Mujica convoca juventude a defender e lutar pela democracia

Em um momento político crítico, em que os setores conservadores brasileiros pretendem implementar um golpe capaz de tolir os direitos da juventude, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, aconselhou milhares de jovens: “Creiam, lutem!” A orientação foi dada na 3ª Conferência Nacional da Juventude – Conjuve, nessa quarta-feira (16), em Brasília. O evento tem como finalidade a formulação do Plano Nacional de Juventude e traçará metas para a implantação de políticas públicas que privilegiem esse setor da sociedade.
O atual senador uruguaio ressaltou que as lutas só terão efeito se forem coletivas. “Sozinhos nada somos e precisamos nos unir com quem pensa parecido, respeitando as diferenças”. A ideia foi compartilhada pela presidenta Dilma Roussef, que participou da abertura da Conjuve ao lado de Mujica. Os dois influentes políticos latino-americanos tiveram a juventude marcada por combates em favor da democracia.
Dilma discursou para uma plateia atenta e emocionada, que se amontoou em cima das cadeiras para melhor enxergar a presidenta que sofre constantes ataques políticos. “Democracia é mudar o Brasil para melhor. Em minha juventude, vivi e lutei contra o pesadelo decorrente do desrespeito à democracia. Eu, Pepe e outros latino-americanos sabemos onde pequenos e grandes passos nos levam depois do pesadelo que se instaurou quando a ditadura emergiu”, lembrou.
Para Dilma, não existe razão consistente nos atos de quem tenta interromper um mandato eleito legitimamente nas urnas. Segundo ela, essa falta de razão tem nome: golpe. “A Constituição brasileira prevê, sim, o impeachment. Ela não prevê é a invenção de motivos.” Ainda segundo a chefe do governo, os que pretendem aprovar o impeachment a qualquer custo têm a biografia manchada. “Não compartilho com as práticas da velha política”, completou dizendo que o governo democrático popular que vigora no país há 13 anos incluiu o povo brasileiro nas rubricas orçamentárias
Em referência ao tema do 3º Conjuve: “As várias formas de mudar o mundo”, Dilma discursou: “Não mudaremos o Brasil fechando escolas e não vamos reprimir movimentos pacíficos com força da polícia. Não mudaremos o Brasil ignorando a epidemia de violência contra a juventude negra, muito menos mudaremos o Brasil adotando a redução da maioridade penal. Não mudaremos legislando contra a diversidade das famílias, característica da nossa população. Não mudaremos reduzindo direitos conquistados por uma parcela”. A presidenta afirmou ainda que para mudar, temos que garantir o voto e respeitar o desejo exprimido nas urnas.
Participaram do evento o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Daniel de Souza, o secretário-nacional de Juventude, Gabriel Medina, e a secretária-adjunta da SNJ e vice-presidenta do Conjuve, Ângela Guimarães.
Unidade e Coletividade
Drogas, imprensa e mudança de mentalidade foram os principais temas abordados pelo ex-presidente do Uruguai na Conferência. “O aumento da droga e o narcotráfico são pragas; se o mundo a legaliza, pelo menos eliminamos uma delas: o narcotráfico”.
Ainda sobre o tema, o senador chamou atenção para o assassinato de sete jornalistas no Paraguai em apenas quatro anos. Todos morreram enquanto investigavam o narcotráfico. “Será que os jornalistas não são solidários com os que morreram? Mas não são eles; são as orientações que eles recebem. A imprensa não educa contra as drogas, mas claro que existem as exceções”.
Em relação à juventude, ele deixou seu recado: “Vocês não são melhores nem piores do que nós quando éramos jovens; são diferentes. Vocês têm o direito de cometer seus erros, mas serão infames se cometerem os mesmos erros que nós cometemos”.
Disque racismo
Durante o evento, a presidenta Dilma anunciou mudanças no Disque 100, serviço que trata de violações dos direitos humanos. Agora, o canal inclui denúncias sobre questões raciais. Segundo a presidenta, o serviço foi reformulado para atender e encaminhar as vítimas desse tipo de crime, que durante muito tempo foi silenciado e negligenciado pelos governos sob um discurso de que “no Brasil não existe racismo”.