Em entrevista, educadora Iêda Leal comemora vitórias na luta pela igualdade racial e enfatiza necessidade de união diante dos novos desafios

Quando se fala da luta contra o preconceito e a favor de ações voltadas à promoção da equidade racial no Brasil, o nome da professora Iêda Leal vem à mente pelo histórico que esta mulher tem na história do movimento negro no Brasil. Ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego), coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), secretária de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial e secretária de combate ao racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Iêda aproveita o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha para falar um pouco sobre a história de luta do povo preto e caribenho ao longo dos séculos.

Em entrevista para o Sinpro, a educadora fala um pouco sobre como o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha começou a ser construído; os desafios para a produção de políticas públicas e a importância de uma mulher jovem à frente do Ministério da Igualdade Racial; como sua história como professora e sindicalista se reflete em sua trajetória; o papel da escola no combate às desigualdades; e quais as perspectivas para o futuro.

Confira abaixo a entrevista completa:

 

O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha começou a ser construído num encontro no início dos anos 1990. Qual a atualidade de se celebrar essa data?

O encontro que deu origem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que na sequência a presenta Dilma Rousseff decretou como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, ocorreu em Santo Domingo (República Dominicana), onde estava havendo um encontro de mulheres negras latino-americanas e do Caribe. Depois desta data, a reorganização das mulheres pelo mundo está sendo fantástica do ponto de vista de organização, de visibilidade, de colocar mais mulheres sempre na luta com esta perspectiva da organização internacional da mulher, mas valorizando aqueles aspectos que a gente tem nas nossas cidades. E isto é muito bom: celebrar a vida de mulheres negras.

 

Quais os desafios da produção de políticas públicas e qual a importância de termos uma mulher jovem à frente do Ministério da Igualdade Racial?

As pessoas estão vendo e acompanhando o crescimento e o trabalho do Ministério da Igualdade Racial. Temos à frente do Ministério uma jovem preparada, absolutamente sabedora da importância da história das mulheres negras no país, no mundo todo, tratando de organizar o Brasil para a igualdade racial. A herança que Anielle Franco herdou da capacidade, da força das mulheres da família é muito importante, e os outros trabalhos de muitas outras que ela se espelha. Então, isto é muito importante.

É uma jovem que valoriza, que é determinada por uma política de igualdade racial, pela justiça e por traçar caminhos para que as mulheres possam, de fato, existir no mundo, e o Brasil tem demonstrado esta grande possibilidade com os trabalhos que vem sendo desenvolvidos no mistério através de suas secretarias, diretorias e de pessoas que estão no ministério trabalhando diariamente para a gente concretizar um mundo melhor, concretizar a igualdade racial, saber que os outros estados, as outras prefeituras irão se comportar de forma correta no que se refere ao trabalho de combate ao racismo no Brasil e logicamente no mundo todo.

 

Sua história como professora e como sindicalista é uma grande referência no país. As especificidades da luta das mulheres negras se refletem na sua trajetória?

É a história de uma mulher negra que sempre sonhou em alfabetizar. Me organizei na minha juventude e depois na universidade para aprender como é que eu poderia contribuir com o país. Logicamente tive muitos mestres e professores que me ajudaram nesta reflexão, e ao longo do tempo fui acumulando (este conhecimento) com cada pessoa que passou na minha vida. Consigo aprender além daquela obsessão de ensinar as pessoas a terem aquela ferramenta de traduzir o alfabeto, de ler o mundo. O salto de qualidade para que as pessoas possam pegar para elas a tarefa da leitura do mundo e fazer o que elas quiserem com essa leitura. É muito bom quando a gente vê isso tudo.

O mundo sindical é um mundo cheio de muitas lutas, de muitas batalhas, deixa a gente mais forte para todas as lutas. Sempre agradeço ao sindicato, à CUT, à CNTE, à IE, ao Movimento Negro Unificado, a todas as pessoas que ao longo da minha vida me ajudaram a crescer. Acredito que todos os dias nós crescemos um pouco para ajudar na eliminação do racismo da nossa sociedade.

Não esqueço outras pautas, como as da saúde, educação, moradia, economia, trabalho, renda, valorização profissional, abraçar todos os trabalhadores de todos os locais, fazer com que a gente possa ter condições de ter casa, comida, vacina no braço, conhecer mais a nossa história. Hoje a palavra é gratidão por ter me envolvido com os movimentos mais certos e que me deram asas para voar e para estar realizando muitos sonhos.

 

A escola continua sendo um lugar fundamental de combate às desigualdades?

A escola, a educação são as parceiras principais na luta no combate ao racismo. Os trabalhadores em educação, todos envolvidos em uma grande ciranda de afeto, de possiblidade, de leitura, de organização, de aprender, reaprender a história de todos nós. E a escola é um dos instrumentos ideais para vivermos esta realidade e dar condições para que a sabedoria, o respeito, a vivência de cada um possa fazer a diferença.

 

Embora estejamos falando de um cenário tão desigual e de uma opressão praticada há séculos, a luta da população negra, particularmente das mulheres negras, alcançou vitórias importantes. Quais as perspectivas daqui por diante?

Não temos como negar a participação das mulheres negras na história do mundo, do Brasil, e vamos continuar nos organizando. Em 2015 tivemos a marcha Mulheres Negras Marcham em Brasília, em 2018 as Mil Mulheres em Goiânia e as outras atividades que a gente vem fazendo e realizando.  

Mulheres empreendedoras, mulheres que trabalham, mulheres que são empresárias, mulheres que dominam a arte, a música, a economia, mulheres em todos os locais. Não temos como fechar os olhos para esta realidade. Mulheres negras movem o mundo: uma sobe e puxa a outra.

Nós somos exemplo e queremos dar mais exemplos, mas seguimos os exemplos de Dandara, Luiza Mahin, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Carolina Maria de Jesus e todas as outras mulheres negras que já fizeram muito por esse país. Salve todas as mulheres negras do país.

 

 

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