Livros didáticos indicados pelo MEC diluem conteúdos e vetam outros

A reforma do Ensino Médio e a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) correspondente, instauradas ainda sob o governo golpista de Michel Temer (lei 13.415/2017), deixaram um legado de retrocessos cujas consequências ainda devem se aprofundar. As escolas têm até 2022, por exemplo, para adotar livros didáticos não mais dedicados a cada disciplina, mas sim, sob o guarda-chuva da “área de conhecimento”, perdendo profundidade no conhecimento de cada matéria.

História, Geografia, Sociologia e Filosofia serão diluídas dentro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; enquanto Química, Física e Biologia formarão o grupo das Ciências da Natureza e suas Tecnologias. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2021 induz a uma política educacional de enfraquecimento das ciências humanas e superficialização do conhecimento. Bastante conexo com a conjuntura de dissipação de fake news e desvalorização da ciência, o PNLD está a serviço do novo ensino médio e das ideologias defendidas por Bolsonaro e seus comparsas.

Sem surpresas
Em março último, uma integrante do movimento “Escola Sem Partido” – que, como sabemos, são, na verdade, os defensores da mordaça -, Sandra Ramos, foi nomeada para coordenação-geral de Materiais Didáticos do Ministério da Educação (MEC). Sandra é conhecida por criticar currículos e conteúdos por motivos religiosos.

Nos livros didáticos indicados pelo MEC no PNLD, portanto, verifica-se a ausência de temáticas como a questão de gênero e história e cultura da África, por exemplo. Ganham força temas religiosos, desafiando violentamente a laicidade do Estado, bem como a diversidade tão característica da população brasileira.

Segundo Berê Darc, diretora da Secretaria de Políticas Educacionais do Sinpro, o processo todo foi construído sem a participação dos profissionais da Educação. “A retirada de conteúdos e a diluição de outros não se consolida na interdisciplinaridade que o governo alardeia, mas sim, cerceia a construção do pensamento crítico, livre e autônomo”, ela diz. “Esse se torna um problema ainda mais grave quando sabemos da importância do livro didático para a população mais pobre”, conclui Berê.

O Sinpro e a CNTE se posicionaram frontalmente contrários ao novo ensino médio e à atual BNCC desde quando eram apenas propostas. Ambos foram aprovados por um governo sem legitimidade e negando o debate público acerca de temas tão importantes. Hoje, foram apropriados para a defesa das ideologias da família Bolsonaro.

 
 

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