Morte matada ou morrida? A imprensa e os feminicídios no Brasil

Recém lançado pela Drops Editora, o livro “Histórias de Morte Matada Contadas Feito Morte Morrida – A narrativa de feminicídios na imprensa brasileira” é chocante em vários sentidos. Escrito pelas jornalistas Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues, a obra demonstra como o machismo permeia não apenas os feminicídios, mas como a sociedade percebe e conta essas histórias.

“Histórias de Morte matada(…)” analisa a narrativa adotada pela imprensa brasileira, especialmente a escrita, na cobertura dos casos de feminicídio no país. As autoras mergulharam em matérias publicadas, nos últimos 40 anos, sobre o assassinato de mulheres por motivações misóginas, incluindo casos como os de Ângela Diniz e Eliane de Grammont, até Sandra Gomide, Eloá Pimentel, Eliza Samudio, Viviane do Amaral, Viviane Sptinizer, Patrícia Accioli, Marielle Franco e outras vítimas de menos repercussão, mas com igual importância. O conteúdo levanta também uma discussão sobre temas ainda pouco abordados, como o feminicídio político e os órfãos do feminicídio.

Segundo as autoras, existem dois artifícios que são praticamente clichê na construção de textos jornalísticos sobre feminicídios. Um é a corresponsabilização: a mulher também tem um pouco de culpa por sua própria morte. O ciúme do (ex-)parceiro explica, “desculpa” tudo e acaba por amenizar a responsabilidade do assassino.

O outro artifício é sintático. O feminicídio é comumente contado na voz passiva. Assim, o sujeito “Mulher morta” é muito mais comum do que “Homem mata mulher”. Esse artifício destaca dá o protagonismo da história à mulher, e “apaga” a importância do causador de sua morte.

Além disso, a vítima do feminicídio é muitas vezes colocada sob uma lupa moral, o que inclui desde a foto que estampa a matéria até a falta de busca por informações mais profundas sobre a história de vida dessa mulher assassinada. Para as autoras, é como se redações de imprensa de norte a sul do país seguissem um manual de redação informal, não escrito, sobre como fazer a cobertura dos casos de feminicídio.

O livro é obrigatório para jornalistas que buscam refletir, aprender e melhorar. E altamente recomendável para professores que querem trabalhar com seus alunos uma leitura crítica de notícias de jornal. Está disponível no site da Drops Editora por R$ 55,00.