EDUCAÇÃO: Ministro pretende modificar livros e recontar história da ditadura

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico que haverá mudanças nos livros didáticos para revisar a maneira como é feito o ensino nas escolas sobre o golpe de Estado que retirou o presidente João Goulart do poder, em 1964, e instalou o regime militar. Para Vélez, não houve ditadura no Brasil.

Segundo ele,  a intenção é dar aos estudantes uma visão mais “ampla e verídica’ desse período.

O anuncio acontece apenas alguns dias após o presidente Jair Bolsonaro orientar as Forças Armadas a comemorar o golpe de 64. O pronunciamento gerou revolta em diversos segmentos da sociedade, protestos pipocaram Brasil afora e várias organizações se uniram para repudiar e denunciar a herança maldita que a ditadura deixou para o Brasil e para o povo brasileiro.

Segundo o Valor, Vélez disse acreditar que a mudança de regime, há 55 anos, não foi um golpe, mas sim, uma “mudança de tipo institucional”. Além disso, teria dito que o período que seguiu a posse do general Castello Branco não seria ditadura. Vélez minimizou o episódio mais sombrio da história do país, conhecido como anos de chumbo, e afirmou que foi apenas um “regime democrático de força”.

A princípio, essas mudanças em livros didáticos seriam “progressivas”, e ocorreriam “na medida em que seja resgatada uma versão mais ampla da história”. Ele ainda teria dito que o papel do Ministério da Educação (MEC) é “regular a distribuição do livro didático e preparar o livro de tal forma que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história”.

A Coluna Painel, da jornalista Daniela Lima, na edição desta quinta-feira (4), da Folha de S.Paulo, publicou uma nota em que afirma que ex-membros da equipe de Ricardo Vélez-Rodriguez no Ministério da Educação classificaram a Revisão da ditadura nos livros didáticos como uma tentativa desesperada do ministro de se manter no cargo.

O que acontece é que há uma disputa interna entre militares que se agravou desde a semana passada e  Vélez vem perdendo prestígio à frente do ministério com a indicação de um militar, o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira, como número 2 da pasta. Em entrevista, o ministro negou que a nomeação seja uma espécie de intervenção branca na pasta e que sua permanência esteja sendo tutelada pelo núcleo militar do governo.

Essa rixa tem colocado em cheque o andamento dos trabalhos do ministério que se quer possui um projeto concreto para a educação pública do país e gerado uma crise institucional.

Vale lembrar que, ao contrário da tentativa do ministro de minimizar o episódio, foram 21 anos de ditadura militar (1964-1985) – um dos capítulos mais violentos da história do Brasil, período em que direitos sociais, trabalhistas, fundamentais, políticos e humanos foram retirados e a liberdade de opinião e de pensamento completamente eliminada.

Assim como foi com a imposição de uma comemoração ao golpe militar, mais esse anúncio infringe a Constituição Federal, materializa um projeto de governo que busca a repetir os tempos sombrios e autoritários.

Esse discurso representa mais um ataque violento e proposital à democracia e, principalmente, à educação. Trata-se de uma apologia e exaltação ao período de maior perseguição política, censura, torturas e assassinatos, e um desrespeito com todos deram suas vidas para que hoje tenhamos liberdade.

Com informações Valor econômico 

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