa do Sinpro-DF.

 

Para Luciane Kozicz, psicóloga do Sinpro-DF, romper com os preconceitos, conversar sobre seus sentimentos é um grande desafio para saúde mental masculina. “Aprisionados em modelos performáticos, muitos homens acabam perdendo a vida ou fazendo tratamentos mais intrusivos por vergonha de realizar o preventivo do câncer de próstata, uma vez que esse é feito por meio do toque retal”, informa.

 

Um levantamento do Inca sobre o câncer de próstata relacionado ao trabalho dá conta de que, entre 2020 e 2022, 65.840 homens serão afetados por esse tipo de câncer no Brasil. “É importante romper com o preconceito e com o medo da covid-19. Assim como o Outubro Rosa, momento de conscientização das mulheres sobre a importância do exame preventivo, de forma idêntica o Novembro Azul é importante para os homens porque, no Brasil, o machismo criou o preconceito contra um exame de toque para detecção do câncer de próstata que salva vidas”, alerta Cláudio Antunes, diretor do Sinpro-DF.

 

O movimento Novembro Azul surgiu na Austrália, em 2003, onde é chamado de Movember. No Brasil, começou em 2008, quando o Instituto Lado a Lado pela Vida iniciou uma campanha para quebrar o preconceito do homem de ir ao médico fazer o exame preventivo de toque.

 

Serviço do Ministério da Saúde

O que é a próstata?

 

É uma glândula do sistema reprodutor masculino, que pesa cerca de 20 gramas, e se assemelha a uma castanha. Ela localiza-se abaixo da bexiga e sua principal função, juntamente com as vesículas seminais, é produzir o esperma.

 

Sintomas:

 

Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Na fase avançada, os sintomas são:

 

  • dor óssea;
  • dores ao urinar;
  • vontade de urinar com frequência;
  • presença de sangue na urina e/ou no sêmen.

 

Fatores de risco:

 

  • histórico familiar de câncer de próstata: pai, irmão e tio;
  • raça: homens negros sofrem maior incidência deste tipo de câncer;
  • obesidade.

 

Prevenção e tratamento:

 

A única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico). Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal. Outros exames poderão ser solicitados se houver suspeita de câncer de próstata, como as biópsias, que retiram fragmentos da próstata para análise, guiadas pelo ultrassom transretal.

 

A indicação da melhor forma de tratamento vai depender de vários aspectos, como estado de saúde atual, estadiamento da doença e expectativa de vida. Em casos de tumores de baixa agressividade há a opção da vigilância ativa, na qual periodicamente se faz um monitoramento da evolução da doença intervindo se houver progressão da mesma.