Educação digital: CNTE e especialistas debatem o tema na Rádio Justiça

 

O presidente da CNTE, Heleno Araújo, participou do programa Revista Justiça Debate, da Rádio Justiça, transmitido na manhã desta segunda-feira (21), para tratar sobre o ensino digital na educação básica do país e os principais desafios para os estudantes e trabalhadores/as da educação.

O debate também contou com as contribuições da especialista em Tecnologia e Gestão Educacional e gerente da Câmara de Educação Básica da Associação Nacional de Educação Católica, Roberta Guedes, e do professor do curso de Psicologia, Aldi Roldão.

A conversa teve como base as recentes decisões do governo de São Paulo em adotar materiais 100% digital nas escolas, abrindo mão do Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), do Ministério da Educação, a partir de 2024. Após receber críticas e uma liminar deferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo contra a saída do estado do programa, a Secretaria de Educação do Estado voltou atrás na medida, afirmando adesão ao PNLD em 2024.

Além disso, a retomada no uso de material impresso pela Suécia, país que nos últimos 15 anos vinha substituindo o uso do papel por materiais digitais em salas de aula, agregou nas discussões a respeito das dificuldades do ensino digital nas escolas do Brasil.

Heleno defendeu que, ao pensar em implementações para o meio digital, é preciso levar em conta a dimensão continental e o cenário vivido em cada parte do país.

Segundo ele, dados levantados pelo relatório do Tribunal de Contas do estado de São Paulo, de novembro de 2022, apontam que, na capital mais rica do país,  87% dos alunos não possuem acesso a um tablet; cerca de 74 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais não conseguiram concluir a educação básica; além disso, 57% das escolas públicas não possuem infraestrutura adequada para garantir o processo de aprendizagem eficiente.

“Como, em menos de um ano após a divulgação desse relatório, decidem abandonar os livros? Com que assistência isso vai ser feito? Se a capital mais rica do país não está tendo as condições para garantir esse processo, como será possível cuidar de todo um estado?”, ele questiona.

 

Dificuldades

Roberta comenta que a pandemia acelerou um processo de educação digital no Brasil, mas, ao mesmo tempo, escancarou um problema muito sério com o acesso da internet vivido por boa parcela da população. 

Para ela, ao digitalizar os materiais de aprendizado deve-se, primeiramente, levar outros fatores em consideração, como os recursos que os professores/as irão utilizar, garantindo a capacitação de vida desses profissionais, com piso salarial devido, além da disponibilização de um ambiente escolar adequado para os estudantes, e os materiais necessários para aprender e ter o acesso à internet. 

Segundo o relatório de monitoramento global da educação da Unesco, “A tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, apesar da tecnologia permitir o acesso aos materiais para alguns estudantes e acelerar alguns resultados de aprendizagem, a digitalização da educação apresenta riscos de beneficiar estudantes que já são privilegiados e marginalizar ainda mais outros, aumentando a desigualdade na aprendizagem. Além disso, o estudo ainda relata a escassez de provas sobre a eficiência dos meios digitais em sala de aula.

“Livro e tablets são importantes, mas o grau de importância de cada um está em como eles serão utilizados pelos professores e alunos. Temos que entender que eles são apenas meios para um processo de aprendizagem”, cita Roberta.

Aldir conta que é preciso entender que as tecnologias tratadas ainda são muito novas e requerem mais pesquisas para termos certezas. “Existem muitas dúvidas e considerações, mas as pesquisas feitas até agora indicam que, apesar da importância e relevância da tecnologia, o letramento e desenvolvimento das funções cognitivas superiores requerem a presencialidade e contato humano, além de meios físicos que permitam o desenvolvimento da concentração e da memória, e muitas das vezes, as telas não contribuem de modo adequado”, disse.

 

Novo PAC

Lançado pelo presidente Lula, em 11 de agosto, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prevê um investimento de cerca de R$1,68 trilhão para a retomada de projetos e novos empreendimentos em diversos setores do Brasil. Desse total, o programa deverá destinar R$6,4 bilhões apenas para impulsionar a conectividade 4G e 5G nas escolas de todos os 26 estados do país e no Distrito Federal. 

Os investimentos visam garantir a qualidade de conexão e velocidade para equipamentos públicos em todos os ambientes da escola. A novidade chegará com uma conexão rápida de Wi-Fi, possibilitando o uso de ferramentas digitais, como jogos e aplicativos didáticos, no dia a dia dentro das salas de aula.

Segundo Heleno, “Fazer o debate sobre educação digital, em um país tão diverso, é algo que necessita muito cuidado e atenção, pois pode provocar mais desigualdade do que existe atualmente”, opinou.

Ele ainda reforça que, antes de pensar em educação digital, primeiro será necessário garantir condições para que o processo aconteça e, de acordo com ele, isso não é algo que fica restrito apenas dentro da sala de aula.

“Temos de conhecer as questões físicas das escolas, as condições didáticas pedagógicas e sua estrutura, além da questão socioeconômica dos estudantes e também dos profissionais da educação”, declarou. 

“Para isso, estamos tentando retomar o processo da política de formação dos profissionais da educação, para que a escola e o aluno de fato aprendam. Acreditamos que, para que o aluno construa o seu senso crítico, essa educação deve iniciar no portão das escolas, pelo porteiro da escola, pela pessoa que cuida da alimentação, que precisam ser profissionalizados”, afirma.

Ouça a entrevista completa acessando o link: https://drive.google.com/file/d/1shv9OPuJ00B54X5ZGK_urtNjl1n0183K/view

 

FONTE: CNTE