O mundo se despede da psicolinguista Emília Ferreiro
A Educação mundial perdeu, nesse sábado (26/8), uma de suas maiores teóricas. Faleceu, na Cidade do México, a psicolinguista argentina Emília Beatriz María Ferreiro Schavi. Nas descobertas resultantes de suas pesquisas acadêmicas, ela revelou que “a escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal”. Ela é considerada uma das maiores psicólogas e pedagogas da história da educação e uma das principais teóricas do campo da psicopedagogia na América do Sul e no mundo.
A frase supracitada resume um pouco de tudo que ela criou na teoria do construtivismo. O Sinpro lamenta e comunica, com profundo pesar, o falecimento da psicopedagoga, nesse sábado, aos 86 anos. Ela era doutora pela Universidade de Genebra, sob orientação de Jean Piaget – biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX e criador da Teoria Cognitiva (ou teoria piagetiana, sobre a aprendizagem na educação infantil).
Ferreiro deixa um legado enorme para a área de Educação em todo o planeta. Ela deu prosseguimento às pesquisas piagetiana e, com base nisso, fez descobertas fundamentais que deram origem a sua teoria do construtivismo, que é base da educação pública no Brasil e no mundo. Seu pensamento é adotado pela Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF). Um dos exemplos é o Currículo em Movimento.
Ferreiro é uma das teóricas com mais influência sobre a educação brasileira nas últimas décadas do século XX e nas primeiras do século XXI. A psicolinguista era argentina e saiu do país após o golpe de Estado civil-militar nos anos 1970. Sua pesquisa e seus livros causaram grande impacto na educação mundial e, no Brasil, isso ocorreu a partir de meados dos anos 1980 e modificou a concepção que se tinha do processo de alfabetização. No Brasil, o construtivismo começou a ser adotado em São Paulo, nos anos 1980. Depois se expandiu e influenciou até mesmo as normas de Educação do Estado nacional, as quais estão expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Com muitos livros publicados, a obra “Psicogênese da Língua Escrita” é considerada a mais importante. É nessa obra que ela revela os processos de aprendizado das crianças e põe em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. Ferreiro provou, em sua pesquisa, que “ler não é decifrar e escrever não é copiar”. Em síntese, sua pesquisa mostra que as crianças não aprendem do jeito que são ensinadas.
Numa entrevista à revista Nova Escola, em 2008, a educadora Telma Weisz, ex-aluna de Emília Ferreiro, afirmava que “a história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emília Ferreiro”. Nessa mesma matéria, a Nova Escola informa que “tanto as descobertas de Piaget como as de Emília levam à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado e constroem o próprio conhecimento – daí a palavra construtivismo”. Clique no link a seguir e conheça um pouco da teoria construtivista e as ideias de Ferreiro adotadas no Brasil: https://web.archive.org/web/20090330011606/http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/estudiosa-revolucionou-alfabetizacao-423543.shtml
Biografia resumida
Emília Ferreiro nasceu em 5 de maio de 1936 na Argentina. Faleceu, nesse sábado (26/8), na Cidade do México. Doutorou-se na Universidade de Genebra, sob orientação do biólogo Jean Piaget, cujo trabalho de epistemologia genética (uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança) ela deu continuidade, estudando um campo em que o mestre não havia explorado: a escrita.
A partir de 1974, Emília desenvolveu, na Universidade de Buenos Aires, uma série de experimentos com crianças que deu origem às conclusões apresentadas em Psicogênese da Língua Escrita, assinado em parceria com a pedagoga espanhola Ana Teberosky e publicado em 1979. Ela se tornou professora titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México, onde passou a residir após o golpe de Estado civil-militar aplicado contra a Argentina nos anos 1970.
Além da atividade de professora – que exerceu também viajando pelo mundo, incluindo frequentes visitas ao Brasil –, a psicolinguista esteve à frente do site www.chicosyescritores.org, em que estudantes escrevem em parceria com autores consagrados e publicam os próprios textos.
Com informações da revista Nova Escola
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