Morte de professor por covid-19 aumenta insegurança e medo na categoria

Um mês após o retorno presencial dos profissionais do Magistério público às escolas no Distrito Federal, infelizmente, aconteceu a primeira morte de um professor por covid-19. O professor Joseli Gomes de Farias, do CED Stella dos Cherubins Guimarães Trois, em Planatina, faleceu aos 53 anos nesta terça-feira, 14, no hospital de campanha do Gama.

Na escola, a equipe gestora e o grupo de professores(as) estão consternados com a perda de um colega querido, que era muito dedicado ao trabalho e tinha ótimo relacionamento com todos. De outro lado, estão também profundamente preocupados e se sentindo desamparados: além do óbito, o CED Stella dos Cherubins Guimarães Trois registrou também 6 casos positivos de covid-19. O quadro se apresenta em um momento em que a Secretaria de Educação (SEEDF) descumpre o acordo feito com o Sinpro e determina o retorno presencial imediato daqueles e daquelas que não completaram o ciclo de imunização. 

“As perdas pedagógicas em relação ao ensino remoto, podemos recuperar. E a vida do nosso companheiro de jornada, podemos?”, questiona, com tristeza, a professora Luciana Ribeiro, colega de Lee – como o professor era carinhosamente chamado. “Só sobrou a dor da perda, e uma enorme insegurança em retornarmos ao ensino presencial”, desabafa.

Testagem em massa é fundamental

De acordo com relatos do grupo, a ventilação das salas é inadequada. O prédio, no modelo novo, possui janelas de basculante, que abrem de forma limitada. A direção da escola solicitou, via SEI (sistema eletrônico de informações), à secretaria que fosse feita uma inspeção nas janelas, mas ainda não obteve a visita.

A direção da escola se empenhou para que o trabalho dos profissionais e dos estudantes transcorresse da forma mais segura possível: “Adquirimos os materiais necessários e ampliamos a equipe de limpeza, por exemplo”, relata o diretor da escola, professor Adimário Rocha Barreto. “Mas, infelizmente, assim como nas nossas casas, estamos sujeitos a fatalidades”, diz ele.

A dificuldade de acesso aos testes é apontada pelos professores e professoras como um grande fator de risco. “Nosso salário está congelado há seis anos, muitos não podem pagar um plano de saúde ou o valor exorbitante que vem sendo cobrado para os exames de covid”, ressalta a professora Luciana. Uma consequência da não testagem é a circulação de pessoas contaminadas que estão assintomáticas ou pré-sintomáticas, e acabam transmitindo o vírus. Desde o início da pandemia, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda enfaticamente que se promova a testagem em massa, como uma das mais importantes medidas de contenção do contágio.

“O governo não investiu em exames, e o resultado é que as UBS (unidades básicas de saúde) só testam quem está com sintomas”, afirma a professora Luíza Oliveira, da mesma escola. Vale lembrar que a operação do Ministério Público do Distrito Federal “Falso Negativo”, em julho de 2020, apontou um suposto envolvimento da cúpula da Secretaria de Saúde do DF em esquema de superfaturamento na compra de testes de covid-19. O então secretário, Francisco Araújo Filho, chegou a ser preso na operação.

“Essa foi uma das principais reivindicações do Sinpro para o retorno presencial”, lembra Consuelita Oliveira, diretora do sindicato que acompanha o CED Stella dos Cherubins. “As escolas são locais de grande circulação de pessoas, é preciso ter responsabilidade com a vida da comunidade escolar e seus familiares”, destaca ela.

Professores e professoras relatam a triste insegurança de visitar pessoas idosas sem saber se estiveram expostos(as) ao vírus ou não. “Ninguém consegue trabalhar nesse estresse, é desumano”, diz a professora Luíza.

Em um mês, o CED Stella teve seis casos confirmados. A escola foi sanitizada nesta quarta (15), e as aulas serão ministradas em formato remoto até o final desta semana, prazo que poderá ser ampliado.

Casos de covid nas escolas do DF

Até o momento, 101 escolas contabilizam casos de covid-19 entre profissionais da Educação e/ou estudantes. Segundo dados do Comitê de Monitoramento de Retorno às Aulas Presenciais, entre as queixas e denúncias por parte de professores(as) e orientadores(as) educacionais, muitas se referem à não testagem daqueles e daquelas que circulam na escola e a não disponibilização, ou disponibilização limitada, de máscaras de proteção pelo GDF. Esse é um problema generalizado no DF, que vê a taxa de transmissibilidade aumentar e as restrições à circulação se afrouxarem.

O Sinpro ingressou com ação na Justiça para anular a circular nº 7, que determina o retorno presencial de todos indistintamente, inclusive aqueles e aquelas que não tiveram seu ciclo de imunização completado. Nas mesas de negociação com a SEDF, o sindicato tem insistido na testagem em massa como forma de prevenir o contágio. “A variante Delta já é predominante no DF, e todos sabemos que ela é muito mais contagiosa que a cepa original do vírus”, aponta Consuelita, diretora do Sinpro.

O Sinpro-DF lançou, nesta quarta (15), a campanha “Minha Vida Também Vale Muito”. A iniciativa tem como objetivo defender a vida e exigir do GDF tratamento isonômico a toda a categoria.

A campanha publicará fotos de professoras(es) e orientadoras(es) educacionais com cartazes “Minha Vida Também Vale Muito” nas redes sociais do Sinpro-DF, marcando o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o GDF, a SEDF e a secretária da pasta, Hélvia Paranaguá.

A diretoria colegiada do Sinpro reafirma sua solidariedade à família, amigos e colegas do professor Joseli Gomes de Farias, o Lee. Lamentamos muito essa perda irreparável e seguiremos na luta para evitar que a tragédia da covid-19 continue vitimando nossa categoria e o povo brasileiro.

 
 

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