Incêndio no Museu Nacional denuncia negligência do governo com educação e reforça necessidade de revogar a EC 95/16

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil: Incêndio de proporções incalculáveis atingiu, no começo da noite de domingo (2), o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, zona norte da capital fluminense

 
“Não é acidente, é barbárie!”. Escreveu Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura no governo Dilma Rousseff, em um artigo-desabafo publicado no site do Mídia Ninja sobre o incêndio que destruiu, na madrugada desta segunda-feira (3/9), o maior patrimônio cultural e histórico do Brasil e um dos maiores do mundo: o Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Mais de 20 milhões de itens, com coleções raríssimas focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica desta região do mundo em que o Brasil se localiza e 200 anos de história do Brasil transformados em cinzas em poucas horas. A Reitoria da UFRJ apontou problemas na atuação do Corpo de Bombeiros e, há meses vem denunciando a necessidade urgente de investimentos financeiros públicos em custeio e manutenção.

“Michel Temer, o presidente da República ilegítimo e responsável por tudo isso, fez ouvidos de mercador às denuncias e aos pedidos para investimento do nosso dinheiro público na educação. A maior parte dos parlamentares que estão hoje na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, idem”, disse Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF. O 49º Congresso Brasileiro de Geologia, realizado entre os dias 20 e 24 de agosto, no Rio de Janeiro, discutiu a situação do Museu Nacional provocada pela falta de investimento público.

Em uma moção de apoio ao Museu Nacional da UFRJ, o Congresso Brasileiro de Geologia afirmava a importância do museu e mostrava que a situação foi agravada pelos cortes de investimentos impostos pela Emenda Constitucional nº 95, de 2016, (EC95/16), conhecida como PEC do Teto dos Gastos, ou PEC da Morte, como o movimento sindical tem apontado.

Projeto para destruir o aporte científico, patrimonial e educacional do país
A diretoria colegiada do Sinpro-DF informa que, diferentemente do que vem dizendo a Rede Globo e demais mídias comerciais, a situação do Museu Nacional é mais um crime do governo ilegítimo porque é mais um dos resultados diretos da EC 95/2016 e do corte de 49% do orçamento das universidades públicas federais, assim como ocorre com os cortes na pesquisa científica.

“O incêndio não é resultado de uma mera falta de manutenção, como tem apontado a mídia conservadora, e, sim, da negligência de um governo ilegítimo, viabilizado e apoiado por essa mídia, e da falta de investimento público na educação, na ciência e na tecnologia. É a mesma negligência com que a educação básica é tratada”, lembra.

Rosilene afirma que “o governo ilegítimo e os partidos políticos que fazem parte dele, os quais tentam legitimar o golpe nas eleições de outubro, são os responsáveis por essa destruição, assim como são responsáveis pela destruição da educação pública e gratuita, com a reforma do ensino médio, a BNCC, a Lei da Mordaça e outros ataques. São responsáveis por um projeto privatista de educação que visa a acabar com a soberania brasileira em todos os sentidos, incluindo aí, e principalmente, com a destruição completa da pesquisa científica, da universidade e das escolas de ensino básico públicas e gratuitas. São responsáveis pela aniquilação de todas as possibilidades de se fazer educação e ciência pública, gratuita e emancipatória para o Brasil”.

Cláudio Antunes, diretor de Imprensa do sindicato,  afirma que, se a EC 95/2016 não for revogada urgentemente, a educação não resistirá e, em pouco tempo, também será transformada em cinzas. “Essa emenda tem provocado grandes estragos e atrasos no país. Os problemas de manutenção e custeio do museu se intensificaram por causa da falta de investimentos do poder público nos últimos 2 anos. Essa falta de investimento revela o descaso e a negligência com que o governo federal, ilegítimo, trata o país e a história da ciência, das artes e da tecnologia no Brasil”, disse.

Açoitado pela falta de investimento, o prédio histórico, fundado em 1818 por Dom João VI, na Quinta da Boa Vista, foi personagem de todas as comemorações de seus 200 anos. Professores, estudantes, cientistas e frequentadores do museu aproveitaram o bicentenário para denunciar o abandono total neste 2 últimos anos.

“A EC 95/2016 e as reformas realizadas entre 2016 até o dia de hoje mostram o objetivo de um grupo de políticos, ligado a empresários estrangeiros e países hegemônicos, como os EUA, que atua para apagar definitivamente a nossa história, nossa subjetividade, a nossa vinculação com o nosso passado, a nossa capacidade de produção de conhecimento novo e nossa possibilidade de ver os problemas, criticá-los, apontar suas causas e lutar contra essa situação de subserviência”, declara Cleber Soares, diretor do Sinpro-DF.

A falta de investimento no patrimônio público tem destruído a história da cultura, da pesquisa e da ciência no Brasil. Só na UFRJ, foram destruídos o Palácio Universitário, a Escola de Belas Artes, o Alojamento da UFRJ e, agora, o Museu Nacional. “Um claro ataque à gestão do reitor Roberto Leher, um educador que critica fortemente e denuncia as reformas privatistas na educação e o fim da pesquisa científica no Brasil”, afirma.

A tragédia anunciada levou registros de séculos de estudos de arqueologia e paleontologia, como peças, esqueletos, cultua indígena, fauna, flora, toda a história do Império, prédios históricos. “Não existe política pública para manter e conservar nosso patrimônio. É o mesmo descaso com o patrimônio, a pesquisa, a ciência e tudo o que é público”, finaliza Ivana Bentes, ex-diretora da Escola de Comunicação da UFRJ.