Guerra matemática invisibiliza reajuste de R$ 5 mil para Ibaneis e supervaloriza os R$ 200 para a educação

É flagrante o jogo desinformativo de percentuais que o governo local e veículos de imprensa ligados a atuais e ex-políticos vêm aplicando para tentar colocar a sociedade contra a greve da categoria do magistério público do DF.

Um dos portais de notícia mais acessados do DF publicou a seguinte enquete: “Assim como outras categorias de servidores, os professores do DF receberão reajuste de 18% nos salários. Mesmo assim, a categoria anunciou greve a partir desta quinta-feira. Você é a favor ou contra a greve dos professores?”. O mesmo portal lançou ainda como manchete: “Apesar de reajuste de 18%, professores decidem manter greve”.

Ambos os exemplos deixam clara a tentativa de conduzir os leitores à falsa conclusão de que foi concedido a professores(as) e orientadores(as) educacionais reajuste salarial mais do que suficiente (inclusive no mesmo valor oferecido a outras carreiras do funcionalismo local), mas, mesmo assim, a decisão da categoria é entrar em greve. Espera-se gerar revolta nos leitores e, ao mesmo tempo, descredibilizar o movimento.

“O que não se diz ou se coloca de maneira discreta é que o reajuste não é de 18%, mas sim de 6% ao ano, pagos em agosto. Isso porque o percentual imposto de maneira arbitrária pelo governador será dividido em três anos. Além disso, estamos falando de uma categoria que, atualmente, ocupa a penúltima colocação no ranking de remuneração dos profissionais com nível superior do Distrito Federal. Isso vai, inclusive, contra o Plano Distrital de Educação. Tratamento igual para desiguais transgride o princípio da igualdade”, reflete do diretor do Sinpro-DF Cleber Soares.

Ele lembra que professores(as) e orientadores(as) educacionais estão há oito anos sem reajuste salarial e que, por isso, acumulam mais de 30% de perda inflacionária. “Um dos eixos centrais da nossa luta é a reestruturação salarial, que servirá para mitigar as perdas impostas nos últimos anos. Com ela poderemos, por exemplo, incorporar gratificações ao vencimento, reduzir os padrões da tabela para chegar mais rápido ao topo, aumentar percentuais de progressão, entre outras questões”, exemplifica.

Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), 6% a mais no vencimento básico de professores(as) e orientadores(as) educacionais (tabela PQ3/graduação) representa pouco mais de R$ 200.

Ao mesmo tempo em que tenta emplacar a narrativa de que professores(as) e orientadores(as) educacionais receberam reajuste farto, esses mesmos veículos de imprensa e o próprio Ibaneis Rocha tentam silenciar o reajuste – e seu impacto – concedido ao governador e vice do DF, secretários e cargos comissionados.

Com o reajuste de 25% de uma só vez, o salário de Ibaneis Rocha terá acréscimo de mais de R$ 5,8 mil: passará dos atuais R$ 23.449,55 para R$ 29.311,94. Já o valor recebido pela vice-governadora passará de R$ 20.743,83 para R$ 25.929,79. Secretários de Estado, como a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, por exemplo, passarão a receber R$ 22.547,65. Os valores foram sancionados pelo próprio governador Ibaneis Rocha.

“Responsabilidade com a sociedade sempre foi uma marca do Sinpro. A greve é o último recurso utilizado para combater o descaso contra a Educação. Insistimos e continuamos insistindo no diálogo, na negociação. Mas o GDF não avançou nas nossas pautas. E ainda por cima diz que vai ‘radicalizar’, como se estivéssemos em uma guerra”, avalia a diretora do Sinpro Berenice Darc.

Ela reflete que a luta da categoria do magistério público por valorização impacta diretamente na sociedade. “Quando professores e professoras, orientadores e orientadoras educacionais são valorizados, a Educação é valorizada, e isso gera qualidade também na aprendizagem. Por isso, essa narrativa que se tenta criar é uma fake news grave, e deve ser combatida.”

Tem margem financeira
Relatório Fiscal de Investimento no Pessoal, realizado pelo Dieese mostra que o governo do DF tem margem para avançar no valor de reajuste aplicado em pessoal, sem ultrapassar o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pelos cálculos, o avanço poderia ser de quase R$ 7,5 milhões.

Outra cifra importante foca no crescimento do Fundo Constitucional da Educação. Para 2023, a previsão de reajuste do Fundo é de 41,4% em relação ao executado em 2022. Com isso, a LOA 2023 (Lei Orçamentária Anual) destina R$ 5 bilhões só para o setor da educação, um crescimento de quase 79% em relação ao empenhado em 2022.

Greve
A greve da Educação teve início nesta quinta-feira (4/5), ratificada em assembleia geral. Em uníssono, a frase “professor na rua, Ibaneis a culpa é sua” foi entoada pela multidão que esteve presente à atividade.