Estudantes surdos se empoderam através da arte em escola de Taguatinga
Pintura, reciclagem, desenho, o que não faltam são atividades de cunho interdisciplinar para os estudantes da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga darem vazão a todo seu potencial artístico e ao desenvolvimento do próprio protagonismo. É fruto do trabalho da professora de Artes Cênicas e Visuais Rosa Pires, que inclusive em breve lançará um livro contando toda esta experiência.
Apesar de a escola ter alunos desde a Educação Infantil até EJA, este projeto é desenvolvido com os 82 alunos (as) da educadora, dos Ensinos Fundamental e Médio.
“A ideia surgiu de transformar a sala de artes e então veio a primeira dificuldade: como vamos fazer? Comecei a pedir aos alunos, professores, direção, a quem pudessem ajudar. Então a mobilização foi tanta entre os alunos e colegas que a gente começou a ampliar o projeto da sala de artes para a sala de ensino especial, para a turma diferenciada… Os alunos começaram a desenvolver e melhorar a pintura, o desenho, pois eles queriam que o trabalho fosse exposto na sala de arte e fora dela”, conta a professora.
O mais importante com esta ação, de acordo com a educadora, é que “o surdo deixou de ser o coadjuvante da história e passa não só a apresentar os trabalhos e transformar o ambiente, mas também de se sentir capaz de integrar a sociedade, de não ter vergonha de se expressar em Libras, de se apresentar em peças de teatro, de participar das festas da escola, da dança”.
É um projeto interdisciplinar, integrando outras disciplinas como geografia e ciências. Uma geladeira velha foi comprada e completamente pintada, transformada. “A reciclagem da geladeira, transformada nas aulas de Artes, será usada em Ciências com uma turma de alunos especiais”, diz Rosa.
O mais importante com estas ações é o empoderamento dos estudantes. “O surdo, pela dificuldade com acessibilidade em Libras, em sociedade tem pouca interação. Acaba tendo uma baixa autoestima e deixa de acreditar nele mesmo. Os projetos ajudam nesse desenvolvimento do protagonismo do indivíduo surdo”, analisa.
Livro
“Histórias e Vivências em uma Escola Voltada à Educação de Surdos” está em fase de finalização. “Surgiu pelo meu projeto de dissertação do mestrado na UnB, sobre essa imersão nessas escolas que estou desde 2017 e eu escrevi sobre como é a educação para os surdos, o que acontece, como a arte pode ajudar no desenvolvimento do protagonismo do indivíduo surdo, inclusive a capa do livro foi feito por um dos ex-alunos que foi aprovado na prova de habilidade específica da UnB em artes visuais, Kauan de Sousa”.
Com os projetos e esta obra, Rosa Pires reafirma o seu entusiasmo com a educação pública. “Se hoje sou professora, eu devo muito aos bons projetos que vivenciei como aluna da rede pública de ensino que me mostraram que, apesar das dificuldades e exclusão social, eu era capaz. Acreditei e me tornei professora de Artes para mostrar também a outras tantas crianças, que assim como eu, sonham com uma educação de qualidade e oportunidades iguais a todos, independente da classe social ou deficiências”.
O livro será lançado pela Editora Vionart do Rio de Janeiro. Está em processo de impressão e também sairá no formato ebook e audiobook, pensando nos alunos cegos. “Eu penso também em traduzir o livro para Libras, para ficar ainda mais acessível aos nossos alunos”, complementa.
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