Em carta, fóruns de EJA pedem aos candidatos prioridade à educação nas eleições de 2022

O Sinpro, a exemplo da comunidade escolar e de diversos órgãos e segmentos ligados à educação, tem lutado contra a onda de retrocessos a que vem sendo submetida a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Importante instrumento de inclusão educacional, a EJA vem sofrendo, do Governo do Distrito Federal (GDF), um desmanche da educação noturna e retroage às salas multisseriadas dos anos 1970, processos que têm destruído o segmento, que é, também, um projeto de inclusão social. Tudo isto tem deixando centenas de estudantes de baixa renda sem o direito à educação pública.

Em ano eleitoral, momento em que a população elegerá os(as) representantes que ocuparão as cadeiras na Câmara dos Deputados, Senado Federal, governos estaduais e da presidência da República, os Fóruns de EJA do Brasil, movimento nacional de educadoras(es), educandas(os), movimentos sociais, ONG ́s e movimentos sindicais que atuam em defesa do direito à educação das pessoas jovens, adultas e idosa, formularam uma carta que está sendo entregue a todos(as) os(as) candidatos(as), ressaltando sobre o cuidado com esta ferramenta educacional e com a educação como um todo.

Confira abaixo a carta na íntegra.

 

CARTA DOS FÓRUNS DE EJA ÀS CANDIDATAS E CANDIDATOS
AO EXECUTIVO E LEGISLATIVOS NAS ELEIÇÕES DE 2022.


Os Fóruns de EJA do Brasil constituem um movimento nacional de educadoras/es,
educandas/os, movimentos sociais, ONG ́s, movimentos sindicais que atuam em defesa do
direito à educação das pessoas jovens, adultas e idosas. Esse movimento se configura como
um coletivo autônomo de independência política, afirmado nos princípios de justiça social e
na defesa da democracia.

Nós, dos Fóruns de Educação de Jovens e adultos (EJA) do Brasil, cientes do momento grave
que vive a nação brasileira, solicitamos às/aos candidatas/os o compromisso na defesa da
Educação de Jovens e Adultos, diante da realidade em que vivem os 11 milhões de pessoas,
acima de 15 anos de idade, que não foram alfabetizadas e quase 70 milhões de jovens, adultas
e idosas que não concluíram a Educação Básica.

Essa realidade não é resultado da falta de esforço ou de interesse da população pela educação;
faz parte do contexto de 33 milhões de pessoas que passam fome, 12 milhões de pessoas
desempregadas, 40 milhões no trabalho informal, outras em várias formas de trabalho escravo.
Enfim, essa realidade é resultado de um sistema capitalista que destrói a natureza, destrói o
trabalho e destrói a classe trabalhadora, especialmente, pessoas pobres, negras, mulheres,
LGBTQIA+, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, povos das águas e florestas, itinerantes, do
campo, excluídas nos diferentes espaços das cidades, pessoas com deficiência e privadas de
liberdade.

Para enfrentarmos essas desigualdades sociais, raciais e educacionais que atingem a classe
trabalhadora no nosso país, apresentamos para as/os candidatas/os a necessidade de
defenderem o que já foi afirmado no artigo 208 da Constituição Federal que observa a
responsabilidade do Estado no tocante à “… educação básica obrigatória e gratuita dos 4
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos
os que a ela não tiveram acesso na idade própria…” (BRASIL, 1988).

Sabendo que a concretização desse propósito passa por cumprir a Lei 9394/96, especialmente,
na prescrição do artigo 37 que elucida:

A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na
idade própria e constituirá instrumento para a educação e a
aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de
2018)

§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características
do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames.

§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência
do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares
entre si.

 
 
§ A educação de jovens e adultos deverá articularse,
preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) (BRASIL, 1996).

Convocamos então, as/os candidatas/os à defesa da EJA, tendo como epicentro das suas ações
políticas o cumprimento das diretrizes do Plano Nacional da Educação (PNE), regulamentado
na lei 13.005/14. Assim, solicitamos o anúncio do compromisso político, com:

1. Criação e ampliação da oferta pública de educação para pessoas trabalhadoras em todas as
redes de educação básica, por meio de Chamada Pública e Busca Ativa da população jovem,
adulta e idosa para acesso, gratuito e de qualidade social na EJA, em locais e horários diversos,
que favoreçam a chegada e presença de todos os sujeitos.

2. Desenvolvimento de múltiplas experiências curriculares, em que o processo de ensino e
aprendizagem contribua para a formação de pessoas livres, conscientes e capazes de participar
da construção de uma sociedade fundada na democracia, na solidariedade, no respeito à
diversidade e na promoção de bens comuns.

3. Lutar pela revogação das reformas: trabalhista e da previdência.

4. Garantir que a autorização, monitoramento e avaliação da EJA não seja pautada por
critérios e vieses aligeirados, mercadológicos e privatistas.

5. Criação de benefício adicional no programa nacional de transferência de renda para
jovens, adultas/os e idosas/as matriculados na EJA.

6. Garantia de 25% do total das matrículas de EJA integradas com a Educação Profissional,
nos preceitos da formação integral.

7. Garantia de concurso público efetivo, nos diferentes territórios e formas de oferta, com
carreira docente e alocação do concursado na EJA. Bem como, por defender a gestão
democrática, com eleição direta da direção escolar, no âmbito das redes municipais e
estaduais.

8. Garantir que o recurso do Fundeb contemple efetivamente as demandas da EJA, necessárias
ao acesso, permanência e conclusão com qualidade da educação básica. Neste sentido, é
urgente a interrupção do processo de fechamento de turmas, turnos e escolas, com a oferta
presencial da modalidade, nos diferentes territórios. Da mesma forma, garantir a isonomia no
financiamento público da EJA, inclusive para as políticas de alimentação escolar.

Reapresentamos a importância da superação de todas as desigualdades sociais, raciais e
educacionais como uma das estratégias para construção de uma sociedade justa, igualitária e
democrática.

Brasil, 12 de setembro de 2022.

Fóruns de EJA do Brasil
 
Clique aqui e confira a carta. 

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