Feminicídio: o que a escola e o sindicato têm a ver com isso?

O ano de 2023 conta com pouco mais de 60 dias. Ainda estamos a uma semana do 8 de março, o dia internacional da mulher, e o saldo já é doloroso:

14 feminicídios, e vários outros casos de cárcere privado, tentativa de feminicídio e violência física e sexual contra adolescentes. Isso apenas no Ceará 

7 feminicídios na região de Campinas (SP) 

6 casos de feminicídios no DF – metade deles resultado de disparos de armas de fogo. e

No período de 2015 a 2022, a Secretaria de Segurança pública do DF registrou 156 feminicídios. Desses, 33 foram causados por de arma de fogo —aproximadamente 20%.

O feminicídio é problema endêmico no Brasil. Por que, para tantos homens, dispor da vida de uma mulher como se fosse um objeto, ou coisa menor / inferior, é algo tão natural? Encontramos a resposta numa combinação histórica e social de cultura machista com ascensão de pautas conservadoras e morais.

Mas o que um sindicato dos professores, uma categoria majoritariamente feminina, tem a ver com o número de feminicídios? Pensando bem, o que a escola tem a ver com isso? O que você, profissional do magistério, tem a ver com isso? Como, em sala de aula, podemos evitar que nossos jovens se tornem agentes e vítimas do feminicídio?

“É função da escola escancarar essa naturalização da violência contra mulheres. É nossa função, como educadores e educadoras, mostrar aos estudantes a ausência de justificativa para o tratamento dispensado às mulheres por vários homens (e mulheres também) em pleno século XXI”, lembra Mônica Caldeira, coordenadora da secretaria de mulheres educadoras do Sinpro. “Qual a correlação entre o conservadorismo, o machismo e a punição aos corpos das mulheres? Qual a correlação entre as pautas morais e as pautas de costumes e a punição à existência das mulheres”, lembra a diretora do Sinpro.

É possível trazer a questão dos feminicídios à reflexão em sala de aula com vários ganchos. Nas aulas de geografia e história, demonstrando os aspectos sociais e históricos da questão, e mesmo nas aulas de português: O feminicídio é comumente contado na voz passiva. Assim, nas manchetes de jornais sobre feminicídios, o sujeito “Mulher morta” é muito mais comum do que “Homem mata mulher”.

Esse artifício dá o protagonismo da história à mulher, e “apaga” a importância do causador de sua morte. Essa questão é abordada no livro “Histórias de Morte Matada Contadas Feito Morte Morrida – A narrativa de feminicídios na imprensa brasileira”, escrito pelas jornalistas Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues

Quais as consequências e os efeitos dessas construções sintáticas? Isso contribui para a naturalização da morte feminina?

Em fevereiro, a secretaria de políticas para mulheres educadoras do Sinpro realizou o Encontro de Mulheres Educadoras, que refletiu sobre qual escola queremos. O TV Sinpro da próxima quarta-feira (1/3, às 19h) traz os principais momentos desse evento.

O mês de março traz uma série de eventos para debater e refletir sobre o papel da mulher na sociedade: a CUT-DF programa para o dia 8, quarta-feira, um cortejo saindo da Funarte às 17h, rumo ao Palácio do Buriti, onde haverá um ato.

Promover a reflexão sobre o papel da mulher na escola e na sociedade é tarefa também do sindicato. E você? Já levou suas turmas a refletirem sobre isso?

MATÉRIA EM LIBRAS