GDF quer fazer EaD com 127 mil estudantes sem Internet e 8 mil professores sem computador

Cinco mil professores regentes não têm computador e 127 mil estudantes não têm Internet em casa para desenvolverem atividades relacionadas à educação a distância. A informação faz parte dos resultados das duas pesquisas sobre Covid-19 e volta às aulas, realizada pelo Sinpro-DF, entre os dias 21 e 31 de maio, com 4.020 professores(as) e orientadores(as) educacionais sindicalizados e com dez mil mães, pais e responsáveis por estudantes da rede pública de ensino do DF.

A série de matérias intitulada “Exclusão educacional no DF” – que têm registrado o resultado dessas pesquisas – revela que, dos 460 mil estudantes da rede pública de ensino do DF, 27,71%, ou seja, 127 mil estudantes não têm conexão com a rede mundial de computadores em casa para  as atividades escolares.

A pesquisa feita com professores(as) e orientadores(as) educacionais, por sua vez, constatou que e que  22,25% dos professores(as)/orientadores(as) não têm computadores. Quando desmembramos os dois segmentos da categoria do magistério público, constatamos que, dos 35 mil professores(as) da rede pública do DF, 23 mil são professores(as) que estão em sala de aula, ou seja, são denominados professores regentes, e, entre os regentes, 21,97% não têm computador. Ou seja, cinco mil professores regentes não têm computador e não têm como executar suas atividades pedagógicas.

Esse número total de 35 mil professores(as) e 1.132 orientadores(as) educacionais está registrado na Nota Técnica nº 09 (NT09), da Subsecretaria de Gestão de Pessoas (Sugep), da Secretaria de Estado da Educação do DF (SEEDF). Isso significa que a categoria é formada, ao todo, por 36.132 trabalhadores do magistério público. A pesquisa constatou que, entre esses 36.132, oito mil não têm computador em casa.

Estudantes
Em matéria anterior sobre os resultados da pesquisa sobre Covid-19 e volta às aulas com mães, pais e responsáveis por estudantes, o Sinpro-DF havia mostrado que 26,27% (120.842) dos 460 mil estudantes da rede pública de ensino do DF não têm nenhum tipo de equipamento, como computador, tablet, celular, notebook em casa para participar de Educação a Distância (EaD).

Ou seja, ao computar vários dos dados da mesma pesquisa, constatou-se que, dos 460 mil estudantes, 127 mil não têm Internet em casa e, 120.842, não têm equipamento (computador, tablet, celular, notebook) em suas residências. Isso mostra que quase 130 mil estudantes não têm como desenvolver atividades da EaD como quer o governador Ibaneis Rocha (MDB) no Programa Escola em Casa DF.

A análise das pesquisas mostra que se o governador continuar com esse projeto, haverá uma exclusão educacional sem precedentes na história da educação do DF e que irá se aprofundar, sobretudo, em cidades-satélites, como Sobradinho, Planaltina, Gama, Recanto das Emas Ceilândia, São Sebastião, onde mais de 30% dos estudantes não têm Internet.

A situação do Paranoá é ainda mais grave, com mais de 40% de seus estudantes sem acesso à rede mundial de computadores. Se esse programa for adiante, o governo Ibaneis irá transformar o Paranoá na cidade-satélite com a maior número de abandono educacional forçado de todas as Regiões Administrativas (RA) do DF.

Professores
A pesquisa revelou que 67,18% da categoria é formada por professores regentes e que cinco mil deles não têm computador em casa. Entre as informações pesquisadas, detectou o dado positivo de que 98% da categoria têm acesso à Internet. O que não constatou é se há qualidade nessa conexão residencial, uma vez que, para participarem do Programa Escola em Casa DF, os(as) regentes terão de utilizar uma Internet de banda larga eficiente, capaz materializar e encaminhar o trabalho docente, com programação de aulas, áudios, vídeos, documentos eletrônicos e impressões voltados para a EaD.

A diretoria colegiada do sindicato afirma que o GDF deveria fornecer Internet de banda larga e equipamentos de boa qualidade a todos(as) os(as) professores(as) para que o trabalho flua adequadamente. “A maioria dos(as)  professores(as) tem algum tipo de equipamento eletrônico para dar aula remotamente, como é o projeto do GDF para este período de pandemia, porém, o consenso no meio acadêmico é o de que o preparo das aulas é mais adequado para o trabalhador quando é feito em computador”, diz.

“É impossível imaginar um professor organizando sua grade de aula semanal, ou seja, 25 horas de aulas semanais de regência utilizando apenas um celular. Agora, com essa sanha desenfreada para instalar de qualquer jeito um projeto excludente de educação a distância, o GDF obriga os(as) professores(as) a utilizarem Internet residencial para estabelecer uma conexão somente com os(as) estudantes que têm acesso à rede mundial de computadores”, denuncia Cláudio Antunes, coordenador da Secretaria de Imprensa do Sinpro-DF.

Ele afirma que, “certamente, o uso contínuo da Internet residencial para fins de trabalho deve exigir de alguns(as) professores(as) a aquisição de pacotes mais caros para ter acesso à rede com melhor velocidade de tráfego de dados. Mais uma vez o(a) professor(a)  terá de pagar para trabalhar”, critica.

“Ora, a maior parte das escolas nem sequer conseguem ofertar, em época de normalidade sanitária, um bom computador e uma Internet decente para professores(as) e orientadores(as) educacionais preencherem o Diário de Classe Eletrônico, avalie agora, na pandemia”, critica o diretor de Imprensa.

Endividamento

Em vez de comprar equipamentos de trabalho e entregar aos(às) professores(as), pretende fazer com que os professores arquem com essa despesa, tirando computadores e Internet de qualidade do próprio bolso.  O problema é que a categoria está há quase 6 anos sem reajuste salarial e, a única medida tomada pelo GDF, até o momento, foi a de buscar linha de crédito no BRB para que o(a) professor(a) faça empréstimos com juros relevantes para aquisição de computador.

Na última semana de maio, o secretário de Educação, João Pedro Ferraz dos Passos, emitiu ofício ao presidente do BRB informando sobre o desenvolvimento do Programa Escola em Casa DF e pedindo uma linha de crédito especial para a categoria comprar os instrumentos tecnológicos necessários para a produção de atividades pedagógicas a distância.

“Isso revela que a SEEDF sabe que uma boa parte dos(as) professores(as) regentes não têm computadores para trabalhar e que o computador é a ferramenta adequada para o planejamento e execução das aulas EaD. No entanto, a solução do governo Ibaneis é jogar os encargos nas costas dos(as) trabalhadores(as) da educação e fazer com que eles e elas criem uma dívida com banco para comprometer ainda mais o salário já defasado e corroído pela inflação com compra de equipamento de trabalho”, critica a diretoria

Material impresso para estudantes
Outro problema acerca de atividades a distância nas escolas públicas é relacionada à impressão de conteúdos pedagógicos. A SEEDF informou, recentemente, que os(as) estudantes sem Internet e/ou sem equipamentos poderão desenvolver as atividades de forma impressa pela escola.

Todos os dias, os registros mostram que a Covid-19 está em crescimento no DF e que, com as aberturas comerciais feitas pelo governador Ibaneis de forma inoportuna antes da hora, irá piorar essa situação, o que afastou para mais longe, no tempo, a chegada desse pico da pandemia na capital.

Com isso, antes do pico de contaminação acontecer, o trânsito de pessoas nas escolas atrás de impressos servirá como vetor de contaminação de professores(as), de estudantes e das famílias de estudantes. O próprio governador fez declarações recentes que o pico está previsto para julho. “Entendemos que as atividades impressas serão necessárias para quando houver o retorno das atividades presenciais, que precisarão ser adaptadas, no momento em que a contaminação já terá reduzido bastante a ponto de não colocar a vida de ninguém em risco”.

Na avaliação da diretoria colegiada do Sinpro-DF, se o governo decidir por enviar material impresso antes da passagem do pico da pandemia, a SEEDF estará arriscando a vida dos estudantes mais pobres e de familiares deles do grupo de risco de contágio do novo coronavírus e estará arriscando a  vida dos professores/orientadores e de suas famílias.

No Distrito Federal, apesar de o governador determinar o retorno de todas as atividades não essenciais, o coronavírus está em franco crescimento e, por causa disso, não há ainda sinal de previsão para o pico da pandemia. Na terça-feira (2), o DF chegou a 11.256 casos do novo coronavírus e a 163 mortes provocadas pela doença. Só na terça, a Secretaria de Saúde contabilizou 746 novos diagnósticos e três óbitos. Na Ceilândia, onde há uma boa parte do público da escola pública, já se analisam o caso do lockdown por causa do aumento dramático da Covid-19.

Série “Exclusão educacional no DF” sobre o resultado da pesquisa Covid-19 e volta às aulas, realizada entre 21 e 31 de maio:

Mais de 120 mil estudantes da escola pública do DF não conseguem acessar a EaD
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Pesquisa comprova fracasso da teleaula
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