Estudantes dão aula na premiação do 2º Festival de Curtas do Sinpro
O conceito de felicidade é uma questão filosófica. Para Sócrates, a felicidade só poderia ser atingida por uma conduta virtuosa e justa. Aristóteles entendia felicidade como o fim que todo ser humano busca. Para Hannah Arendt, a felicidade se encontra na participação ativa na vida política e na construção do mundo comum. Na filosofia africana Ubuntu, a felicidade individual está diretamente ligada à felicidade do outro.
A premiação do 2º Festival de Curtas do Sinpro – Adélia Sampaio, realizada nessa quarta-feira (13/11), deu prosseguimento ao debate que atravessa os tempos. De realidades diversas, muitas vezes duras, estudantes das escolas públicas do DF fizeram análises sensíveis, críticas e impactantes sobre o que é felicidade ao elaborar filmes de até 5 minutos com o tema “Escola é Lugar de Ser Feliz”.
Para eles, felicidade é não conviver mais com o bullying; é ser acolhido por colegas da sala de aula; é sair de um lar conturbado e encontrar amizades verdadeiras; é ser livre para assumir a orientação sexual; é ter acesso ao conhecimento que liberta; é ter inclusão. Felicidade também é receber o apoio de um professor; é brincar na hora do recreio; é comer a merenda – muitas vezes, a única refeição do dia; é fazer rimas e grafites bem elaborados; é ter oportunidade para construir um futuro sem grades.
“Neste 2º Festival de Curtas do Sinpro, quem teve aula fomos nós, os professores e orientadores educacionais. É emocionante ver como os estudantes, independente da idade, fazem discussões tão profundas para que tenhamos uma sociedade onde haja mais paz, mais sorrisos, mais solidariedade, mais acolhimento, mais justiça”, avalia o diretor do Sinpro Raimundo Kamir.
Para o sindicalista, “o maior prêmio desta edição do Festival foi dado ao coletivo”. “Acredito que saímos daqui (da cerimônia de premiação), todos e todas, premiados. Discutimos, conjuntamente, o que nossa comunidade escolar quer e precisa para ser feliz. Apontamos falhas que embarreiram viver em felicidade, como a desvalorização da nossa categoria e a violência que nasce da ausência do Estado e invade as escolas. Mostramos que as escolas públicas são definitivas para a formação de crianças e jovens, e que é necessário investimento para a educação. Esses ensinamentos serão espalhados e, com certeza, contribuirão para a construção de um DF e um Brasil melhor.”
A chegada
Cerca de 40 minutos antes do horário de início da cerimônia de premiação do 2º Festival de Curtas do Sinpro, agendada para 14h, ônibus lotados de estudantes de várias cidades do DF começaram a chegar ao Cine Brasília.
Tanto os pequenos como os mais crescidos observavam atentamente o espaço que abrigou figuras ilustres da cinematografia e exibiu obras revolucionárias para o cinema brasileiro.
De uniforme escolar, os estudantes entraram curiosos no último cinema de rua do DF, projetado por Oscar Niemeyer, por onde já passaram o cineasta Vladimir Carvalho, a atriz Sônia Braga, o músico e cantor Paulo Miklos e tantos outros. Fizeram pausa para registrar o momento com selfies e, claro, para pegar a pipoca. Afinal, a sessão estava prestes a começar.

A sessão
Em poucos minutos após a abertura da sala de cinema, os mais de 600 lugares do Cine Brasília foram ocupados quase que completamente. E não demorou muito para que os gritos de “já ganhou” começassem, antes mesmo que fossem exibidos os 25 curtas selecionados pela Comissão Julgadora do 2º Festival de Curtas do Sinpro.
“Hoje não teremos os melhores. Teremos os melhores momentos dos curtas selecionados, pois cada um já deu o melhor de si”, disse o jurado Lehandro Lira, diretor de arte, arte educador, coreógrafo e ativista cultural.
Ao lado dele, a diretora do Sinpro Joana Darc afirmou que os estudantes levariam aquele momento para sempre na lembrança. “Lançamos a semente. Daqui, muita coisa boa vai sair, principalmente a ideia de que realmente precisamos de mais livros e menos armas. E, para isso, é urgente mais investimento na educação”, afirmou.
Como representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o diretor do Sinpro Cleber Soares seguiu a linha de Darc, e completou: “Uma escola só é feliz se for cuidada. E escola cuidada é escola que tem investimento do governo”, disparou, e recebeu aplausos que confirmaram que esse era um pensamento compartilhado por todos ali.
Minutos depois, as luzes se apagaram. No telão, o aviso: “Desliguem os celulares. A sessão vai começar”. O público foi à loucura. Faltava pouco para o anúncio dos grandes vencedores.
A premiação
Abraços, pulos, sorrisos, gritos a cada anúncio dos curtas que se destacaram nas categorias do 2º Festival de Curtas do Sinpro. Não importava a idade. Alguns se emocionaram, outros fizeram dancinha no palco. Comemorações de fazer inveja a vencedores do Oscar.
Rafael Francisco, de 10 anos, foi o protagonista do curta “O Bruxinho que Atrasava o Conhecimento”. A história traz uma criatura que invade a sala de aula e joga um feitiço nos estudantes para que ninguém mais consiga aprender. O que essa criatura não esperava era que ali, naquele espaço de conhecimento, havia a arma perfeita para combate-la. “Eu criei essa história. Ela saiu da minha cabeça. No dia, eu estava inspirado, e aí disse: tio, bora fazer desse jeito? Aí ele topou, arrumou algumas coisas que eu tinha falado, e aí foi”, contou orgulhoso. O curta, realizado pela Escola Classe 12 do Gama, foi o escolhido na categoria Educação Infantil.
Para o professor Higor Lucas da Rocha Alencar, do CED Darcy Ribeiro, no Paranoá, o Festival de Curtas do Sinpro proporcionou aos estudantes da unidade escolar a consciência de que eles também podem fazer cinema. “Têm alunos nossos que nunca foram ao cinema. Com o Festival de Curtas, nós levamos até os estudantes não só a oportunidade de virem ao Cine Brasília, de prestigiarem os outros colegas, mas também de fazer filmes. Isso é fantástico”, avaliou o docente que coordenou a elaboração do curta “Epílogo”, um stop motion de papel, escolhido na categoria Ensino Fundamental.
Já o professor Francisco Celso Leitão Freitas, do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação da Santa Maria, avalia que os curtas exibidos no Festival promovido pelo Sinpro “mostram a potência da educação pública do DF”. “Costumo dizer que a linguagem artística toca muito mais mentes e corações do que qualquer discurso eloquente. A sétima arte é uma ferramenta muito poderosa de educomunicação, ainda mais em um espaço de silenciamento tanto das vozes quanto dos corpos.” Ele coordenou o curta “Violência Nunca Mais!”, vencedor da categoria Educação do Sistema Socioeducativo ou do Sistema Prisional.
Além da premiação dos curtas escolhidos em cada uma das categorias do Festival do Sinpro, também foram entregues menções honrosas para filmes que se destacaram. “Foram muitos trabalhos maravilhosos. É preciso reconhecer a dedicação, o empenho e, principalmente, o olhar crítico dos nossos estudantes, professores, orientadores educacionais, dos trabalhadores que fazem a merenda, dos que realizam a limpeza das unidades escolares. Toda a comunidade escolar foi envolvida nesses trabalhos, o que mostra que escola é também um lugar de partilha, de horizontalidade, de trabalho em conjunto. Definitivamente, escola é lugar de ser feliz”, afirma a diretora do Sinpro Letícia Montandon.
Ao todo, cinco filmes receberam premiação de melhor curta (Veja lista abaixo) nas categorias Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação do Sistema Socioeductivo ou do Sistema Prisional), além da avaliação do Júri Popular.
O próximo Festival de Curtas do Sinpro – Adélia Sampaio será em 2025. A contagem regressiva para a terceira edição já começou.
PREMIADOS
Educação Infantil
O Bruxinho que Atrasava o Conhecimento
Escola Classe 12 do Gama
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Educação Fundamental
Epílogo
Centro Educacional Darcy Ribeiro
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Ensino Médio
Mundo de Papel
Centro Educacional do Lago Norte
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Educação do Sistema Socioeducativo ou do Sistema Prisional
Violência Nunca Mais!
Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria
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Júri Popular
Pétalas do Ébano
Centro de Ensino Médio Integrado do Gama
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MENÇÃO HONROSA
Educação Infantil
Escola é Lugar de Ser Feliz
Escola Classe 06 de Taguatinga
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A Turma Feliz
Escola Classe 12 do Gama
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Ensino Fundamental
Horinhas de Descuido
CEF Gan
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Valores
Centro Educacional Darcy Ribeiro
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Ensino Médio
Bia e Tiago
Centro de Ensino Médio Elefante Branco
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Educação do Sistema Socioeducativo ou do Sistema Prisional
Esperançar, Educar, Ressignificar
Núcleo de Ensino da Unidade de Internação da Santa Maria
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