DF teve um dos maiores aumentos de feminicídios no Brasil, e 2024 já começa mal

O ano de 2024 já começou com novos casos de feminicídio: uma mulher de apenas 26 anos foi assassinada pelo ex-marido no Gama, menos de um mês depois de colocar um fim no relacionamento, dia 10 de janeiro. No segundo caso registrado na capital federal neste ano, nesta segunda-feira (15), uma mulher de 37 anos foi encontrada morta no chão do banheiro da casa onde morava. O assassino confesso era seu companheiro, e está preso.

Em 2023, o número de feminicídios dobrou em relação a 2022 no DF: foram 31 casos confirmados e há mais 3 em apuração, segundo o painel de monitoramento de feminicídios da Secretaria de Segurança Pública do GDF. O DF foi uma das unidades da federação onde esse tipo de crime mais cresceu no ano passado.

Ainda segundo o painel do GDF, a maior parte dos feminicídios de 2023 aconteceu no interior de residências e com as chamadas “armas brancas”, como facas, por exemplo. Cerca de 67% já tinham sofrido violência anterior por parte do assassino. As maiores motivações dos assassinos são ciúmes e término de relacionamento.

Os dados indicam que a maioria dos feminicídios é praticada pelo companheiro ou ex-companheiro da vítima. Em muitos casos, chega-se à violência fatal depois de outros atos de violência sexista cometidos antes.

Algumas analistas acreditam que os números da violência aumentam porque hoje há mais ferramentas e mais consciência das mulheres para efetuar a denúncia do que antes, por exemplo, da promulgação da Lei Maria da Penha. Mas também é verdade que a violência sexista, como mecanismo de controle social que é, tende a endurecer diante de uma realidade em que as mulheres buscam sua autonomia e liberdade.

O poder da educação

Os setores fundamentalistas dos parlamentos procuram impedir que a escola seja um espaço de debate sobre as desigualdades de gênero, dentre outras. Entretanto, é preciso um espaço em que a opressão é questionada para que as crianças e adolescentes entendam que a situação de violência não é natural, e pode e deve ser interrompida.

Muitas vezes, é na escola que a criança se sente à vontade para expressar situações de assédio, abuso ou violência doméstica. Os profissionais da educação são aqueles e aquelas que contatam o conselho tutelar em diversas ocasiões.

Mas, para além disso, é preciso educar nossas crianças e adolescentes a não naturalizarem a violência, que os meninos não a pratiquem, que as meninas não a aceitem. Trazendo esse tema para a sala de aula, muitas vidas podem ser salvas, através da geração de conhecimento e de consciência.

Mais que o combate, a prevenção

Iniciativas que envolvam a escola podem ser muito importantes para o combate e, especialmente, a prevenção da violência. É importante construir e fortalecer mecanismos para que a violência sequer chegue a acontecer.

A Lei Maria da Penha, promulgada em 2006, é produto do acúmulo dos movimentos de mulheres nessa direção. A lei tipifica os casos de violência e prevê que o poder público tome as iniciativas necessárias para coibi-la através da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar, medidas integradas de prevenção, atendimento pela autoridade policial e assistência social às vítimas.

Aprofundando esse debate com trabalhadoras e trabalhadores, o movimento sindical busca contribuir nessa perspectiva. Segundo Mônica Caldeira, coordenadora da Secretaria de Mulheres do Sinpro, quando o discurso da intolerância e do ódio são acentuados, as mulheres ficam ainda mais vulneráveis. “O aumento dos casos de feminicídio se dá também como reflexo dessa construção de ódio e de misoginia que vemos nos últimos anos”, aponta ela. “O mundo do trabalho influencia diretamente o modelo de sociedade. O debate pelo local de trabalho é um grande aliado. Quando o sindicato vai ao local de trabalho exercer seu papel de formação, também está ajudando a reconstruir a sociedade para que ela seja livre da intolerância e fortaleça as mulheres”, completa Mônica.

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