Governo Ibaneis segue governo federal, retrocede aos anos 70, retoma salas multietapas e destroi a EJA

Professor e diretor do Sinpro, Carlos Maciel, durante a comissão geral que discutiu o desmonte da EJA. Foto: Joelma Bonfim/Arquivo Sinpro

 

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi o tema da comissão geral, nessa quinta-feira (25), na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A iniciativa ocorreu no Plenário da Casa Legislativa para discutir o desmonte da EJA, que ocorre de forma aligeirada no governo Ibaneis Rocha (MDB), deixando centenas de estudantes de baixa renda sem o direito à educação pública. Os(as) participantes acusam o governo Ibaneis de seguir o governo federal no desmache da educação noturna, retroagir às salas multisseriadas dos anos 1970 e destruir a EJA, um projeto de inclusão social. 

Convocado pelo deputado Reginaldo Veras, líder do Bloco Sustentabilidade e Educação (PV/Avante), o evento lotou a galeria do Plenário de estudantes, professores(as) e orientadores(as) educacionais da rede pública de ensino. Na Mesa, deputados (as), sindicalistas e professores(as) denunciaram a volta das salas multietapas, um problema superado nos anos 1980 pela Secretaria de Estado de Educação do DF (SEE-DF), e resgatado pelo governo Ibaneis para enterrar de uma vez por todas a política pública de inclusão social por meio da inclusão educacional.

O projeto de multietapas, ou salas multisseriadas, é condenado por vários motivos e, comprovadamente, excludente. Na Mesa, estavam o deputado Reginaldo Veras, a deputada Arlete Sampaio (PT), a professora da EJA Glayce Helena Barbosa Alves de Almeida e o diretor do Sinpro-DF, Carlos Maciel. Nas galerias, estavam o CEM 304, o CED 619, o CEF 404 da Samambaia, o CEM 03 da Ceilândia e outras escolas.

Veras se comprometeu a formular um documento com as demandas apresentadas e encaminhá-lo à SEE-DF. Disse que também irá acionar a Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) acerca do cumprimento das metas do Plano Distrital de Educação (PDE), em especial no que concerne às salas multietapas.

 

Professora da EJA Glayce Almeida, deputada Arlete Sampaio, deputado Reginaldo Veras e o diretor do Sinpro Carlos Maciel. Foto: Joelma Bonfim/Arquivo Sinpro
Professora da EJA Glayce Almeida, deputada Arlete Sampaio, deputado Reginaldo Veras e o diretor do Sinpro Carlos Maciel. Foto: Joelma Bonfim/Arquivo Sinpro

 

Reginaldo Veras (PV):
“Regredimos à década de 1970, quando ainda encontrávamos salas multisseriadas”

O parlamentar contou que, aos 19 anos de idade, ingressou na SEE-DF como professor do contrato temporário, lecionando na Escola Classe (EC) 33 de Ceilândia, atualmente CEF 31. Nessa escola, ele integrou a equipe diretiva. Na época, atuou na EJA quese chamava Supletivo Seriado. Para ele, essa experiência foi uma referência na vida dele. A escola adotava um modelo interessante, que a fez ganhar dois prêmios internacionais da Unesco em virtude do projeto pedagógico.

Ele contou que essa crise da EJA criada pelo governo Ibaneis o fez se lembrar do caso de um estudante daquela escola, que ofertava da Alfabetização até o 9º Ano. “Na época, um de nossos estudantes, vindo da Bahia, era analfabeto. Foi alfabetizado nessa escola. Concluiu as séries iniciais, Ensino Fundamental e Ensino Médio na EJA. Fez universidade, virou professor e hoje ele é professor de uma universidade dos EUA. Fez mestrado e doutorado nos EUA e por lá ficou sendo professor de universidade”, contou.

“Isso mostra que quando a política de inclusão para aqueles que não puderam estudar no período adequado em razão de vários fatores, quando feita com seriedade, é uma política educacional de inclusão social que deve ser levada a sério. Mas, o que se observa é que, nos últimos tempos, aqui no DF, esse modelo de ensino vem sendo precarizado e, este ano, fomos surpreendidos com uma falta de planejamento da Secretaria de Educação, que levou à implantação de salas multisseriadas. Ou seja, nós, no DF, em 2022, regredimos à década de 1970, quando ainda encontrávamos salas multisseriadas em várias partes do Brasil. Naturalmente, a gente não pode admitir isso, a gente tem de debater esse assunto e buscar novas perspectivas para isso”.

 

Arlete Sampaio (PT):
“Ibaneis extinguiu laboratórios e improvisou 26 salas de aula”

Arlete Sampaio (PT), presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da CLDF,  contou que um dos momentos mais felizes da vida dela foi quando nós lançamos, lá na Ceilândia, com a presença do educador Paulo Freire, o Pró-EJA. Foi um momento marcante e eu tive a oportunidade de conhecer e passar um dia convivendo com ele. Foi um dia inesquecível. A gente teve, tanto do governo Cristóvam Buarque, do qual eu fui vice-governadora, tanto do governo Agnelo Queiroz, um trabalho importante de alfabetização de adultos. Tanto é que recebemos o título de Capital Livre do Analfabetismo durante o governo Agnelo.

Hoje, o que a gente está vendo é uma tentativa permanente de desmonte da Educação de Jovens e Adultos. E a última cartada foi esta de juntar estudantes de séries diferentes numa mesma sala de aula. Além de deixar o professor maluco, desestimula a quem está fazendo um esforço para se alfabetizar. Na ocasião, realmente, tanto o professor Reginaldo com eu mesma e outros parlamentares falamos sobre este tema aqui no Plenário. Cheguei a encaminhar um ofício à secretária de Educação protestando em relação a isso, mas a gente sabe que este governo, infelizmente, não construiu nenhuma escola nova. Ele improvisou 26 novas salas de aula, tirando espaços de laboratórios, Salas de Recursos, entre outros espaços para montar essas salas.

“Fica visível que não há qualquer prioridade com a educação pública no DF. Penso que a nossa luta atualmente é para que a gente possa aproveitar este momento para fazer mudanças no DF e a gente poder ter de fato governo, deputados e deputadas que se preocupem realmente com a educação para que a gente possa fazer avançar e tirar o DF desse atraso que estamos vivendo hoje”, finalizou.

Matéria do site da CLDF informa que, durante o evento, professores e professoras reclamaram da falta de busca ativa de estudantes para a EJA, com o retorno das aulas presenciais. “A secretaria não atacou a evasão escolar: muitos alunos adultos não retornaram por medo da pandemia e da doença e por falta de cartões mobilidade e de segurança para a locomoção, à noite, para as escolas”, apontou Glayce Almeida.

 

Assim como Carlos Maciel, participaram do evento os diretores do Sinpro Regina Célia e Samuel Fernandes. Foto: Joelma Bonfim/Arquivo Sinpro

 

 

Carlos Maciel (Sinpro-DF):
“Este governo não cumpriu as Metas 8, 9, 10 e 11 do PDE”

Carlos Maciel, diretor do Sinpro, também criticou a falta de investimento do governo em educação pública. Também contou a história de vida dele, que precisou da EJA para estudar. “Estou muito feliz de estar aqui fazendo a defesa da educação enquanto professor e dirigente do Sinpro-DF. Quero contar um pouco de minha história de educando. Nos meus 18 anos, fiz o antigo Supletivo, que era a EJA. Aos 10 anos de idade tive de parar de estudar para trabalhar. E demorou muito para retornar. Quando retornei, tive de ir para o ensino noturno. Hoje, dialogo muito com meus alunos sobre isso e conto como era a realidade. Na minha época, não tinha nem sequer o lanche para o noturno. Eu trabalhava na construção civil e chegava na escola, à noite, com fome para estudar. Não tinha o lanche, mas havia a oferta do ensino”, lembrou.

Maciel disse que o governo Ibaneis, praticamente, deu as costas para a educação. A gente não conhece projeto de educação deste governo e agora ele quer acabar com o que se manteve de pé na Educação de Jovens e Adultos e acabar com o ensino noturno. Quando a gente analisa os documentos que temos sobre educação, como, por exemplo, o PDE, a gente tem as Metas 8, 9, 10 e 11, que são umas das metas mais descumpridas por este governo.

Assista no link a seguir a audiência pública.

 

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