Educação é instrumento para acabar com a fome

Uma criança de 8 anos da periferia de Manaus levava um pote de sorvete vazio para a escola e pedia para que enchessem com a merenda. Ele queria salvar a família da fome. A história ficou conhecida pelas redes sociais, a partir de publicações de jornais pouco conhecidos.

De imediato, a triste história da criança manauara motiva a reflexão sobre o Brasil da fome. Mas também mostra que a educação é instrumento insubstituível para que todos tenham o que comer. O tema foi tratado no painel “A tragédia da fome – a soberania do Brasil em questão”, realizado nesta sexta-feira, no 12º Congresso de Trabalhadores(as) em Educação. Na atividade, os palestrantes Frei Betto e a deputada distrital Arlete Sampaio mostraram que a educação pode sim interromper a fome de forma imediata, como no caso da criança da periferia de Manaus. Mas também deixaram claro que a educação se apresenta como estrutural no combate à fome.

Frei Betto, que participou do Congresso de forma virtual, lembrou que a educação nutricional é “porta pedagógica que permite entrar no tema da fome”. Segundo ele, a escola deve abordar os benefícios dos alimentos, bem como a ação criminosa do agronegócio, viabilizada como nunca pelo governo federal. “O agronegócio não produz comida para seres humanos, produz para animais”, disse ao afirmar que esse é um modelo de negócios de produção de alimentos voltado ao lucro e não à nutrição. “Escola serve para criar pessoas com consciência, não consumistas”, avalia Frei Betto.

O frade dominicano, que também é jornalista e escritor, lembrou que, atualmente, 33,1 milhões de brasileiros e brasileiras estão em situação crônica de fome e que 61 milhões pessoas no país enfrentam dificuldades para conseguir comida. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Isso em um país “apontado como um dos principais produtores de alimento do mundo”, e que já esteve fora do Mapa da Fome em um passado recente, destaca.

Para Frei Betto, é também através da educação que se esclarece a importância de políticas públicas contra a fome, decisivas para que comida no prato seja permanente. Ele lembra que a estratégia adotada às pressas e de maneira irresponsável pelo governo Bolsonaro por meio do Auxílio Brasil nunca teve como objetivo a sobrevivência do povo, mas sempre foi sobre “a possibilidade de reeleição e sobre a obsessão de salvar a si mesmo e a sua família diante das várias acusações muito sérias”. Prova disso é que a fome visita sistematicamente a casa do povo brasileiro antes mesmo da pandemia, desde 2018, quando o país voltou ao Mapa da Fome. “Os recursos existem para que a fome não predomine em nosso país, o que acontece é que hoje não há disposição política de combater a fome no país”, afirma Frei Betto.

Para a deputada Arlete Sampaio, “a escola é um instrumento fundamental para garantir alimentação para jovens e adolescentes”, seja na oferta da merenda escolar ou na oportunidade de se construir um futuro diferente, com acesso a renda e, consequentemente, a alimentação. Isso, segundo ela, reflete em um país forte e soberano.

“Qual o Brasil que a gente quer? Eu quero um Brasil soberano, que seja respeitado internacionalmente, mas que, sobretudo, cuide do povo brasileiro”, disse a deputada distrital que se despede do cargo público com a trajetória marcada pela defesa da educação pública de qualidade, que seja capaz de destruir todos os monstros sociais, inclusive a fome.

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Em homenagem a parlamentar, a diretora licenciada do Sinpro-DF Rosilene Corrêa, em nome da categoria do magistério público do DF, entregou a Arlete um ramalhete de girassóis. “Falar da Arlete é muito fácil, porque ela é e sempre será uma lutadora pela educação”, disse Rosilene.

12º CTE
O 12º Congresso de Trabalhadores(as) em Educação continua neste sábado (9). Nesta edição, o lema do Congresso é “Um outro Brasil é possível”, e os eixos de debate serão fundamentados nos seguintes temas: conjunturas internacional, nacional e local; defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada; organização e estrutura sindical; e Plano de Lutas para o próximo período.

Saiba mais sobre o 12º CTE em https://bit.ly/39ZjzXl