Nota de falecimento | Professor Alberto Roberto Costa

A diretoria colegiada do Sinpro-DF informa que foi com imensa tristeza e pesar que recebeu a notícia do falecimento, na noite dessa quarta-feira (23/12), do professor, pesquisador e escritor Alberto Roberto Costa. Ele estava hospitalizado com Covid-19 e não resistiu à doença. O sepultamento foi no cemitério na saída de Luziânia, nesta quinta-feira (24), às 10h.

Filho de Maria José Costa, servidora aposentada da carreira Assistência, Alberto foi professor negro de educação básica da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEEDF) por 23 anos. Ele foi professor de artes em várias escolas, dentre elas, Escola Parque 308 Sul, Elefante Branco, CEF 1 e CED 6, essas últimas no Gama. Atuou também na Coordenação Regional de Ensino do Gama (CRE).

Homem íntegro, humano, militante fervoroso da educação antirracista, na sua breve passagem pela Terra, construiu sua história de vida e profissional na luta em defesa da justiça social por meio da educação. Na sua atuação diária, sobretudo no magistério e na sua produção intelectual, foi intransigente contra o racismo, sempre trabalhando e ajudando a construir um pensamento humanizado, buscando, incansavelmente, por um mundo melhor. Por meio do ensino da arte, ele colocava em prática o esperançar da pedagogia freireana.

A prova disso é seu livro “A escolarização do corpus negro – Processos de docilização e resistências nas teorias e práticas pedagógicas no contexto de ensino–aprendizagem de artes cênicas”, publicado pela editora Paco Editorial. Filiado ao Sinpro-DF, Alberto parte jovem, aos 43 anos, e deixa uma produção de conhecimento novo em curso, aberta para quem precisa dar continuidade. Era mestre em artes e, atualmente, estava afastado para doutoramento em Educação na Universidade de Brasília (UnB). Sua pesquisa era no campo da arte-educação com enfoque nas pedagogias interculturais e insurgentes, criadas a partir de experiências estéticas afro-brasileiras.

O Grupo de Pesquisa Educação, Saberes e Decolonialidades (GP/DES/PPGE/UnB), do qual ele fazia parte, destaca que Alberto tinha, em sua personalidade, amorosidade, bondade, generosidade e beleza com o que tratava a todos(as). “Alberto é professor negro da SEEDF, militante pulsante da educação antirracista, permeando toda sua trajetória pela luta contra o racismo, pela amorosidade, pela bondade, pela beleza e generosidade com que trata a todos e pela forma como se responsabiliza pela educação. Filho, irmão, amigo amado de todos que o conhecem”.

O grupo também destaca que ele era filho de Oxum e, com isso, “permanece vivo pela energia ancestral, pela memória e por todas as sementes que brotaram e brotarão”. Em uma publicação de Facebook, do dia 17 de outubro deste ano, ele mesmo contou que alfabetizou por 7 anos, no início da carreira de professor, e, desde 2004, atuava como professor de arte. Na sua postagem, sentimos sua amorosidade com todos e todas e percebemos como o ensino das artes e a luta antirracista eram, para ele, indissociáveis da educação. Confira:

“Em 2011, dei aulas para o Ensino Fundamental numa escola do Gama com turmas de 6º e 7º ano. Durante o ano, fiz um trabalho com danças afro-brasileiras com as turmas de 6º ano. Montei coreografias inspiradas nas danças tradicionais e uma turma apresentou o jongo para todas as turmas daquele turno na escola. No ano seguinte, estes/as mesmos/as estudantes foram meus alunos no 7º ano e, como o conteúdo era diferente, fiz outro trabalho voltado mais para artes visuais com foco no Brasil Colônia. Quando começou o movimento nas turmas de 6º ano provocado pelos ensaios das danças, a turma que dançou jongo no ano anterior me procurou pedindo para apresentar. Eu respondi que não tinha como, porque eu já havia fechado a avaliação deles/as e pelo fato de já terem passado por aquela experiência, agora a nota seria a partir do conteúdo que estavam tendo contato no 7º ano, então não teria como dar a nota. Para minha surpresa, uma aluna respondeu: “Professor, a gente não quer a nota. A gente só quer dançar o jongo”. Um outro estudante, quase implorando, disse: “Por favor, professor, deixa!!!”. Neste momento, meus olhos encheram d’água e emocionado eu os coloquei na sequência das apresentações. Esse fato não ficou marcado só na vida deles/as, mas na minha também e só evidenciou o quanto precisamos “amansar a escola”, como diz Célia Xakriabá, para que epistemologias negras possam enegrecer processos de ensino-aprendizagem e nos fazer pensar-dançar com todo o corpo, pois, como sugere o filósofo Renato Noguera: “Pensar é um ato coreográfico”, declarou.

A diretoria colegiada do Sinpro-DF lamenta seu falecimento e se solidariza com a família, os(as) amigos(as), colegas e estudantes.