Fome e vulnerabilidade social atingem bebês

A cada dia novos números espelham a realidade do Brasil sob o foco do governo de Jair Bolsonaro. Segundo pesquisa do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), órgão ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e à Unifase, a fome e a vulnerabilidade social estão atingindo bebês com menos de 1 ano de idade. Em números absolutos, 2.939 mil crianças nessa faixa etária precisaram de internação em 2021.

No ano passado foram registradas 113 internações por desnutrição a cada 100 mil nascimentos, pior patamar dos últimos 14 anos. O resultado mostra um aumento de 10,9% em relação a 2008 (101,9 casos de hospitalização), ano de início do período analisado pela Observa Infância. Na maioria dos casos, as crianças chegam aos postos de saúde e aos hospitais com insuficiência de nutrientes, muitas vezes também desidratadas e com quadro de infecção. A pesquisa ainda mostrou que o problema está mais acentuado entre bebês que vivem nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país.

Essa triste realidade é um retrato do Brasil desde que Bolsonaro assumiu o governo federal. Desde 2019, mais de 10 milhões de pessoas entraram para a faixa da extrema pobreza, um aumento de cerca de 28%. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Ministério da Cidadania, em agosto, mais de 48,3 milhões de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) estavam em extrema pobreza, cerca de 22% da população brasileira. Este é o maior valor da série histórica, iniciada em 2012. Em dezembro de 2018, mais de 37,7 milhões de pessoas estavam nesta condição. São consideradas em extrema pobreza as pessoas que vivem em famílias com renda per capita de até R$ 105 mensais.

Para pesquisadores que analisam este fragmento, todo esse contexto de fome tem relação direta com o fim de políticas sociais no governo Bolsonaro, exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Criado em 2003 no âmbito do Fome Zero, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PAA chegou a comprar quase R$ 1 bilhão em alimentos produzidos sem agrotóxicos em pequenos estabelecimentos, beneficiando de um lado indígenas, quilombolas, extrativistas e pescadores artesanais, e de outro, escolas, asilos e outras instituições que atendem pessoas em situação de insegurança alimentar. “O que vemos não são crianças e adultos precisando de soro na veia, antibiótico, oxigênio ou nebulização. Eles chegam ao hospital, principalmente as crianças, para comer”, lamenta o diretor do Sinpro Cláudio Antunes.