EDITORIAL | Governador Ibaneis: duas facadas e uma negligência

Proposta do Sinpro-DF para a segurança nas escolas

 

A prova de que a militarização não resolve o problema da violência está nos fatos. E, em se tratando de escola, outra prova, demonstrada cientificamente em todo o mundo, é que a violência é um problema social que só pode ser resolvido com investimento em políticas públicas com o dinheiro público e a atuação séria do Estado.

Afirmamos isso para mostrar como o Governo do Distrito Federal (GDF) está errado na forma como administra, no mínimo, dois setores importantes da sociedade: a educação e a segurança pública. Nesta semana, estudantes de duas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal foram esfaqueados na frente da unidade escolar.

O governo Ibaneis poderia dizer que o crime ocorrido, na segunda-feira (19), do lado de fora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 407, de Samambaia, uma escola que rejeitou a militarização, era resultado da falta de policiais militares dentro da unidade escolar, como noticiou, ardilosamente, o G1 e outras mídias.

Mas a violência, que, comprovadamente, é um problema social levado de fora para dentro da escola, ou seja, a escola reflete a violência social das ruas e da sociedade, mostrou que o G1 e, principalmente, o governador Ibaneis Rocha (MDB), sempre estiveram errados. Infelizmente, dois dias depois da cena violenta no CEF 407, houve outro esfaqueamento na porta de outra unidade escolar. A diferença é que, dessa vez, na frente de uma escola militarizada desde fevereiro deste ano sob o discurso de que era para conter a violência.

Com mais de 20 policiais militares dentro do Centro Educacional (CED) 07, de Ceilândia, a PM não conseguiu impedir que, nessa quarta-feira (21), um de seus estudantes fosse esfaqueado na frente da escola. Ou seja, na mesma semana, dois estudantes foram esfaqueados na porta de duas escolas públicas. O que faltou? O que não é feito pelo GDF?

A violência corre solta na cidade e, em vez de colocar a Polícia Militar (PM) para atuar no combate ao crime nas ruas, para o que ela foi criada, o GDF mantém o plano negligente e privatista de aquartelar mais de 20 policiais dentro de cada uma das escolas públicas militarizadas. Ora, se o governo Ibaneis não garante segurança pública nem nos arredores de escolas militarizadas, avalia fora delas. Cadê o investimento em segurança pública tão prometida e usada como blefe para se conquistar a vitória na eleição democrática de 2018?

Enquanto o governador fica de dentro do Palácio do Buriti investindo recursos humanos e financeiros públicos na destruição do ensino público com militarização das escolas, com inchaço de funcionários públicos desviados de suas funções dentro de escolas públicas, aquartelamento de PM em unidades escolares, a violência recrudesce na capital do país.

A insegurança tira a paz da cidade e dos pais de filhos e filhas das classes muito menos favorecidas do que as classes ricas. Além de tirar também a paz dos(as) estudantes que precisam andar nas ruas da cidade pelo menos para entrar e sair das escolas, o modelo de gestão de Ibaneis aterroriza eles e elas dentro das escolas militarizadas ao adotar um sistema autoritário, agressivo e fútil de relacionamento humano que não disciplina ninguém, mas devasta a subjetividade de cada um.

Sim. Esses estudantes que precisam da escola pública e gratuita de qualidade são a principal vítima da negligência palaciana. Hoje, o Distrito Federal tem uma nova modalidade de aquartelamento em que a PM se tranca dentro das escolas públicas enquanto, ao redor delas, nas quadras, nas ruas, o crime recrudesce e faz vítimas.

O atual cenário do DF é, portanto, 20 ou mais policiais aquartelados nas escolas públicas, nenhum nas ruas e os crimes comendo solto nos arredores das unidades escolares. As facadas ocorridas na frente do CEF 407, de Samambaia, e CED 07, de Ceilândia, esta última uma escola militarizada, são o retrato do descaso do GDF com a segurança pública e seu uso para outros fins que não o de combater o crime.

O caso do CED 07 desnuda a falta de investimento em educação porque a causa do crime está no tema do bullying, que poderia ser evitado se a escola tivesse mais profissionais de EDUCAÇÃO atuando dentro dela e, fora dela, o Batalhão Escolar combatendo o crime. A mesma coisa pode ser dita da causa do crime ocorrido no CEF 407. Situações distintas que explodem em razão da falta de INVESTIMENTO em EDUCAÇÃO.

Sem proposta adequada para a gestão da cidade, o governo Ibaneis militariza 10 escolas públicas, incluindo aí várias que rejeitaram a intervenção militar em consulta prévia, feita pelo próprio GDF; coloca de 20 a 25 policiais dentro de cada uma; e esvazia as ruas do patrulhamento e do combate ao crime. Olhe pela janela de sua casa e observe a cada hora, ao longo do dia e da semana, você consegue ver sua quadra patrulhada adequadamente?

O Sinpro-DF defende a imediata restauração de uma política de segurança pública séria para o DF, com valorização das carreiras policiais e da educação, e a presença de duplas de policiais do Batalhão Escolar da PM do lado de fora das escolas e das duplas “Cosme e Damião” nas ruas com equipamentos modernos e viaturas novas.

Confira aqui a proposta do Sinpro-DF para a segurança nas escolas e na cidade.

Confira o vídeo gravado no momento da facada, nessa quarta-feira (21), no CED 07, de Ceilândia, uma escola militarizada em fevereiro deste ano, na qual se esperava haver segurança pública.