NEM em sonho: manifestantes rejeitam o Novo Ensino Médio (NEM)

2023 03 15 brasilia revoga nem ubes
Foto: Divulgação Ubes

Estudantes da rede pública de ensino e trabalhadores/as da educação se concentraram em frente ao Museu Nacional da República, em Brasília (DF), nesta quarta-feira (15) e marcharam pela Esplanada dos Ministérios para pedir a revogação do Novo Ensino Médio (NEM) – Lei 13.415/2017. “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, revoga a reforma ou paramos o Brasil” – gritaram manifestantes durante o protesto.

O ato foi organizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro/DF) e deixou claro o recado: “NEM? Nem em sonho”. Mais de 50 manifestações rejeitando esse projeto para o ensino médio foram confirmadas em todo país – veja aqui os locais.

 

A diretora de Mulheres da UBES, Beatriz Nobre, explicou que o pleito é baseado no entendimento de que o modelo prejudica tanto estudantes quanto professores. “Pela forma que está sendo colocado, tem uma grande diferença da expectativa para a realidade. As escolas não têm estrutura para sediar aulas, fora a questão que tiraram matérias de humanas da grade curricular e diminuíram as horas de matemática e de português”, disse.

O Novo Ensino Médio foi instituído com a Lei 13.415/17, no governo de Michel Temer, mas só trouxe mais problemas e insatisfação para alunos e professores. De acordo com a UBES, a proposta teria que flexibilizar o currículo e oferecer aos alunos uma formação mais direcionada às suas áreas de interesse, mas o que ocorreu foi uma grande falta de clareza em relação aos objetivos da reforma e sua aplicação.

Para o vice-presidente da UBES do Distrito Federal, Lucas Cruz, os estudantes são os maiores prejudicados com toda essa situação. Ele defende uma educação verdadeiramente emancipadora, ou seja, libertadora, democrática, e, sobretudo, dialógica. “O Novo Ensino Médio tira a dialogicidade da educação que tanto nós queremos. Por isso, hoje, os estudantes do Brasil estão reunidos pela revogação do Novo Ensino Médio”, afirmou.

2023 03 15 moreno 02
Foto: Moreno Nobre

Congresso Nacional

Durante o percurso do ato, os secundaristas pararam em frente ao Congresso Nacional, onde prosseguiram com seus cantos e discursos a favor de uma educação justa e igualitária, principalmente entre a rede pública e o ensino privado.

Segundo a presidente do Grêmio Estudantil Honestino Guimarães (Cemeb), Luíza Duran, o Estado não quer estudantes inteligentes que são críticos, mas estudantes inteligentes o suficiente para controlar máquinas e burras o bastante para aceitarem a sua situação. Ela, inclusive, entoou o grito de guerra do Cemeb. “O futuro que eu quero pro meu país infelizmente está atrasado, porque pobre formado derruba o Estado.”

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) disse que os estudantes cumprem um papel fundamental com essa mobilização pela revogação, uma necessidade política que se impõe. “Esse Novo Ensino Médio representa a precarização da vida de estudantes e professores, não levando em conta as dificuldades estruturais, principalmente dos estudantes de baixa renda. Todo tipo de dificuldade é aplicada para cassar o pensamento crítico”, declarou.

2023 03 15 moreno 01
Foto: Moreno Nobre

MEC

Em frente ao Ministério da Educação, o deputado distrital e secretário de Assuntos Jurídicos e Legislativos da CNTE, Gabriel Magno (PT), lembrou que os estudantes estavam na linha de frente da resistência da agenda liberal dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. “Foram os estudantes que ocuparam as escolas contra esse absurdo que é a reforma do Novo Ensino Médio”, destacou.

Gabriel cobrou a revogação do Novo Ensino Médio, porque ele não representa os interesses da juventude brasileira. “Ele – o Novo Ensino Médio – ataca e afronta os profissionais da educação”.

>> Acesse a galeria de fotos dos protestos que ocorrem em todo país

Luta coletiva

A CNTE é uma das 300 entidades que assinam uma carta que pede a revogação do Novo Ensino Médio e que alerta sobre os retrocessos desse projeto. Para as entidades, a reforma induz jovens de escolas públicas a cursarem itinerários de qualificação profissional de baixa complexidade e ofertados de maneira precária em escolas sem infraestrutura.

O presidente da CNTE, Heleno Araújo, destaca que a posição contrária à medida foi deliberada em 2022 pela Conferência Nacional Popular de Educação (Conape) e tem sido amplamente divulgada.

“Preparamos um documento à equipe de transição do governo e oficializamos ao ministro da Educação, Camilo Santana, com a entrega da Carta de Natal, nossa cobrança pela revogação. A luta dos estudantes demonstra que a insatisfação com o modelo é geral, de trabalhadores e trabalhadoras até os alunos e alunas”, explica.

A edição nº35 – volume 16 – da revista Retratos da Escola, da escola de formação da CNTE, debate a implementação do Novo Ensino Médio nos estados, com um dossiê organizado pelos professores Fernando Cássio e Débora Cristina Goulart. Clique aqui para acessar a publicação.

O novo ensino médio tem objetivo de tornar a etapa mais atrativa e ampliar a educação em tempo integral, mas a implementação enfrenta desafios estruturais, resistência e até desconhecimento por parte da população. Para a CNTE, não tem nada nesta proposta do novo ensino médio que dê para se aproveitar.

“A ideia é revogar o entulho do golpe. O novo ensino médio veio, por imposição, através de uma Medida Provisória, por um governo que não tinha legitimidade popular, sem qualquer diálogo com os setores da área de educação. Apresentamos a demanda de revogação do ensino médio e da Base Nacional Comum Curricular para Lula, e ele foi sensível aos problemas apresentados e prometeu analisar melhor o pedido”, afirmou Heleno Araújo, à Agência Brasil, durante um encontro com entidades de trabalhadores da educação, no Palácio do Planalto, no último dia 7.

>> Saiba mais – Em reunião com Lula, CNTE pede revogação do novo ensino médio

> Saiba mais – MEC abre as portas para o diálogo com a CNTE

Fonte: CNTE