Falta de intérpretes de sinais no Iesb prejudica aprendizado de alunos surdos
O procurador do trabalho do Ministério Público da 10ª Região, Carlos Eduardo Brizola, exigiu que o Instituto de Educação Superior de Brasília – Iesb verifique a habilitação dos intérpretes de sinais para exercício profissional e comprove que a quantidade de trabalhadores é suficiente para o número de alunos surdos matriculados. O encaminhamento foi feito na primeira audiência de conciliação entre o Sinprols, sindicato que representa a categoria, e a direção do Iesb, com o objetivo de tentar solucionar a demissão de todos os 11 intérpretes de sinais do Centro Universitário, no início do semestre. A audiência foi realizada nessa quinta-feira (7), e contou com a participação de vários alunos com surdez do Iesb e do presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto.
Durante a reunião, a diretoria do Iesb alegou que já havia contratado cinco novos intérpretes de sinais. Entretanto, de acordo com a documentação apresentada, apenas um deles tinha os requisitos técnicos básicos para exercer a profissão, o que reflete no questionamento dos alunos sobre a qualidade técnica dos novos intérpretes e a insuficiência de profissionais para o número de alunos.
De acordo com a aluna do Iesb, Daniele, que tem surdez, o Centro Universitário trocou intérpretes, mas contratou profissionais sem qualificação técnica. “Eu quero ter orgulho de estar formada com qualidade, mas o Iesb não vê isso. Eles estão atrapalhando meu sonho. Eu tenho direito de ter intérprete de qualidade em sala de aula”, diz a aluna.
A aluna Vanessa Alves, que também tem surdez, pediu a palavra durante a audiência de conciliação e disse que “está sem intérprete há três semanas”. “Ainda não consegui participar das aulas, das palestras, de nada”, disse. “Já que falaram que contrataram cinco intérpretes, amanhã, quando chegar em sala de aula, quero que tenha um intérprete lá me esperando”, exigiu a aluna.
Questão social
Os intérpretes demitidos e seus ex-alunos afirmam que a contratação dos profissionais vai além da questão técnica. “Na comunicação de sinais, não há um sinal específico para cada palavra. Cabe ao aluno e ao intérprete fazerem uma combinação. Quando entra um intérprete novo, toda essa combinação fica praticamente perdida, e o aluno tem prejuízo de aprendizagem”, explica a intérprete de sinais Cassia Souza, uma das trabalhadoras demitidas pelo Iesb.
A alegação do Iesb para a demissão do quadro de trabalhadores intérpretes de sinais é a adequação do número de profissionais ao número de alunos para ajuste orçamentário. Segundo a deputada Érika Kokay, que participou da audiência de conciliação, o que a direção do Iesb vem fazendo é “economia de tostões em detrimento de direitos e qualidade de ensino”.
“Nós da CUT Brasília damos todo o apoio ao Sinprols, aos trabalhadores demitidos e aos alunos prejudicados. Estamos prontos para darmos continuidade à luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e, acima de tudo, dos direitos humanos”, afirmou o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto, após a audiência de conciliação.
Um novo encontro no Ministério Público do Trabalho para dar continuidade às negociações a respeito da demissão dos trabalhadores intérpretes de sinais do Iesb ficou agendado para o dia 3 de setembro, às 15h.
Secretaria de Comunicação da CUT Brasília