Interseccionalizar a luta para avançar contra o capitalismo

O machismo e o racismo são mecanismos do capitalismo para sustentar um sistema de produção que depende da exploração e da opressão. Neste sentido, a interseccionalidade da luta da classe trabalhadora, levando em consideração marcadores de gênero e raça, são determinantes para romper com o sistema imposto e construir um mundo equânime. A avaliação foi feita no webnário “Violências e desafios impostos às mulheres negras pelos governos neoliberais”, realizado pela CUT-DF, nessa sexta-feira (20).

“A gente, enquanto organização coletiva, por mais que estejamos nos nossos sindicatos discutindo questões de uma categoria específica, temos que entender que não existe possibilidade de viver uma sociedade que seja menos violenta, menos opressora e mais justa se a população negra continuar sendo oprimida da forma que é. Querer uma sociedade diferente, com emprego pleno, uma vida feliz, significa embarcar na batalha junto com as mulheres, junto com o movimento negro”, avalia a secretária de Mulheres da Central, Thaísa Magalhães.

Segundo ela, o racismo e o patriarcalismo são apropriados pelo capitalismo para “explorar e gerar lucro”. “O racismo e o machismo só irão acabar quando a gente romper com esse sistema que utiliza dessas práticas para empurrar grande parcela da população para uma categoria de trabalho com salários distintos e desvalorizados, onde o preferencial é o desemprego, onde a violência é utilizada como mecanismo de dominação e manutenção do poder”, disse a dirigente sindical.

Integrante da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, Cecília Luli justifica a necessidade de interseccionalizar a luta a partir do entendimento de que “o capitalismo vai sempre buscar saída no racismo, racializando sua opressão sobre os povos”. “A questão é de classe, mas nessas classes existem grupos, e a gente precisa detectar quem são esses grupos: eles têm raça, gênero e outras características”, lembra.

Durante o debate, Luli fez uma leitura dos diversos governos brasileiros e destacou que “o receituário neoliberal sempre foi destacado nas conduções de políticas públicas do governo federal”. Segundo ela, embora os governos Lula e Dilma também estivessem inseridos, mesmo que sem ser por opção, em uma conjuntura neoliberal, este foi o único período no país em que se criaram políticas de compensação e políticas afirmativas para a população negra.

Sobre o atual governo, de Bolsonaro-Guedes, a integrante da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno destacou a emenda constitucional 95, que congelou por 20 anos o investimento em áreas sociais, sacrificando, sobretudo, as mulheres negras. Além disso, ela destacou que a “política ultraliberal, perversa, genocida de extermínio da juventude negra de Guedes é a que tem de pior nesses tempos”.

Na avaliação da secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, Samantha Sousa, além da interseccionalidade da luta, o fim do machismo e do racismo – e consequentemente o rompimento com o capitalismo – pode ser pressionado a partir da implementação de políticas reivindicadas pelos próprios sindicatos. No debate realizado nessa sexta (20), ela citou o Plano de Lutas da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-DF, que orienta inserção de cláusulas que objetivam a equidade racial e de gênero nos acordos coletivos de trabalho, além do incentivo da denúncia de casos de racismo no ambiente de trabalho.

Samantha Sousa ainda lembrou que o racismo está enraizado no ambiente de trabalho, e para isso utilizou estatísticas levantadas pelo Dieese que apontam desemprego e subutilização da força de trabalho da população negra. “A base da pirâmide capitalista é a dominação de uma classe sobre a outra. Enquanto mulheres brancas reivindicavam direito ao voto, mulheres negras reivindicavam condições mínimas de dignidade”, disse a sindicalista, indicando a necessidade de se reconhecer os diversos mecanismos de opressão dentro da classe trabalhadora e a necessidade de interseccionalizar a luta.

Também debatedora do webnário realizado pela CUT-DF, a presidenta do Sindicato das/os Odontologistas, Jeovânia Rodrigues, citou a fala de Ângela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista”. Com o pensamento da professora e filósofa socialista estadunidense, Jeovânia lembrou que negras e negros são invizibilizados em todos os espaços sociais, inclusive no serviço público. “No próprio serviço público federal, no período de 1995 a 2015, a população negra variava ente 5,5% e 9%, e ainda assim temos que ser taxados como possíveis privilegiados em virtude da política de cotas”, ressaltou ao concordar que a luta da classe trabalhadora deve ter como eixos o combate ao machismo e ao racismo. Para ela, a juventude de hoje tem, mais que nunca, potencial de mudar o cenário de exclusão e preconceito. “Com a força da juventude podemos e devemos retomar o que nos foi tirado ao longo da nossa história”, acredita.

Realizada não por coincidência no Dia da Consciência Negra, o webnário “Violências e desafios impostos às mulheres negras pelos governos neoliberais” faz parte da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que também começa no dia 20 de novembro, para marcar a dupla discriminação sofrida pelas mulheres negras. A campanha vai até o dia 10 de dezembro, quando se comemora o Dia dos Direitos Humanos.

Como parte das ações da campanha pelo vim da violência contra as mulheres, a CUT-DF ainda realizará outros dois webnários: “Assédio moral e sexual nos locais de trabalho: Convenção 190 da OIT”, no dia 30 de novembro, e “Busca por equidade de direitos: desafio das Mulheres dos Direitos Humanos”, no dia 10 de dezembro. A transmissão será pelas páginas da CUT-DF no Facebook e no Youtube. Veja a programação completa abaixo.

Fonte: CUT-DF