Festival Cara e Cultura Negra faz resgate da cultura africana e afro-brasileira

De 9 a 23 de setembro, Brasília será palco de um dos principais eventos de valorização das raízes africanas do Brasil: o Festival Cara e Cultura Negra. Ao todo, serão 14 dias em que os saberes dos povos africanos serão expostos e debatidos em diversos formatos, como música, artes visuais, moda, gastronomia e muito mais.

De acordo com a organizadora do festival, Flávia Portela, o intuito do encontro, que chega agora em sua 15° edição, é estimular a reflexão sobre a igualdade racial e a importância da África nos dias atuais. Para ela, existe uma carência de eventos dessa natureza. O Festival também faz parte de um programa de revitalização cultural do centro urbano de Brasília, tendo como principal objetivo reunir produtores culturais da capital e do Brasil para promover o intercâmbio da história e da cultura afro-brasileira. “Os conhecimentos africanos estão impregnados no nosso dia a dia, mas não recebem a devida importância. O festival faz parte de um esforço para superar as barreiras históricas da discriminação e do preconceito, reconhecendo o valor de uma raça que ajudou, com suor e sangue, a construir o Brasil”, explica.

O mote da edição deste ano é : África contemporânea e a influência da diáspora no mundo. “Conhecimentos e habilidades trazidos da África contribuíram na formação de sociedades. Para nós, brasileiros, ainda é difícil pensar e reconhecer a cultura que se formou na diáspora. Desconhecemos e, por consequência, não reconhecemos o que temos de africano na cultura afro-brasileira. Não poderia ser de outra forma. A nossa educação nos levou a pensar em termos europeus. Em geral, mantemos a ilusão de uma nação branca, que não somos e nunca fomos”, explica a organizadora.

Portela concluiu reiterando que ao longo dos últimos anos, o Cara e Cultura tem cumprido o papel de disseminar o tema à sociedade de um modo geral, indo ao encontro dos objetivos traçados pela Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes de ensino públicas e particulares de todo país.

Para a diretora da secretaria Assuntos de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF, Letícia Montandon além de enaltecer a rica cultura deixada pelo povo africano, o evento é uma oportunidade para promover a unidade de luta por meio da formação. “O Brasil possui um vergonhoso passado de um período escravocrata em que milhões de negros e negras foram retirados compulsoriamente do continente africano.  Mesmo em meio a diáspora, foi mantido a cultura e os conhecimentos trazidos que ajudaram a construir nossa nação. Hoje, infelizmente, o país ainda carrega mazelas desse período sombrio. Exemplo disso, muitos negros ocupam os piores cargos de trabalho, os menores salários, têm menos acesso às universidades e muitos outros problemas. Temos o dever de construir um país com mais igualdade para todos independentemente da cor de nossa pele, e essa é uma luta diária que deve ser intensificada, ainda mais diante do período de retrocessos que vivenciamos. Nós, do Sinpro-DF, temos a maior satisfação e compromisso em apoiar e ser parceiro em atividades como essa que promove a cultura africana, traz o protagonismo negro e, acima de tudo, promove formação e conhecimento, tanto para estudantes, quanto para professores. Incentivamos todos e todas a prestigiarem as atividades”, conclamou a sindicalista.

Atividades do festival

Uma entre as diversas atividades realizadas no Cara e Cultura Negra será o Encontro Nacional Pensamento Negro Contemporâneo, que acontece do 18 ao dia  20 de setembro, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul).

A atividade se estabelecerá como um ambiente para debates da comunidade acadêmica. Serão sete mesas e 24 palestrantes com diálogos sobre raça, gênero e cultura, entre outros temas.

Um dos convidados de destaque é Luiz Cuti, escritor, doutor em Literatura e um dos fundadores dos Cadernos Negros, em 1978, um marco na história da produção literária negra no país.

Entre os palestrantes estão outros nomes de grande relevância vindos de dentro e fora do Distrito Federal, como Zezé Motta, Edileuza Penha, Cristiane Sobral, Tatiana Nascimento, Carú Seabra, Wanderson Flor e Nei Lopes.

Para assistir as palestras e participar dos debates do Encontro Nacional Pensamento Negro Contemporâneo, é preciso inscrever-se pelo site do evento clicando AQUI. Haverá certificado para os presentes. Além do Encontro, o festival é formado por shows, oficinas, bate-papos, saraus e exposições. Toda a programação do festival tem entrada franca e classificação indicativa livre.

Para conferir a programação completa do Festival Cara e Cultura Negra clique AQUI.