Entre o medo e a esperança
Por Vital Francisco C. Alves – A crise política instaurada pela recente abertura da Caixa de Pandora e as imagens que desonraram os brasilienses chocando todo o país é uma demonstração de como a coisa pública vem sendo, frequentemente, abocanhada de forma sedenta por interesses particulares em nossa cidade e talvez no resto do Brasil. É notório que a ausência de limites claros entre esfera pública e esfera privada produz uma relação ambígua, tendo, como consequência, o fenômeno da corrupção e o surgimento de vários vícios nocivos à saúde de qualquer sistema político fundamentado em princípios republicanos como o respeito ao bem público, às leis e à liberdade.
Diante disso, a proximidade com as eleições, marcada pela pluralidade de partidos, como pressupõe a democracia; o confronto intenso entre velhas e conhecidas formas de se governar e as possibilidades de novas formas, cada qual com sua singularidade e complexidade de se administrar os recursos públicos; além da estarrecedora e triste constatação, por intermédio de algumas pesquisas que mostram à frente deputados vinculados à base de sustentação do então governador deposto, na corrida a Câmara distrital. Isso nos leva a refletir sobre dois temas pertinentes da filosofia política: o medo e a esperança.
Para pensarmos de maneira condensada acerca de ambos os temas, devemos partir das seguintes indagações: O que nós brasilienses desejamos para Brasília no futuro? O futuro de Brasília nos preocupa de fato ou estamos simplesmente detidos aos nossos interesses particulares? A verdade é que nos últimos anos começamos a colher frutos de governos irresponsáveis: trânsito caótico, caos na saúde, escolas em péssimas condições, professores mal remunerados e uma crescente onda de medo e insegurança que nos assola, independente do tempo e do espaço. Esses são alguns dos muitos problemas de uma jovem senhora de cinquenta anos que, diga-se de passagem, teve sua vida “planejada” desde a fecundação.
Ao diagnosticarmos tais problemas, somos devastados pelo medo de que eles se aprofundem e tornem-se cada vez mais difíceis de serem solucionados como em outras cidades do país, mas também, face ao contexto político, somos abatidos por uma esperança de que soluções criativas e ousadas consigam realmente sair do papel e suscitar transformações verdadeiras em Brasília. Em vista disso, creio que estamos entre a esperança e o medo. Para escolhermos entre este e aquela, cabe a nós brasilienses, nessa reta final, avaliarmos de maneira criteriosa as propostas dos candidatos ao GDF e as dos deputados distritais, obviamente, considerando suas respectivas viabilidades.
Ademais, convém-nos lançar nosso olhar atento para o passado de cada um deles e, enfim, cumprirmos nosso dever de cidadãos, isto é, votar tendo em vista o bem comum, ao invés de obedecer a nossos interesses particulares. (Vital é mestre em ética e filosofia política e professor da SEEDF).