Especialistas condenam ausência de máscaras em locais fechados

Ao contrário do que apregoa e decreta o governo do Distrito Federal, sem nenhum respaldo científico, os especialistas ouvidos pelo Sinpro condenam a ausência de máscaras em ambientes fechados. As expressões usadas pelos especialistas para qualificar tal decisão variaram de uma formal “decisão precoce” a “completamente errado” e “insanidade”. Para eles, a chave da questão do fim do uso das máscaras está em dois fatores: percentual de imunização da população e capacidade de testagem.

“A pandemia não acabou! São mais de 500 mortos por dia no Brasil! Como liberar máscaras em local fechado nessas condições?”, questiona o médico Nelson Nisembaum, de São Paulo.

 

Sem máscaras só ao ar livre, com poucas pessoas em volta

Os especialistas não veem nenhum problema em não usar máscaras ao ar livre, em locais com poucas pessoas ao redor. “Ao ar livre, em ruas com poucas pessoas, sem aglomeração tá muito OK. Você não pega o vírus em ambientes com densidade de uma pessoa a cada 50 m2 nas ruas”, conta o médico Nelson Nisembaum.  A infectologista do Hospital Brasília Ana Helena Germoglio, em entrevista à página 17 do Correio Braziliense desta sexta-feira (11/03), concorda com o colega: “o mais importante é ser um local aberto com poucas pessoas ao redor; se houver densidade populacional muito grande, também se torna um ambiente de risco”.

 

Ambiente fechado, oficina do vírus

O doutor Nisembaum classificou como “insanidade” a ausência de máscaras em locais fechados ou não ventilados. Ele explica que a imunização da população ainda deixa a desejar: “Cerca de 40 milhões de brasileiros ainda não tomaram vacinas [no DF, a diferença entre o total da população vacinável e quem já completou duas doses ou dose única é de pouco mais de 769 mil brasilienses]. Vai haver uma nova onda de ômicron no Brasil, não é uma questão de se, mas de quando”, avisa. Nisembaum também se preocupa com as doses de reforço [no DF, apenas 975.904 pessoas tomaram a dose de reforço]: “mesmo quem tomou a terceira dose, à medida que o tempo passa a imunidade vai caindo, e a susceptibilidade a novas infecções por Covid aumenta”, explica.

A doutora Germoglio analisa não só a questão vacinal como a estrutura do sistema de saúde local para dar conta das infecções: “Temos que levar em conta alguns fatores, como as quantidades de casos novos, testes disponíveis, casos graves e leitos disponíveis. Se tivermos uma ampla testagem um percentual menor de pacientes positivos para Covid, é possível retirar a máscara – em local aberto”, pondera.

O doutor Nisembaum é entusiasta da vacinação. Ele lembra que o risco de crianças não usarem máscaras numa sala de aula lotada é de toda a população, a começar pelos avós dos estudantes: “no Brasil, temos 10 milhões de idosos que não fizeram a terceira dose. Se todos eles forem contagiados com a ômicron, então cerca de 1% desse total pode vir a óbito – e isso significa mais 100 mil mortos.”

As salas de aula do DF estão superlotadas neste ano letivo de 2022. Há casos de turmas com até 45 alunos. Muitas são mal ventiladas. Neste ano letivo, foram 26 mil novas matrículas e nem uma nova sala de aula. A demanda reprimida por novos professores(as) é de cerca de 5 mil profissionais.

 

Professores têm obrigação legal de usar máscaras

A Secretaria de Educação lembrou ontem à noite que, embora o uso de máscaras tenha sido “flexibilizado”, a lei 6.559 de 23/4/2020 obriga funcionários e servidores a usar máscaras no ambiente de trabalho.

Segundo a reportagem da página 17 do Correio Braziliense de 11/03, nas últimas 24h o DF registrou 470 novos casos de Covid, com cinco mortos. Desde o início da pandemia, o Distrito Federal contabiliza 11.482 mortos, e 686.632 infectados (dos quais 611 mil moradores locais).

Mas será possível um dia abandonarmos as máscaras de vez? “Se não houver nova mutação do vírus, penso que até julho estaremos livres das máscaras em ambiente fechado”, prevê o doutor Nisembaum.

Para a diretora do Sinpro, Rosilene Correa, a decisão do GDF é descabida, ilógica e mal gerida: “Não faz nenhum sentido desobrigar os alunos a usarem a máscara. Prova de que ainda há risco é manter a obrigatoriedade aos professores. Me parece falta de zelo com nossas meninas e meninos”, completa.

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