Espetáculo “A Sombra dos outros” oferece visita guiada a estudantes da rede pública

A Sombra dos outros | Saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou é o título da instalação imersiva que reúne teatro, cinema, fotografia e artes visuais que começou em 2018 em Nova York. O evento chega a Brasília e a partir de junho circula pelo Plano Piloto, Ceilândia e Estrutural com obras realizadas pelos artistas Diego Bresani, Gil Roberto, Rodrigo Fischer e Virgílio Neto, que contará com visita guiada para estudantes da Rede Pública do DF, com interpretação de Libras. A entrada é gratuita. Confira as datas e os locais de exibição do espetáculo, bem como o ocntato para agendamento com escolas  ao final deste post.

O projeto multidisciplinar A sombra dos outros | Saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou, do Grupo Desvio, formado pelos artistas Diego Bresani (Fotografia), Gil Roberto (Dramaturgia), Rodrigo Fischer (Teatro/Audiovisual) e Virgílio Neto (Arte Visual) chega neste mês de junho à Capital Federal. Performance, time-based media e teatro fazem parte da instalação imersiva que busca estabelecer um diálogo com a cidade, afetar e ser afetado por ela com o objetivo de enxergar arquiteturas, paisagens, pessoas, imagens e objetos por diferentes perspectivas, reconfigurando assim nossa relação com a cidade, suas invisibilidades e suas sombras.

A apresentação do projeto começa pela Alfinete Galeria (509 Sul), nos dias 23 e 24/06, com visitação das 16h às 20h. A seguir, a instalação será montada no Jovem de Expressão (Ceilândia Norte), 27 e 28/06, das 15h às 19h, e no CREAS (Estrutural), nos dias 30/06 e 01/07, das 14h às 17h. A realização do projeto “A sombra dos outros | Saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou” tem o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).

Inspirado no romance Memórias do Subsolo de Fiódor Dostoiévski, o projeto foi idealizado por Rodrigo Fischer com cocriação do Grupo Desvio de Brasília que propõe o intercâmbio criativo entre artistas de teatro, cinema, fotografia e artes visuais. O projeto, que estreou no Teatro Dixon Place em Nova York (2018), tem uma estrutura que é recriada a partir do contato específico com cada cidade. Ou seja, em cada cidade, o idealizador se junta com artistas locais e faz o exercício de olhar a cidade por diferentes perspectivas a fim de coletar material para recriar o projeto que se fundamenta na relação deles com a cidade.

O ponto de partida foi fazer uma imersão pelas ruas do Plano Piloto e de outras Regiões Administrativas do Distrito Federal, como Ceilândia e Estrutural. Essa imersão foi usada como um disparo para o início de conversas, trocas e reflexões entre os artistas Diego, Rodrigo e Virgílio, que começaram a compor suas obras, principalmente, a partir das contradições que eles observaram nessa etapa. Simultaneamente, Gil Roberto passou a esboçar uma dramaturgia que não apenas condensava poeticamente as reflexões e composições até então, mas delimitava paisagens que atravessavam os diferentes suportes de criação e composição. Uma referência importante neste princípio de criação foi o texto “Nos primeiros começos de Brasília”, de Clarice Lispector. A ideia de uma Brasília peculiar, permeada de estranhezas pela poética da escritora, inspirou o grupo a imaginar uma cidade outra, absurda, onírica, desarrazoada e alienígena.

 

Produção coletiva

Diego Bresani desenvolveu seu trabalho para o projeto baseado na sua relação de deslocamento pela cidade. Diego traz para o projeto, fotografias feitas em suas andanças pela cidade, registrando e coletando paisagens feitas por alguém que passou anteriormente e deixou sua marca. Através dessa coleta finalizada em imagens fotográficas, Diego faz uma reflexão sobre a caráter distópico que também existe no próprio envelhecimento da cidade.

Gil Roberto vê no “dramaturgiar” um modo de existir singular, que também é um modo de agir ética, estética e politicamente no mundo. A partir desta perspectiva, seu olhar se desdobrou, neste projeto, na intenção de agenciar diferenças por meio da narrativa escrita, compondo com os outros artistas, a partir de imagens, perspectivas e estilos diversos, uma Brasília multiplicada no espaço e no tempo.

Rodrigo Fischer iniciou seu trabalho a partir do exercício de filmar paisagens, arquiteturas, pessoas e objetos de Brasília por diferentes perspectivas. Ao longo do processo, foi importante pensar como o audiovisual poderia incorporar e dialogar com elementos da fotografia, do desenho e da dramaturgia. O resultado é composto então por meio de vídeos e instalações que integram o material de arquivo e a materialidade composta ao vivo.

Virgílio Neto partiu da linguagem do desenho pensando paisagem e memória por meio do uso de palavras, imagens de arquivo e arquitetura. Propõe pensar a paisagem da cidade de Brasília de uma outra forma, por meio do diálogo com a produção dos outros artistas e do texto do Dostoiévski.

 

Relato da imersão:

“O primeiro dia deste processo, que foi bastante peculiar e simbólico, delimitou a forma como olhamos para a cidade durante a criação do projeto. Um dia que começou com um café da manhã na saída da passagem subterrânea da 109 norte. Comemos uma excelente tapioca com café feito por uma “ambulante” que está nesse mesmo local há 21 anos. Uma barraquinha que fica em frente a um prédio espelhado residencial da 109 norte chamado “Evolution Residence”. De lá seguimos para o CCBB, onde um grupo, cantando e tocando, esperava ansiosamente a chegada do então presidente eleito Lula, que estava lá para coordenar o grupo de transição do governo. A caminho da Estrutural, lembramos que tinha um grupo de fanáticos, que não aceitava a derrota de Bolsonaro e que estava em frente ao Quartel General das Forças Armadas manifestando sua insatisfação com o resultado das eleições. Era um grupo grande e lá vimos coisas bem estranhas, como uma faixa escrita “Oh virgem dolorosíssima, vossas lágrimas derrubaram o império infernal”. Passamos pela Estrutural e compramos potes de plástico do tamanho ideal para guardar sopa no freezer. O dia estava muito quente. Em Ceilândia, visitamos vários lugares, incluindo a Feira do Periquito e a Feira da Ceilândia, onde bebemos uma cerveja gelada, comemos carne de sol e, de sobremesa, doce de leite com queijo. De lá seguimos para o Museu do TCU, quando percebemos que não tínhamos mais cigarros e que o comércio mais próximo de lá ficava, provavelmente, na Vila Planalto ou no Pier 21. Saímos então para comprar cigarros”.

 

Trechos da dramaturgia:

“Minha raça é de subvertidos, vertidos por baixo, subsolar. Há inteligência nesta terra. Cães vivem entre ratos, baratas, urubus e outros seres. Tem muita alma procurando por uma matéria pra poder ser. Matéria inquieta. Eu me vestiria de justiça cega, de concreto, e implantaria os olhos de cavalos brancos, imaginários”.

“Brasília foi implantada, enxertada, posta como a marcha de um veículo, nascida mesmo antes de ter alma, e o que povoava seu lugar de inscrição, cruz, era mato, fauna cósmica, flora atemporal, era lobo, pequi, caliandra, a coisa torta, era a carne vívida do cerrado, brasília fora elaborada como uma máquina vítrea, ascéptica, monumental, um ventre frio, de concreto, aço e amplidões, ainda está na iminência de poder vociferar, de falar a língua de suas próprias bestas, está criando seu próprio pedaço de sangue, seus ossos siderais, um sonho está a se tornar orgânico”

“Uma cidade inteira será erguida sobre todo esse verde viçoso, sobre os nossos mortos, sobre os nossos cantos que nunca cessarão de ecoar. Uma cidade assombrosamente clara, solar, sem recantos para cobras, ratos e sombras, uma cidade branca, talhada numa matéria que aqui não há. Marmórea ou vítrea ou cinza. Será obra artificiosa. Inaugurada por um riscado, traço cruzado”

 

Sobre os artistas

Rodrigo Fischer, diretor do Grupo Desvio, é artista multidisciplinar que trabalha a partir da apropriação de poéticas audiovisuais e novas tecnologias para a cena; e pelo agenciamento entre imagens, objetos, sons, luz, corpos e textos para composição de performances polifônicas. Doutor em Processos Composicionais para a Cena pela UnB e CUNY. Pós-doutor em Performance Studies pela Universidade de Nova York e pelo Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da UnB.

Diego Bresani é fotógrafo e diretor de Teatro, graduado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília. Já teve trabalhos publicados em meios de comunicação como New York Times, The Guardian, Paris Match, Revista Cult, Revista GQ, Rolling Stones, entre outras. Estudou retrato em Grande Formato no ICP – International Center of Photography em Nova York. Há anos vem se especializando e fazendo retratos.

Virgílio Neto é artista visual e desenvolve seu trabalho explorando a linguagem do desenho e pintura, abordando temas como paisagem, escrita e memória. Desde 2008 participa constantemente de exposições e projetos em instituições de arte, galerias e espaços independentes. É mestre em Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília – UnB.

Gil Roberto é dramaturgo e ator. Membro do Grupo Desvio – DF, sua pesquisa e prática artística enfatizam a proposição de novas dramaturgias para a cena. Atuou como dramaturgo e ator nos espetáculos “Os Fracassados” e “Prometea, abutres, carcaças e carniças” do Grupo Desvio e como dramaturgo e dramaturgista, respectivamente, nos espetáculos “Carnivalize the Matter: Vibration, Electricity and Molecularity” e “Frank, um deus para o jantar. É doutor junto ao PPG-Artes UnB na linha Cultura e Saberes em Artes.

 

Serviço

A sombra dos outros | Saiu para Comprar um Cigarro e Nunca Mais Voltou

Agendamentos para escolas

Os agendamentos devem ser feitos com Rodrigo Fischer, via mensagem de texto de WhatsApp, no telefone 61 8312-3720. Os horários podem ser combinados diretamente com Fischer.

Instalação imersiva

Plano Piloto

Local: Alfinete Galeria (W2 Sul, quadra 509, Bloco A, Entrada 58)

Dias: 23 e 24/06 (Sex. e Sáb.)

Horário: das 16h às 20h

*Visita guiada para estudantes da Rede Pública do DF às 15h e com interpretação de Libras às 16h no dia 23/06.

Entrada Gratuita

 

Ceilândia

Local: Jovem de Expressão (Praça do Cidadão EQNM 18/20, Ceilândia Norte)

Dias: 27 e 28/06 (Ter. e Qua.)

Horário: das 15h às 19h

*Visita guiada para estudantes da Rede Pública do DF às 15h e com interpretação de libras às 16h no dia 27/06.

Entrada Gratuita

 

Estrutural

Local: CREAS (Área Especial 09 – Setor Central)

Dias: 30/06 e 01/07 (Sex. e Sáb.)

Horário: das 14h às 17h

Visita guiada para estudantes da Rede Pública do DF às 15h e com interpretação de libras às 16h no dia 30/06.

Entrada Gratuita