MST pede investigação e punição aos responsáveis pela morte de dois sem-terra

Após a morte de dois sem-terra na tarde desta quinta-feira (7), no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pediu a investigação e a punição dos responsáveis pelo crime. De acordo com o movimento, seguranças e jagunços da madeireira Araupel participaram da ação, junto com a Polícia Militar (PM). A empresa alega ser proprietária da área ocupada pelos sem-terra; no entanto, a Justiça Federal reconheceu que o terreno pertence à União.
As vítimas, Vilmar Bordim e Leonir Orback – que tinham entre 20 e 30 anos –, eram militantes do MST e trabalhavam na organização do acampamento. Vilmar era casado e pai de três filhos, e Leonir deixou esposa grávida de nove meses. Além das duas mortes, cerca de 20 trabalhadores sem terra foram gravemente feridos.
Em nota, a direção estadual do MST descreve a situação da seguinte maneira: “A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela Justiça, quando foram surpreendidos pelos policiais e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veículo onde se encontravam os Sem Terra”.
De acordo com o advogado da comarca de Quedas do Iguaçu, Claudemir Torrente, que acompanhou de perto a situação, “todas as vítimas foram baleados pelas costas, o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com os policiais”.
Além das mortes, a emboscada – que teria sido organizada pela PM, segundo o MST –, deixou pelo menos sete sem-terra feridos. Nenhum policial apresentou ferimentos.
A área do acontecimento foi isolado pela PM, impedindo a aproximação de familiares das vítimas, advogados e imprensa, por aproximadamente duas horas. Há denúncias de advogados presentes no local de que os policiais removeram os corpos e objetos da cena do crime, sem a presença do Instituto Médico Legal (IML).
Os feridos foram socorridos duas horas após o ataque e levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a dois hospitais da região, acompanhados de uma viatura da equipe de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam).
De acordo com Elcir Zen, advogado que assessora o MST na região de Cascavel, a polícia também impediu o acesso de familiares e advogados às vitimas no hospital. “A ordem dos coronéis era a de que nenhum dos advogados poderia conversar com os feridos. Além de mim – advogado da família de Henrique Gustavo Souza Prati –, havia outras dezenas de advogados voluntários do Centro de Direitos Humanos de Cascavel. Após termos sido vencidos pelo cansaço, a polícia levou escrivães para escutarem as vítimas durante a madrugada, sem a nossa presença”, afirma Zen.
Em vídeo gravado pelo advogado, dentro do Hospital Universitário de Cascavel, Henrique tranquiliza a família: “Levei um tiro na perna, e amanhã de manhã (sexta-feira) saio de cirurgia. Pretendo o mais rápido possível voltar para casa”.
Contradição da SESP
Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SESP) afirma que os policiais foram alvos de emboscada, mas confirmam a informação de que dois agricultores sem-terra foram mortos e seis ficaram feridos. Para o advogado da Terra de Direitos, Fernando Prioste, apesar dos fatos ainda precisarem ser apurados, a posição da SESP é contraditória. “É uma contradição dizer que a polícia sofreu emboscada, mas quem morreu foram os trabalhadores”, disse.
Tensão
As mortes refletem um clima de tensão proliferado na região por lideranças políticas, de segurança pública e pela mídia local, desde a instalação de dois acampamentos do MST em terras de domínio da União, mas que a empresa Araupel alega ser proprietária. Outras denúncias sobre ameaças de morte sofridas por lideranças do movimento já haviam sido notificadas ao Ministério Público à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), no ano passado.
Em virtude do conflito, no dia 1º de abril, o chefe da Casa Civil do governo do Paraná, Valdir Rossoni se reuniu com o secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita, em Quedas do Iguaçu. No encontro, também estavam o subcomandante da Policia Militar do Paraná, coronel Arildo Luiz Dias, o delegado geral da Polícia Civil, Julio Reis, e o delegado de policiamento do interior, Valmir Soccio, entre outros representantes da cúpula da polícia panaense.
Segundo matéria divulgada pela Agência Estadual de Notícias, no mesmo dia, o grupo anunciou “reforço nas ações policiais e a ampliação da fiscalização de órgãos estaduais em Quedas do Iguaçu e região”.
Veja a íntegra da nota publicada pelo MST:
Policia Militar e pistoleiros atacam famílias Sem Terra e assassinam dois trabalhadores do MST, no Paraná
Na tarde de quinta-feira (07/04), famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno, no município de Quedas do Iguaçu, região centro do Paraná, foram vitimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar do Estado e por seguranças contratados pela empresa. O acampamento, cuja ocupação teve início em maio de 2015, possui aproximadamente 1,5 mil famílias.
O acampamento está localizado no imóvel Rio das Cobras que foi grilado pela empresa Araupel. A Justiça Federal declarou, em função da grilagem, que as terras são publicas e pertencem à União, e devem ser destinados para a reforma agrária.
A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policias e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, e nesse momento, para se proteger, os trabalhadores correm pelo mato em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram.
No ataque da PM dois Sem Terra foram assassinados, sete estão feridos- o número exato ainda não foi confirmado – e dois foram detidos para depor e já foram liberados. O local onde ocorreu a emboscada foi isolado pela polícia militar, impedindo a aproximação de familiares das vitimas, advogados e imprensa, ameaçando as pessoas que se aproximavam. Tal atitude permite à policia destruir provas que podem esclarecer o grave fato.
A Policia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomando as ruas, cercando a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, impedindo qualquer contato das vitimas com familiares, advogados e imprensa.
O ataque da PM aos Sem Terra, adentrando em área federal, aconteceu após a visita, no dia 01 de abril, ao município de Quedas do Iguaçu, do Secretario Chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni, do Secretario de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, e representantes das cúpulas da policia do Paraná. Que determinaram o envio de um contingente de mais de 60 PMs para Quedas do Iguaçu.
O MST está na região há quase 20 anos, e sempre atuou de forma organizada e pacifica paraque houvesse o avanço da reforma agrária, reivindicando que a terra cumpra a sua função social. Só no grande latifundiário da Araupel foram assentadas mais de 3 mil famílias.
O MST exige:
– Imediata investigação, prisão dos policias e seguranças, e punição de todos os responsáveis – executores e mandantes- pelo crime cometido contra os trabalhadores rurais Sem Terra.
– O afastamento imediato da policia militar e a retirada da segurança privada contratada pela Araupel.
– Garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores acampados do Movimento na região.
– Que todas as áreas griladas pela empresa Araupel sejam destinadas para Reforma Agrária, assentando as famílias acampadas.
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!
Direção Estadual do MST