Estudantes decidem manter greve e ocupação na reitoria da USP

No local há mais de um mês, grupo pede eleições diretas para reitor e vice-reitor
 
Em assembleia realizada na noite desta quarta-feira (6), estudantes da USP (Universidade de São Paulo) em greve desde o dia 1º de outubro decidiram manter a paralisação e a ocupação à reitoria da instituição. Eles estão no local, no campus do Butantã, na zona oeste de capital paulista, desde o início da mobilização.
A decisão foi tomada em assembleia realizada no próprio campus. No último dia 4, O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) aceitou o pedido de reintegração de posse do prédio da reitoria da USP. No último dia 15, a Justiça havia concedido 60 dias para que a desocupação fosse realizada por meio de um processo de diálogo.
Uma reunião entre estudantes e representantes da universidade realizada na manhã desta quarta-feira terminou sem um acordo entre as partes. Na mesma manhã, os alunos em greve receberam a notificação sobre a reintegração de posse.
Em nota, o DCE repudiou a decisão judicial de reintegração de posse por ter sido expedida durante processo de negociação, além do caráter democrático, legítimo e político da mobilização. O documento, publicado no site da entidade, informa que, no dia da decisão da Justiça, o comando de greve já havia iniciado a aprovação do termo de acordo entre estudantes e reitoria, e que a decisão final estava agendada para a assembleia desta quarta-feira.
Reivindicações
Os estudantes, representados pelo DCE Livre da USP, deram início à paralisação e a ocupação de parte do prédio da reitoria da universidade, no campus do Butantã, na zona oeste da cidade, após serem impedidos de participar da reunião do CO (Conselho Universitário).
Entre as solicitações dos alunos estão a participação no processo eleitoral para os cargos de reitor, vice-reitor, diretores de unidade e chefes de departamento. Eles pedem ainda participação na discussão sobre o modelo de segurança a ser adotado no campus — o grupo é contra o convênio com a Polícia Militar —, a transformação dos blocos K e L, do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), em moradia estudantil, o reajuste do valor das bolsas estudantis, duplicação do número de ônibus circulares da USP e retorno de linhas já extintas.
Na última quinta-feira (31), uma reunião entre integrantes do DCE Livre e representantes da reitoria estabeleceu uma série de compromissos, entre eles, a formação de uma estatuinte, instrumento que permite a um gestor administrar uma instituição pública de forma democrática, na qual será incluída a discussão sobre eleições diretas, uma das principais solicitações dos estudantes.
O acordo prevê a convocação do processo de uma estatuinte livre, autônoma e democrática, de acordo com o estabelecido em reunião do CO (Conselho Universitário) no dia 1º de outubro, data do início da greve dos estudantes e da tomada da reitoria. Os alunos consideraram a definição de compromissos como uma vitória do movimento.
Em assembleia realizada na noite da última quinta-feira (31), os alunos decidiram pela manutenção da greve. Apesar dos compromissos firmados na reunião de ontem com representantes da reitoria, os estudantes querem a  garantia de que as reivindicações sejam atendidas de maneira global. O grupo agendou para a próxima quarta-feira (6) uma nova assembleia.
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Reintegração voluntária
No dia 9 de outubro, a Justiça de São Paulo negou o pedido de reintegração de posse feito pela USP (Universidade de São Paulo) para retirar os alunos que ocupam a reitoria desde o dia 1º de outubro. A decisão foi tomada pela 12ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo.
A USP recorreu da decisão e no dia 15, o desembargador José Luiz Germano, da 2ª Câmara de Direito Público, decidiu pela desocupação voluntária do local. A Justiça deu 60 dias para que o grupo deixe o local pacificamente sem o envolvimento da Polícia Militar.
A direção da universidade chegou a cortar a energia elétrica e o fornecimento de água do prédio da reitoria, com objetivo de interromper a ocupação. Ainda assim, o grupo resistiu e, com a ajuda de moradores do Crusp para higiene pessoal e alimentação, permaneceram no local.
Ao longo destes 30 dias, a mobilização ganhou adeptos em outros campi e universidades. Os estudantes do campus de São Carlos decidiram pela paralisação. Os alunos da USP Leste também ocuparam o prédio da administração no dia 3 de outubro. Eles decidiram parar as atividades pelo afastamento do vice-reitor da unidade e pela regularização de questões ambientais no terreno onde o campus está instalado. Uma semana depois, a Justiça decidiu pela reintegração do espaço.
Estudantes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também ocuparam a reitoria da instituição, no interior do Estado, assumindo a manifestação iniciada pelos alunos da USP no dia 1º de outubro.
Manifestações
Neste período, os estudantes realizaram manifestações dentro e fora do campus. No dia 15, alunos da USP e professores se juntaram a estudantes de outras universidades estaduais de São Paulo para uma caminhada até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado.
Antes, no dia 7, eles se reuniram na avenida Paulista, em solidariedade aos professores em greve no Rio de Janeiro. Dois dias depois, eles se juntaram a estudantes da Unicamp no vão livre do Masp, também na avenida Paulista.
No dia 11, representantes do movimento realizaram uma manifestação diante do portão 1 da universidade. Uma semana depois, o grupo voltou ao portão principal do campus para mais protestos pedindo uma reunião com o reitor, João Grandino Rodas. Nesse dia, um carro que tentava entrar no campus chegou a avançar sobre os estudantes. Os estudantes voltaram a bloquear o portão 1 na terça-feira (29), com faixas e cartazes. A manifestação foi pacífica.