Estádios não são mais área livre para homofóbicos

No último domingo (25), a vitória de 2 x 0 do Vasco contra o São Paulo, em São Januário (RJ), não foi o principal comentário no debate público. Com a bola em campo, parte da torcida vascaína entoou gritos homofóbicos contra o time visitante. Algo comum no meio futebolístico, certo? Não mais. Diante do ataque, o árbitro paralisou a partida e orientou o técnico do Vasco, Vanderlei Luxemburgo, a tomar medidas contrárias a agressão. Técnico e jogadores cruzmaltinos dialogaram imediatamente com a torcida, e foram ouvidos. Paralisar uma partida de futebol por causa de homofobia é um fato inédito no Brasil.

Além das medidas imediatas, o clube se posicionou por meio de nota oficial (leia aqui) lamentando o ocorrido e se prontificando a tomar medidas futuras de combate à homofobia. O árbitro do jogo relatou o ocorrido em súmula e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) abriu um procedimento preliminar para que o Vasco se explique sobre o ocorrido. Segundo jornalistas, a tendência é que não seja apresentada denúncia tendo em vista as medidas já tomadas pelo clube.

A repercussão tem sido positiva. Percebo que a maior parte dos torcedores de todos os clubes e a própria mídia se posicionaram corretamente contra a homofobia e pela necessidade de mudanças de comportamento nas arquibancadas.

É possível torcer apoiando seu time sem utilizar xingamentos preconceituosos. Não podemos mais aceitar que os estádios sejam locais onde os homofóbicos se sintam livres para expressar seu preconceito. O mundo mudou e as arquibancadas também devem passar por esta mudança. O combate à homofobia nos estádios é uma orientação da FIFA, entidade complicadíssima que, apesar dos diversos escândalos de corrupção e cujo modelo de gestão imposto a confederações e clubes tem elitizado o futebol e afastado os torcedores e comunidades de seus clubes, acertou nesta medida. Na mesma linha, decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou e enquadrou a homofobia dentro da Lei do Racismo, em decisão comemorada por diversos movimentos e amplos setores da sociedade.

Agora se faz necessário que o Vasco realmente leve a sério as medidas de médio e longo prazo para que este fato não ocorra novamente no futuro, sendo óbvio que aqueles que entoaram os cantos homofóbicos não mudaram o pensamento e deixaram o preconceito de lado no instante em que Luxemburgo, os jogadores e o sistema de som mandaram eles se calarem. Tampouco é um problema restrito ao Vasco, pois todos sabemos que a maioria das torcidas já ecoou os mesmos gritos em outras partidas.

Há um longo caminho a ser percorrido. Os clubes devem buscar apoio de movimentos sociais e entidades com histórico de combate à homofobia. Os torcedores precisam se apoderar de seus clubes, promovendo campanhas e se organizando para combater preconceitos. A disputa institucional não pode ser deixada de lado, é preciso compreender que as eleições para as presidências e conselhos deliberativos dos clubes também precisam se tornar espaços de debate sobre sua democratização em todos os aspectos.

Estas não são tarefas fáceis, mas são necessárias para que possamos transformar nossas arquibancadas em espaço de todos e de todas!

Yuri Soares 
Professor de História na SEEDF, Secretário de Políticas Sociais da CUT Brasília e filiado ao Club de Regatas Vasco da Gama