Estudo dos EUA diz que formação de professores importa mais do que o tamanho da turma

Para especialistas brasileiros, situação não vale aqui, onde as salas já são superlotadas e a escola não tem estrutura

O que é mais importante na sala de aula: o professor ou a quantidade de alunos? Segundo um estudo realizado pelo instituto norte-americano Thomas B. Fordham, o número de estudantes importa menos do que a qualidade do docente. Essa realidade ainda está longe de fazer sentido na estrutura da educação pública brasileira, em que as salas já têm excesso de alunos e as escolas, pouca estrutura, dizem os especialistas.
Para realizar o estudo, os pesquisadores acompanharam estudantes do 4ª a 8ª série de escolas da Carolina do Norte. Simulações mostraram que mesmo com uma quantia maior de alunos na sala de aula, as turmas que tiveram resultados mais positivos eram as que tinham os melhores professores.
Na pesquisa, o número médio era de 22 alunos por sala de aula e essa quantidade poderia crescer até mais 12 alunos sem perder qualidade. Pelo contrário, os resultados das simulações mostram que o impacto no aprendizado causado pela mudança equivalia a mais duas semanas e meia de aulas.
Mas existe validade da pesquisa no Brasil? Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), acha que o estudo deve ser olhado com cuidado. “Não dá para seguir essa lógica se pensarmos que no Brasil temos salas com 40 ou 50 alunos”, pondera.
Anna Helena avalia ainda que faltaria olhar com atenção para a variável do aluno. Ou seja, mais do que olhar notas e quantidade de alunos, é preciso considerar o perfil dos estudantes que estão na escola.
“Por exemplo, se você pega uma sala de aula onde os alunos têm uma heterogeneidade de recursos culturais da família vai existir uma boa troca de experiência entre eles. Mas quando o grupo é homogêneo e ele não tem esses recursos culturais a situação é diferente. Existe uma troca entre eles, claro, mas as possibilidades são diferente”, afirma a superintendente.
Para a diretora da Faculdade de Educação da PUC-SP, Neide Noffs, também é preciso avaliar a estrutura da escola. “No Brasil, o número de alunos têm que estar articulado com a condição do ensino na escola, porque a qualidade do professor passa por essas condições”, diz.
Ela lembra que a estrutura independe do número de alunos ou da qualidade do professor. “Mas quando você tem estrutura, a formação do professor pode afluir com maior naturalidade. Se eu tenho competência e não tenho estrutura a situação fica muito complicada”, avalia Neide.
A sala de aula ideal
Mas qual é o tamanho ideal de sala? Um projeto de lei que está em tramitação na Câmara dos Deputados debate exatamente o assunto. A medida quer estabelecer o limite de 25 alunos por sala na pré-escola e dois primeiros anos do ensino fundamental e 35 nos demais anos do ensino fundamental e no ensino médio. A medida é aprovada pelos docentes.
Segundo Anna Helena, porém, é preciso avaliar a situação de cada escola. “Esse é um número bom. Mas isso se pensarmos em uma situação ideal, em que as crianças matriculadas já tiveram uma escolaridade, que elas passaram por um trabalho efetivo e tem suporte da escola. Mas nós sabemos que isso é quase uma utópia em muitas regiões”.
Apesar de muitas escolas particulares “venderem” o número baixo de alunos na sala de aula como algo positivo, a questão também é vista com cuidado pelos especialistas.
Luciana Fevorini, diretora do Colégio Equipe e doutora de psicologia escolar, concorda que não necessariamente uma sala menor é sempre melhor. “Tem questão da dinâmica dos alunos. Se for uma sala de aula pequena, que os alunos tem problemas de relação, isso é péssimo”, afirma. Ela, que foi professora durante anos, conta que teve experiências de salas pequenas com muitos problemas e salas com 35 alunos que o trabalho fluía muito bem.
Cristina Nogueira Barelli, Coordenadora do Curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, diz que o número de alunos na sala depende de diversos fatores: faixa etária, faixa de escolaridade, autonomia do aluno, característica do objeto que está sendo ensinado.
“Uma aula de conversação em que se aprende uma 2ª. língua pode ser mais eficaz com um número menor de alunos. Já uma aula em que é necessária uma socialização pode ser mais rica com um número maior de alunos”, define.
O que não é relativo, diz, Cristina, é a qualificação do professor. Para ela, nenhuma sala – pequena ou grande – terá sucesso se o professor não for qualificado. “Pois ele saberá qual a melhor estratégia usar considerando o número de alunos e o conteúdo a ser ensinado”.
Fonte: Portal IG