IV Encontro de Mulheres Educadoras do Sinpro debate a construção da igualdade de direitos

O segundo dia do IV Encontro de Mulheres Educadoras, promovido pela Secretaria de Mulheres Educadoras do Sinpro, teve início na manhã deste sábado (27), na sede do Sindicato, com um farto café da manhã e uma descontraída Ciranda, coordenada pela poetisa popular Lília Diniz. Durante uma hora, mulheres e homens cantaram e dançaram preparando o espírito para os debates que vieram logo a seguir. O painel sobre os “novos instrumentos e debates na sociedade pela construção da igualdade de direitos” foi aberto com a apresentação de um vídeo feito em homenagem à militante feminista Clara Charf, onde a própria militante nos chama atenção para a necessidade de “dar mais politização à luta das mulheres”.
A frase de Clara Charf explica o papel que a Secretaria das Mulheres Educadoras do Sinpro-DF vem desenvolvendo ao longo desses últimos anos. Como reforçou a coordenadora da Secretaria, Eliceuda França, “temos a tarefa de formar mais companheiras para a luta pelo fim da violência contra as mulheres e a busca pela construção de uma sociedade justa, solidária sem discriminação e preconceito”. Neste sentido, a atuação da diretora do Sinpro, Maria Augusta, e da orientadora educacional, Lucia Santis, na construção da igualdade e de combate ao sexismo, bem como no enfrentamento à violência doméstica a partir da escola foi homenageada com a entrega do II Prêmio Mulher Educadora – Cidadã do Mundo – ano 2013.
Linguagem escrita e oral – Na primeira palestra, A linguagem oral e escrita na cultura de igualdade de direitos, a coordenadora da Secretaria de Organização do Sinpro, Maria Augusta, lembrou que a escola é o melhor espaço, o melhor palco para trabalhar a construção da igualdade de direitos. “Podemos fazer o debate com nossas alunas e alunos e abrir caminho para as mudanças”, explicou Augusta. Ela falou sobre a importância do uso da linguagem como instrumento para valorização da mulher. Lembrou que a presidenta Dilma Rousseff, durante sua posse, afirmou que queria ser chamada “presidenta” e que, apesar de nossa gramática permitir essa flexão de gênero, a imprensa insiste em não atendê-la.
“Não pense que fazer a flexão de gênero é pouca coisa. É uma forma de valorizar a mulher”, disse a diretora. Ela explicou que nossa língua não é machista, que somos nós quem a masculinizamos ao não flexionar os gêneros. Augusta convidou as professoras e professores presentes a usarem a flexão de gêneros em seus comunicados às mães e pais das alunas e dos alunos, lembrando que as mães são mais presentes nas escolas. Ao finalizar sua fala, a diretora recordou o papel vanguardista do Sinpro, primeiro sindicato a criar sua Secretaria de Mulheres, ressaltando a importância da manutenção desse papel na valorização das mulheres e no combate ao preconceito e à discriminação.
Uso das Mídias – A coordenadora da Secretaria de Imprensa do Sinpro, Rosilene Corrêa, falou sobre o uso das mídias (internet, TV, rádios) contra a cultura sexista e racista. Rosilene explicou que, infelizmente, a mídia, ainda hoje, vende a imagem da mulher desvalorizada, da mulher objeto. “Até o que é visto como entretenimento, como diversão, traz a imagem da mulher desvalorizada”, afirmou a diretora, exemplificando com as mulheres seminuas que aparecem nos programas de domingo e com as propagandas de cerveja sempre vinculadas com a imagem da mulher “gostosona”. Rosilene destacou que nosso grande desafio é atualizar a comunicação.
“Nosso sistema de comunicação serve ao capital. Por isso ainda não conseguimos ter um novo marco regulatório”, explicou a diretora. Ela ressaltou a importância do papel da escola na luta para enfrentar o preconceito, promovendo a análise com alunas e alunos de como a mulher é tratada pela mídia. “Podemos fazer para ser aquilo que merecemos ser, investindo na mídia alternativa”, disse Rosilene destacando que a mídia alternativa é a única que não discrimina as mulheres e que dá espaço às lutas das/os trabalhadoras/es. A diretora aproveitou para convidar a todas e todos a fazerem parte no dia 1º de Maio da Campanha pelo Marco Regulatório da Mídia.
Orientação Educacional – A terceira palestra do dia sobre o tema “Uma nova forma da Orientação Educacional no fortalecimento das relações na escola para igualdade de gênero” foi proferida pela orientadora educacional da Secretaria de Educação do DF, Lucia Santis. Ela falou que nossos valores estão arraigados no nosso comportamento dia a dia e que para garantir novos direitos temos que estar na luta todos os dias. “É a mulher que impede o homem de entrar na organização do lar. Afinal são as mães que ensinam os filhos as tarefas domésticas”, lembrou Lucia Santis. Segundo ela, precisamos estar atentas, pois, se não educarmos nossos filhos dentro de casa não conseguiremos trazer isso para a escola.
A orientadora educacional falou sobre sua experiência no trabalho que desenvolve junto à comunidade do Paranoá. Ressaltou a importância do trabalho conjunto, do envolvimento de todos os órgãos, como Conselho Tutelar, Secretarias governamentais, Batalhão Escolar, entre outros, para que o trabalho da escola tenha um resultado positivo. Destacou a importância de lutarmos para mudar o comportamento discriminatório da grande mídia. “Do mesmo jeito que ela trata a questão da mulher, trata o pobre e isso não pode continuar assim”, desabafou Lucia Santis. Ela falou ainda sobre o trabalho que desenvolve junto às alunas e aos alunos com o tema “como é a tua família?”, lembrando que nem todas as famílias são iguais, razão pela qual a escola não deve convidar só os pais para suas reuniões, mas também as mães, tias/os, avós/ôs.
Ao final do evento propostas foram discutidas e aprovadas pelos/as participantes compondo, assim, o Plano de Lutas 2013. Entre as propostas estão apoiar a reforma política com mecanismos de acesso das mulheres aos espaços no parlamento e no poder executivo; trabalhar uma política de formação que encoraje as mulheres a assumirem os espaços nas instâncias de poder e no movimento sindical; incluir, em todas as atividades formativas, questões de raça, etnia, gênero e diversidade; ampliar as atividades de sensibilização em relação às desigualdades de gênero nas escolas, com trabalhadoras e trabalhadores em educação; incluir, na pauta de reivindicações, a garantia de lotação das mulheres educadoras que estão amamentando, próximo a creches ou ao seu local de residência.