Game Minecraft conquista professores e ajuda no aprendizado
O Minecraft foi lançado em novembro de 2011 e conquistou adeptos em todo o mundo
Quem tem criança em casa provavelmente já ouviu falar no Minecraft, game que anda na moda entre a garotada. O jogo é simples – em 16 bits, seu formato dá aos gráficos pouca profundidade – e propõe que o jogador quebre e construa blocos, dando forma ao que imaginar. Depois de conquistar os pequenos, acabou atraindo a curiosidade de educadores e professores também. Diversos colégios, no Brasil e no mundo, passaram a utilizá-lo como ferramenta de ensino.
O potencial educativo do game é tanto que já existe uma empresa chamada MinecraftEdu que oferece versões customizadas do jogo para professores e estudantes com funções para uso em sala de aula. A equipe, formada por educadores e programadores norte-americanos e finlandeses, trabalha diretamente com a Mojang AB, criadora do game.
A professora de história Fernanda Gonçalves Fontes, da Escola Técnica Estadual (Etec) de Mairinque, São Paulo, enxergou a nova possibilidade no jogo. No ano passado, após ser apresentada ao game pelos próprios alunos, reuniu um grupo do segundo ano do Ensino Médio para a construção de um castelo medieval. Durante a experiência, os jovens pesquisavam conceitos da estrutura e aprendiam com seus erros. “Procurei passar conhecimento através deste outro formato. A troca com os alunos é muito importante”, pondera.
O Minecraft virou o jogo em casa e fez com que pais passassem a ver a hora do videogame com outros olhos. Simoni Babiczuk Pires, mãe de Guilherme, 12 anos, e Gustavo, 10 anos, jogadores assíduos de Minecraft, gosta do game por seu caráter de criação e permite que joguem duas horas por dia e nos fins de semana. “Me preocupo quando eles querem fazer tudo rápido para jogar”, afirma. Para ela, o controle dos pais é essencial para balancear as tarefas e a diversão.
João Guedes, pesquisador da área de neuropsicologia e criador da rede de pesquisas Neuro Games, considera o jogo um “Lego virtual”, pois o jogador pode não só compor um mundo conforme sua imaginação, mas coletar e organizar materiais a serem utilizados em seu projeto, planejar ações a serem tomadas, desenhar e montar seu mundo bloco a bloco, como no famoso brinquedo de peças de plástico. “Ainda há muita desinformação, que somada ao receio do desconhecido, gera os falsos alardes de jogos estimularem a violência, de serem perigosos, deixando de lado o uso positivo”, explica o psicólogo. Guedes ressalta que os games, como qualquer outro canal de entretenimento, devem ser utilizados respeitando a faixa de idade e sem excessos.
“Não pode virar uma lanhouse, a escola deve construir um olhar crítico com os alunos”, diz Lynn Alves, pedagoga, doutora em Educação e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Lynn coordena o grupo de pesquisa Comunidades Virtuais, que estuda o desenvolvimento de jogos digitais voltados para educação. Ela acredita que incluir a tecnologia com os estudos é inevitável, faz parte de entender o universo dos alunos. Para ela, não adianta apenas brincar, o papel dos educadores é buscar um sentido para o que as crianças estão fazendo.
A ONG Jogos pela Educação parte da proposta de contribuir para a educação de crianças e jovens através de atividades realizadas com videogames. A ideia é que ao jogar, sempre se pode construir conhecimento, seja interpessoal, cognitivo ou criativo. Tainá Felix, diretora da instituição, adverte para a falta de envolvimento dos pais desses nativos digitais: “Tem que tomar cuidado para não transformar o videogame em babá”.
Entenda o jogo
O Minecraft foi lançado em novembro de 2011, criado pelo sueco Markus Persson, conhecido como Notch. O game tem as opções de criação, em que o jogador pode mexer com os blocos e criar o que quiser; de sobrevivência, em que monstros aparecem à noite; e de aventura, em que se apresentam dificuldades em mundos pré-construídos. Até setembro, o jogo vendeu mais de 33 milhões de cópias em diversas plataformas – ele está disponível em iOS, Android, PC, Mac, Xbox e online.