Educação pode combater crueldades como a cometida pelo empresário Cassio Cenali

O empresário bolsonarista Cassio Cenali chocou o Brasil ao veicular pelas redes sociais vídeo humilhando dona Ilza Ramos, uma das mais de 33 milhões de pessoas que passam fome no país. Ao saber que a diarista que mora no interior de São Paulo é eleitora de Lula, Cassio afirmou: “A partir de hoje é a última marmita que vem aqui. A senhora pede para o Lula agora. Está bom? É a última marmita que vem para a senhora”. De imediato, a fala gera indignação, revolta. Entretanto, a ação de Cassio Cenali também reflete problemas estruturais, ancorados, sobretudo, na educação que oprime.

A análise é do coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Alexandre Conceição, organização que garantiu a dona Ilza seis meses cesta básica composta com os produtos saudáveis produzidos pelos próprios trabalhadores. “(Cássio Cenali) É fruto do machismo estrutural, do racismo estrutural, de uma educação que não trabalha a libertação do povo; uma educação bancária, que ensina a ler e escrever apenas para ser mão de obra mais ou menos qualificada”, diz o coordenador do MST.

Para Alexandre Conceição, um Brasil solidário passa necessariamente pelo projeto de educação propagado por Paulo Freire, que compreende que o sujeito aprende para se humanizar. “Quando a gente ocupa o latifúndio, derrubamos a cerca desse latifúndio e identificamos para o Estado brasileiro que aquele latifúndio é improdutivo, a primeira coisa que a gente faz é construir dois grandes barracões. O primeiro barracão é o da cozinha comunitária, para que a gente possa, de forma coletiva, ter o alimento para todos e de forma igualitária. O segundo, é a escola. A escola nasce com a ocupação do MST, pois sem a educação, o povo será sempre escravo”, conta o dirigente do MST, que diz que cada assentamento do Movimento tem um busto do Patrono da Educação Brasileira.

Segundo o coordenador do Sinpro-DF Raimundo Kamir, é justamente a educação libertadora que garante ao MST a solidariedade como uma das principais características. “Por promover a educação que ensina a ler a gramática, mas, sobretudo, ensina a ler o mundo, o MST tem a solidariedade como pilar. É essa educação que vem sendo atacada por Bolsonaro e pelo bolsonarismo, que tenta, a qualquer custo, emplacar projetos como o Escola Sem Partido, a voucherização da educação, o homeschooling. Quantas faixas contra Paulo Freire vimos esticadas nas manifestações pró-Bolsonaro? Quantas vezes o próprio Bolsonaro já gritou contra Paulo Freire? A educação que liberta é definitiva para um Brasil justo e solidário. Quando ela não é garantida como direito ao povo, nascem muitos Cassios para oprimir”, analisa.

Depois de viralizar nas redes sociais por humilhar dona Ilza, Cassio Ramos, produtor de milho na região de Itapeva (SP), foi denunciado por receber mais de R$ 5 mil de auxílio emergencial. Além disso, responde a processos na Justiça.

Solidariedade como princípio
Apresentado como “terrorista” pelo atual governo federal e “radical” pelos meios de comunicação tradicionais, o MST se destacou durante a pandemia da Covid-19 por doar alimentos às pessoas que, diante da ausência de políticas públicas, ficaram sem ter o que comer.

“Desde o início da pandemia, o MST já doou mais de 7 mil toneladas de alimento em todo Brasil. Foram doados também mais de 180 mil livros, para cuidar do intelectual, da saúde mental. Foram entregues mais de 1 milhão de quentinhas em várias capitais, com o apoio da CUT, dos sindicatos, das igrejas”, conta Alexandre Conceição.

O coordenador do MST diz que o Movimento “radicalizou na ajuda ao povo”. “Mostramos que a Reforma Agrária que queremos é aquela que acaba com os latifúndios e que destina as terras aos trabalhadores e trabalhadoras, para que eles possam produzir alimento saudável e ajudar no combate à fome.”

“Apostamos muito nessas eleições, nos candidatos comprometidos com a educação, com o combate à violência no campo; que defendem os direitos das mulheres, a agricultura familiar e saudável, para que, a partir da nossa forma de produzir e de ensinar, a gente possa construir um novo mundo: onde os oprimidos possam ter a vida em liberdade, como Paulo Freire nos ensinou”, completa Alexandre Conceição.

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