Professora lança livro e exposição poética no mês de março

Lúcia Boonstra é professora aposentada, formada em Letras e especialista em atendimento aos superdotados. Participou de diversas coletâneas e foi premiada por duas delas (Sem Fronteiras Pelo Mundo – volumes 6 e 7); acaba de lançar o livro Soprados das Gavetas e está em cartaz no foyer da Câmara Legislativa do DF com a exposição Simbiose, em parceria com a fotógrafa Ana Carvalho. É sim uma escritora, uma poetisa, mas é ainda mais: “Sou uma curiosa das palavras e dos sentimentos humanos”, diz.

A exposição Simbiose é composta de 4 poemasfoto e 4 fotospoema, cumprindo o desafio de somar emoções e sensações através da inter-relação entre linguagens artísticas: são fotos inspiradas em poemas e poemas inspirados em fotos. A data de exibição foi prorrogada, e a exposição permanecerá em cartaz até 30 de março. A entrada é gratuita.

Simbiose esteve presente na coletiva do Festival Ouvirandô-Horizontes Vivos/2022, realizada no Consulado Geral do Brasil nos Países Baixos, no Festival de Literatura do mesmo evento, e na Ramsés Shaffi Huis em Amsterdam.

O livro Soprados das Gavetas foi lançado em março pela editora In-Finita, e reúne poemas escritos por Lúcia ao longo de anos. Para adquirir um exemplar, a pessoa interessada deve procurar a autora pelas redes sociais (instagram e facebook), através de mensagens privadas, no perfil @luciaboonstra.

Leia abaixo a entrevista que Lúcia Boonstra concedeu ao Sinpro sobre sua trajetória e sua arte.

 

1- Professora, a senhora se define não como uma escritora ou poetisa, mas sim, como uma curiosa das palavras e dos sentimentos humanos. Aonde essa curiosidade já lhe levou, e onde você espera chegar?

Lúcia: Interessante pergunta. Inclusive, acredito que preciso reescrever esse trecho da minha bio. É preciso lembrar que venho de uma família mineira muito simples, meu pais chegaram a Brasília em 1961 em busca de melhores condições de vida, assim como tantos outros candangos. A educação da época era diferente, principalmente para as meninas.

Nas últimas semanas, tenho me surpreendido com outras leituras, escritoras negras, feministas, ativistas que buscam ser reconhecidas dentro das suas raízes, dentro das suas histórias; com suas denúncias, dores e anseios. Aliadas a essas leituras, venho fazendo outras que promovem o autoconhecimento. Resultado disso é que descubro que há em mim um certo sentimento de desvalorização, um medo de me assumir capaz de ser Escritora, de ser Poetisa!

Entretanto, após o lançamento e a recepção positiva do Soprados das Gavetas posso mudar esta afirmativa. Continuo sendo uma curiosa das palavras, das emoções e dos sentimentos humanos. E, naturalmente, essa curiosidade já me proporcionou experiências interessantes; porque é através dela que vou sendo impulsionada a ler mais, a descobrir o valor das palavras para as pessoas, a forma como elas as usam e, acima de tudo, com quais sentimentos as usam ou quais emoções as palavras suscitam em nós. Todo texto, de alguma forma, tem que nos tocar, principalmente a poesia.

Aonde eu espero chegar? Quero continuar estimulando as pessoas com as palavras… trazendo-lhes reflexões ou despertando emoções. Quero publicar o próximo livro, que será de mini contos. Um misto de histórias engavetadas renovadas.

2- Pode nos contar um pouquinho sobre seu recém-lançado livro Soprados das Gavetas?

Com muito prazer. Durante a pandemia, em 2021, recebi um convite para participar de uma coletânea, Sem Fronteiras pelo Mundo. Como estava trancada em casa e não havia muito o que fazer, decidi participar. Enviei dois poemas que há muito havia escrito. Para minha surpresa, um deles foi agraciado com uma Honra ao Mérito. Fui então entrevistada pela presidente da Rede Sem Fronteiras, responsável pelo projeto editorial da mencionada coletânea e, durante a entrevista, ela reiterou diversas vezes que eu era uma escritora sim. Escritora de gaveta; e que precisava tirar meus escritos de lá. Era uma verdade. Escrevo desde a adolescência, tinha papéis espalhados nas gavetas, dentro de livros e em outros cantos.

Dyandréia Portugal é jornalista e presidente de uma entidade que promove e fomenta a cultura lusófona e a língua portuguesa em mais de 20 países, portanto, eu não tinha como duvidar dela. Passei a ser convidada para participar de outras coletâneas e, então, reuni os poemas engavetados. Hoje eles estão sendo Soprados das Gavetas para o mundo, com muito apreço e carinho. Será lançado na Feira do livro de Lisboa, ainda este ano.

E, no ano passado, convidei uma fotógrafa portuguesa, que reside em Amsterdam, e realizamos a exposição “Simbiose: Poemasfoto e Fotospoema” em dois espaços em Amsterdam: Ramses Shaffi Huis e no Consulado Geral do Brasil. Aqui, em Brasília, convidei a escritora e amiga Almerinda Garibaldi para enriquecer esta amostra, que agora está no foyer da CLDF até dia 30 de março. São 16 quadros, onde as palavras abraçam a imagem e vice-versa. Emoções e palavras em perfeita simbiose. Inclusive, agradeço a Dyandréia Portugal e a todas as colegas da Rede Sem Fronteiras, especialmente aquelas que se fizeram presentes no lançamento do Soprados das Gavetas, no dia 08 de março na CLDF; momento em que celebramos a finissage da Simbiose. Depois, o prazo foi prorrogado e ficará até dia 30 deste mês.

3- Como sua experiência como professora da rede pública, sobretudo na Sala de Recursos, lidando com estudantes superdotados, contribuiu para sua prática de poetisa?

Vou responder a esta pergunta narrando sobre o texto de apresentação do Soprados das Gavetas, que foi escrito por Bruna Ferreira, coordenadora editorial do IPHAN. Ela conta que, quando foi minha aluna, realizou um projeto fotográfico das árvores do Gama. Com as fotos espalhadas na mesa, eu a questionei sobre o nome que daríamos àquela amostra. Ela, com 8 anos, respondeu impetuosamente “Galho para todo lado”. Eu prontamente redargui: Onde está a poesia neste título?

Cada um dos meus alunos contribuiu para a minha construção como pessoa que sou, e é esta pessoa que foi capturando fragmentos de histórias, de alegrias, de tristezas, de decepções e de tantas outras emoções e transformando-as em poesias. É o que faço até hoje. Conheço pessoas, me relaciono com elas, procuro vê-las e, então, escrevo.

Falando ainda da minha relação com os alunos, não posso deixar de mencionar que o capista e diagramador, criador de toda a arte do Soprados das Gavetas e as demais a ele relacionadas, é um ex-aluno, também da Sala de Recursos. Sávio Gerardo, publicitário, coordenador de marketing. Aproveito o ensejo para agradecer a ele e a Bruna Ferreira pelo carinho e atenção que me prestaram nesse percurso do Soprados das Gavetas.