GDF joga culpa de fracasso do retorno 100% presencial em gestores

 

A impossibilidade de manter as medidas de segurança sanitária em unidades escolares da rede pública de ensino foi comprovada no primeiro dia após a determinação do retorno às aulas 100% presenciais. O flagrante, denunciado há tempos pelo Sinpro-DF e divulgado pela mídia comercial neta quinta-feira (4/11), comprova que a imposição do Governo do Distrito Federal foi, no mínimo, precipitada, e tem potencial para retroceder nos avanços garantidos quanto à contenção da covid-19. Na tentativa de sair pela tangente, o GDF, infundadamente, colocou a culpa do fracasso do retorno 100% presencial nos(as) gestores(as).

Segundo a Secretaria de Educação, as salas de aulas lotadas são resultado do “excesso de matrículas em algumas escolas”. “Esses casos foram gerados por um problema migratório”, disse a secretária da pasta, Hélvia Paranaguá.

A realidade, entretanto, é outra, muito mais complexa que a apontada por Paranaguá. No CEM 01 do Gama, por exemplo, a superlotação das salas de aula é algo histórico. Lá, a realidade é de salas de aula com 40 alunos e sem ventilação adequada: o ambiente perfeito para a proliferação da covid-19.

“Aqui no Gama, há dezenas de anos, nenhuma escola de ensino médio é construída. Paralelo a isso, a população do Gama quadruplicou. Além do mais, temos a situação econômica do país, que acarretou uma migração grande de alunos de escolas particulares para escolas públicas. Infelizmente, o GDF não se programou para atender essa demanda. Com isso, a procura das escolas de ensino médio é enorme, e esse problema tende a agravar com a chegada do Novo Ensino Médio”, denuncia o gestor do CEM 01 do Gama, Macário dos Santos Neto.

Segundo ele, o quadro de vacinação na unidade escolar, que recebe estudantes a partir dos 14 anos, também é crítica. “Do pessoal do 1º ano, se for considerar quem já tomou as duas doses, não dá nem 10%”, afirma Macário.

O drama vivido no CEM 01 do Gama é o mesmo de outras unidades escolares da rede pública de ensino do DF. Só na regional de São Sebastião, calcula-se que seriam necessárias mais 14 unidades para atender à demanda da região que recebeu milhares de novos moradores nos últimos anos. “As escolas tiveram que fechar laboratórios de informática e salas de leitura para atender à demanda de novos estudantes”, explica o diretor do Sinpro Melquisedek Aguiar Garcia.

De acordo com a gestora Priscila Monteiro, do CEF do Bosque, em São Sebastião, “as salas têm janelas normais e ventiladores, mas as turmas têm de 35 a 45 alunos no Fundamental II; são supercheias”.

A gestora lembra ainda que a alimentação disponível “por enquanto” é suficiente para todos os estudantes – mas já há relatos de escolas que contavam com estoque na cantina apenas para 50% dos estudantes, e esse estoque não foi revisto.

“Não há como manter a distância necessária de mais de um metro entre estudantes nas salas de aula do GDF para garantir as mínimas condições sanitárias de protocolos contra a covid-19. E muitos gestores estão angustiados com essa imposição”, declara a dirigente do Sinpro-DF Letícia Montandon, que comprovou esse sentimento a partir de conversas com vários gestores(as) nesta quinta-feira (4/11).

Segundo ela, o que vem acontecendo é “uma sequência de culpabilização infundada de gestores e gestoras das escolas públicas”. “Gestores estão sendo constantemente culpados pela falta de organização da Secretaria de Educação e do GDF. O fato é que a determinação do retorno 100% presencial dos estudantes foi feito sem nenhum diálogo, sem nenhuma negociação, sem nenhum planejamento, sem nenhuma orientação”, diz a sindicalista, que contesta: “responsabilidade é algo que nunca faltou entre os gestores das escolas públicas”, refutando a tese de que a superlotação das salas de aula seria uma consequência da ação de gestores.

Letícia Montandon ainda faz questão de dizer que “nunca é demais lembrar que 100% dos professores e orientadores educaionais voltaram às salas de aula em agosto de 2021, e, antes disso, por estarem em serviço remoto, tiveram trabalho muitas vezes triplicado”.

O Sinpro-DF continuará as visitas nas escolas públicas do DF para verificar se as instalações permitem a aplicação das medidas de segurança sanitária.

Assembleia
A categoria do magistério público do DF se reunirá em assembleia no dia 11 de novembro. Na pauta, a definição dos rumos da luta de professores(as) e orientadore(as) educacionais frente à determinação unilateral do GDF de retorno às aulas 100% presenciais, em plena pandemia, sem a garantia da aplicação dos protocolos de segurança sanitária em todas as unidades escolares.

>> Leia também: COMISSÃO DE NEGOCIAÇÃO DO SINPRO EXIGE CONDIÇÕES PARA RETORNO 100% PRESENCIAL

Antes, no dia 8, segunda-feira, a Comissão de Negociação do Sinpro e representantes do GDF se reunirão. A expectativa é de que, no encontro, o GDF se posicione quanto aos pontos apresentados pela Comissão na reunião do dia 3 de novembro, quando foi realizada paralisação em defesa da vida.

 

Matéria escrita por Letícia Sallorenzo e Vanessa Galassi