Niara, a “proselitista”?

Em mais uma afronta à liberdade de cátedra, um professor da rede pública do DF está sendo atacado por deputados radicais desinformados e pela secretaria de educação do Distrito Federal por usar em suas aulas de sociologia do ensino médio a cartilha com um ano de tirinhas da personagem Niara, que explica a necessidade de tributação dos super-ricos, conteúdo compatível com a grade curricular das competências e habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio.

A cartilha, que pode ser baixada neste link, é resultado de um ano de tirinhas da Niara. A personagem foi criada pelo cartunista Aroeira para fortalecer a campanha Tributar os Super-Ricos, lançada por 70 organizações brasileiras para promover justiça fiscal. Em quadrinhos, ao estilo dos personagens Armandinho e Mafalda, a pré-adolescente negra nasce para explicar as distorções na cobrança de impostos no Brasil.

Entre as 70 organizações brasileiras que compõem a campanha estão o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Todo o material, intelectual ou impresso, é resultado da parceria dessas 70 entidades cidadãs que defendem os direitos de brasileiros , e que têm responsabilidade com a classe trabalhadora do país.

A campanha foi concebida como uma das formas de se promover a justiça social no país. Pesquisa feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) dá conta de que a desigualdade aumentou mais no Brasil durante a pandemia quando comparada a outros 40 países. O levantamento utilizou dados sobre a percepção da população em relação às políticas públicas de saúde, educação e meio ambiente. De acordo com o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, em entrevista à Rede Brasil Atual, trata-se de um modelo econômico adotado nos últimos anos que vem ampliando o abismo social no país.

Defina super-ricos

Super-ricos são pessoas pra lá de “exclusivas”. Para entrar nesse seleto grupo, é necessário acumular patrimônio de mais de US$ 1 milhão (um milhão de dólares, que fique bem claro). No Brasil, são 207 mil pessoas que conseguiram acumular essa fortuna – e elas, juntas, concentram quase metade da riqueza total do país (49,6%, para sermos mais exatos). Os dados foram fornecidos pelo relatório Riqueza Global, publicado anualmente pelo insuspeito banco Credit Suisse.

Contextualizar essa realidade socioeconômica não só é papel da escola e previsto na BNCC, como é material didático para adolescentes do ensino médio, e não para criancinhas, como alguns desinformados supõem. Atrelar a ideia de justiça tributária à ideia de justiça social é demanda mais que urgente da escola brasileira.

“Lamento que, estando na capital do país, em século XXI, com milhões de brasileiros e brasileiras passando fome por causa do desemprego e de políticas desastrosas adotadas por um governo irresponsável e genocida, ainda tenhamos que lutar para que esse debate seja realizado pela escola. A cartilha da Niara deveria estar presente em todas as escolas do país, públicas ou privadas, para suscitar o debate e a reflexão entre jovens que estão a um passo de chegarem à universidade”, indignou-se a diretora do Sinpro, Rosilene Corrêa.

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